O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, criticou, nesta sexta-feira (08/03), o que chamou de “manipulação política” da religião para captação de votos e desgaste de adversários. Segundo o ministro, a fé deve ocupar um espaço na vida privada das pessoas, e não caminhar para um “uso abusivo” do tema por lideranças públicas.
“Precisamos combater a captura da religião para servir a causas políticas temporais e não espirituais, a instrumentalização de líderes religiosos para captar votos e dizer ‘o meu adversário é o demônio, quem votar nele não vai para o céu’, é uma forma bárbara, anti-cristã, de lidar com a religião”, disse o ministro durante aula magna na PUC-Rio (Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro).
Em seu discurso, Barroso relembrou os ataques à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Disse que ficou surpreso ao ouvir relatos sobre pessoas que, depois de quebrar e invadir os prédios públicos, se ajoelhavam para rezar.
“Fiquei imaginando que estranha mistura seria essa da religião com ódio, porque a religião verdadeira é o oposto do ódio, da violência. É a capacidade de lidar com o outro, mesmo quando ele tiver um comportamento absurdo, para compreendê-lo e convertê-lo”, afirmou.
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O evento que o ministro participou teve como tema “Revolução tecnológica, recessão democrática e mudança climática: o mundo em que estamos vivendo”. Falou sobre os perigos do deepfake para a liberdade de expressão, a força da extrema-direita em todo o mundo e os movimentos para fortalecer as instituições democráticas do país.
Durante a sua fala, também mencionou os desdobramentos da operação Tempus Veritatis, conduzida pela Polícia Federal. A ação investiga a criação de um gabinete do ódio dentro do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), responsável pela propagação de fake news sobre adversários da gestão, e o planejamento de um suposto golpe de Estado.
“Quem acompanha as investigações que estão em curso confirmou o que já se sabia: que houve um gabinete do ódio, com líderes pedindo para que se disseminasse desinformação e acusações contra os seus colegas, porque não pensavam igual, não aderiram ao golpe […] Nenhuma causa que precise de desinformação é uma boa causa. Quem defende uma boa causa deve colocar seus argumentos na mesa”, declarou o ministro.