A empresa de tecnologia Nvidia, gigante e referência na fabricação de chips para inteligência artificial (IA) e em placas de vídeo para computadores, registrou uma queda histórica no mercado financeiro nesta segunda-feira (27/1).
A desvalorização ocorreu após o lançamento do DeepSeek-V3, um chatbot de baixo custo desenvolvido por uma empresa chinesa de IA, que despertou preocupações sobre a competitividade das empresas americanas no setor.
O que é a Nvidia e por que ela é importante?
Fundada em 1993 por Jensen Huang, a Nvidia é líder na fabricação de GPUs (Unidades de Processamento Gráfico), essenciais para o treinamento de modelos de IA, como o ChatGPT. Com sede no Vale do Silício, a multinacional atende gigantes como Microsoft, Google, Amazon, Meta e Spotify.
O diferencial da Nvidia está na alta capacidade de seus chips, que realizam cálculos simultâneos em grande escala, um recurso indispensável para o desenvolvimento de IA generativa, segmento impulsionado pelo sucesso do ChatGPT.
Nos últimos anos, a Nvidia ganhou destaque como peça-chave na corrida pela supremacia tecnológica, sobretudo em meio ao boom da IA generativa. Seus chips, como os modelos H100 e H200, estão no centro do treinamento de modelos de ponta, mas são proibidos de serem exportados para a China devido às restrições impostas pelos EUA.
DeepSeek-V3
O DeepSeek-V3, lançado pela startup chinesa DeepSeek, é uma IA generativa capaz de competir com modelos líderes do mercado, como o ChatGPT. Desenvolvido com apenas 2.000 chips especializados da Nvidia, contra os 16.000 normalmente usados para modelos similares, o DeepSeek-V3 demonstrou ser mais acessível e eficiente.
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De acordo com o New York Times, o custo do treinamento do modelo chinês foi inferior a US$ 6 milhões, significativamente abaixo do orçamento de outras iniciativas do setor. Isso chamou a atenção de investidores, que passaram a questionar a sustentabilidade de gastos elevados por empresas americanas de IA.
“Sem acesso aos chips mais poderosos da Nvidia, a DeepSeek otimizou seus processos com software, criando um modelo mais eficiente. Esse avanço tem sido o destaque no mercado”, explica Diogo Cortiz, professor da PUC-SP e especialista em IA.
Com o lançamento do DeepSeek, a Nvidia perdeu cerca de US$ 589 bilhões (R$ 3,5 trilhões) em valor de mercado, uma das maiores desvalorizações da história da empresa. A notícia também afetou outras big techs e reduziu fortunas de grandes magnatas da tecnologia.
As principais perdas de segunda-feira, segundo o ranking de bilionários da Forbes:
- Larry Ellison (Oracle): US$ 27,6 bilhões (R$ 163 bilhões)
- Jensen Huang (Nvidia): US$ 20,8 bilhões (R$ 123 bilhões)
- Michael Dell (Dell): US$ 12,5 bilhões (R$ 74 bilhões)
- Larry Page (Alphabet/Google): US$ 6,4 bilhões (R$ 37,9 bilhões)
- Sergey Brin (Alphabet/Google): US$ 6 bilhões (R$ 35,5 bilhões)
- Elon Musk (Tesla e xAI): US$ 5,3 bilhões (R$ 31 bilhões)
Sam Stovall, da consultoria financeira CFRA, destacou que “os investidores estão preocupados com a possibilidade de empresas americanas especializadas em IA perderem influência para competidores chineses”.
Respostas ao mercado
A Nvidia minimizou as preocupações, classificando o avanço da DeepSeek como um “excelente desenvolvimento em IA” e reafirmando que a startup chinesa operou dentro dos limites das restrições de exportação americanas.
Sam Altman, CEO da OpenAI, também reconheceu a importância do novo modelo chinês. “O DeepSeek é impressionante, principalmente considerando o que eles conseguem entregar pelo preço”, afirmou Altman.
O caso expõe a tensão geopolítica entre Estados Unidos e China no setor tecnológico. A proibição de exportação dos chips H100 e H200 faz parte da estratégia americana para conter o avanço tecnológico chinês. Contudo, a capacidade da DeepSeek de contornar essa barreira por meio de software reforça o protagonismo da China na área de IA e levanta questões sobre o domínio das big techs americanas.
A disputa entre as potências tecnológicas promete remodelar o setor de inteligência artificial, com efeitos significativos para investidores, consumidores e o equilíbrio econômico global.