Ministério da Saúde orienta evitar destilados após casos de intoxicação por metanol

(Foto: Luisa Rany/Poder360)
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez um alerta nesta quinta-feira (2/10) sobre os riscos do consumo de bebidas alcoólicas direcionado, especialmente, para os destilados incolores, como gim e vodca, em que já foi detectada adulteração com metanol — uma substância altamente tóxica e potencialmente letal.
“Na condição de ministro e como médico a recomendação é que evite ingerir produto destilado, sobretudo os incolores, que não tenha absoluta certeza da origem dele. Não estamos falando de um produto essencial na vida das pessoas”, disse Padilha
Padilha explicou que o tratamento mais eficaz contra a intoxicação por metanol é o uso de etanol farmacêutico, que compete com a substância tóxica no metabolismo e pode evitar mortes ou sequelas graves, como insuficiência renal e neurológica. Entretanto, ele reforçou que o etanol não deve ser comprado em farmácias de manipulação ou usado de forma caseira, mas somente administrado sob supervisão médica em ambiente hospitalar.
Outra medida em análise é o uso do fomepizol, considerado um antídoto raro e classificado como “medicamento órfão”. O governo solicitou à Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) a doação imediata de 100 tratamentos e já manifestou interesse na compra de outras 1.000 unidades por meio da linha de crédito do fundo estratégico da organização.
Segundo o ministro, negociações foram abertas com empresas da Índia, Portugal e Estados Unidos para garantir a compra emergencial e até possíveis doações do medicamento, que não é comercializado no Brasil.
Estoque estratégico e ações do governo
O governo anunciou parceria com a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) para estruturar um estoque estratégico em hospitais universitários federais e unidades do SUS. Já estão previstas 4.300 ampolas de etanol farmacêutico e a compra emergencial de mais de 5.000 tratamentos adicionais. Cada tratamento pode demandar cerca de 30 ampolas, de acordo com informações do Ministério da Saúde.
Padilha ressaltou ainda que a pasta segue em articulação com secretarias estaduais e municipais para reforçar o monitoramento e a prevenção de novos casos de intoxicação.
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Crescimento de casos no Brasil
Historicamente, os registros de intoxicação por metanol no país eram baixos, com média de 20 casos anuais. No entanto, desde agosto de 2025, uma onda de ocorrências ligadas ao consumo de bebidas adulteradas elevou a preocupação das autoridades de saúde. Produtos como gim, vodca e uísque falsificados têm sido apontados como principais responsáveis pelos episódios recentes.
O que é o metanol
O metanol, também conhecido como álcool metílico (CH₃OH), é um líquido incolor, volátil, inflamável e de odor semelhante ao do álcool comum. No passado, ficou conhecido como “álcool da madeira”, pois era obtido da destilação de toras. Atualmente, sua produção em escala industrial ocorre, principalmente, a partir do gás natural.
Essa substância é utilizada como matéria-prima para a fabricação de formaldeído, ácido acético, resinas, solventes e tintas. Também compõe produtos como anticongelantes, limpa-vidros e removedores de tinta. No Brasil, um dos principais usos é na produção de biodiesel.
Dosagem letal e riscos graves
Segundo o Conselho Federal de Química (CFQ), a ingestão de pequenas quantidades de metanol já representa risco à vida. Apenas 4 a 10 ml podem provocar sequelas irreversíveis, como a cegueira. Uma dose de 30 ml de metanol puro é considerada letal.
O perigo está, sobretudo, nos efeitos tardios. O organismo metaboliza o metanol em formaldeído e ácido fórmico, sendo este último o responsável por causar acidose metabólica, um grave desequilíbrio do PH sanguíneo. Entre os principais sintomas estão:
- respiração acelerada;
- aumento da frequência cardíaca;
- dor abdominal persistente;
- danos à visão, que podem evoluir para cegueira irreversível.
Diagnóstico e tratamento médico
De acordo com a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (Abno), o diagnóstico deve ser feito com base na história clínica do paciente e confirmado por exames de sangue e de imagem. Em caso de suspeita de ingestão ou contato com metanol, a orientação é procurar imediatamente atendimento médico e não induzir o vômito.
O tratamento inclui o uso de medicamentos intravenosos como o fomepizol ou o etanol, ambos capazes de impedir que o metanol seja convertido em ácido fórmico. Além disso, o paciente pode ser submetido a lavagem gástrica e até à hemodiálise.
