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Homem recebe fígado com câncer em transplante, e desenvolve metástase

Ministério da Saúde se pronunciou sobre caso de Geraldo Vaz Junior, que desenvolveu câncer após transplante
16/10/25 às 09:54h
Homem recebe fígado com câncer em transplante, e desenvolve metástase

Geraldo Vaz Junior, que recebeu órgão e desenvolveu câncer (Foto: Material cedido ao Metrópoles).

O paulista Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, e sua esposa, Márcia Helena Vaz, estão em campanha nas redes sociais e nas ruas desde o ano passado, em busca de respostas para um problema médico que acometeu o senhor: ele recebeu, em março de 2023, um fígado transplantado com câncer. Meses depois da cirurgia, Junior descobriu que estava com adenocarcinoma — um tumor maligno — no órgão recebido.

Agora, um exame recente constatou metástase do mesmo tipo de câncer no pulmão do paciente.

À imprensa, Márcia disse:

“Não cabe, nesse caso, um silêncio institucional. Por favor, não cabe. Não cabe porque isso dá margem para que o erro continue acontecendo. O silêncio produz isso. Uma margem para que o erro continue acontecendo”.


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Entenda o caso

A saúde de Junior começou a se deteriorar em 2010, quando ele foi diagnosticado com cirrose hepática por vírus C, mais conhecida como hepatite C. A doença grave o colocou na fila do transplante.

Em 8 de julho de 2023, ele finalmente foi submetido a um transplante de fígado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, como paciente do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional (Proadi) do Sistema Único de Saúde (SUS).

Sete meses depois, Júnior apresentou sintomas de alterações hepáticas e foi submetido a uma ressonância magnética, que apontou a presença de seis nódulos no fígado transplantado. Após biópsia, foi constatado que o achado se tratava de um adenocarcinoma – um dos tipos de câncer mais comuns em adultos, que pode se desenvolver no trato gastrointestinal, nos pulmões, no sistema reprodutor e em outros órgãos.

Um exame de DNA, feito em março de 2024, comparou o material genético do paciente com a biópsia dos nódulos cancerígenos. O resultado apontou que as células cancerosas não possuíam o mesmo código genético do paciente; portanto, o tumor teve origem no órgão transplantado.

A médica especialista em medicina legal e perícia Caroline Daitx analisou os exames de Geraldo e disse:

“Cada pessoa tem uma ‘impressão digital genética’ única. Esse exame comparou o DNA das células do câncer com o DNA do Geraldo e com o DNA da pessoa doadora do fígado. O resultado foi conclusivo: as células do tumor têm o DNA do doador, não do paciente”.

Com os resultados, em maio de 2024 Geraldo Junior passou por um retransplante de fígado “por adenocarcinoma advinda do doador”, como aponta documento da alta médica.

No início de agosto de 2024, um novo susto: foi detectada metástase no pulmão do paciente. A conclusão diagnóstica indicou adenocarcinoma invasivo com as mesmas características das células cancerígenas do fígado transplantado.

A doutora Caroline explica:

“Isso sugere que a doadora já tinha um câncer que não foi detectado antes da doação, e pequenas células desse tumor estavam presentes no fígado transplantado”.

Segundo a médica e perita, estudos internacionais indicam que casos de transmissão de câncer em doação de órgão são extremamente raros, com incidência inferior a 0,03%. Mesmo assim, segundo os especialistas, “fatalidades” como esta podem acontecer.

Ministério da Saúde se pronuncia

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que antes da doação, não foram identificados ou apresentados indícios de qualquer problema de saúde nos exames realizados no doador, incluindo inspeção dos órgãos e abdômen, análise do histórico médico e entrevista com a família. Segundo a pasta, todas as normas e parâmetros internacionais foram cumpridos.

O ministério determinou o acompanhamento de saúde do paciente e informou que está monitorando o caso junto à Central Estadual de Transplantes e ao hospital responsável pelo atendimento.

Já a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP) afirmou que os transplantes de órgãos e tecidos seguem protocolos rigorosos e critérios técnicos definidos pelo Ministério da Saúde por meio do SNT (Sistema Nacional de Transplantes). “Os órgãos e tecidos doados devem ser submetidos a exames clínicos e laboratoriais rigorosos, minimizando os riscos de transmissão de doenças entre doador e receptor”, disse a pasta, em nota.

Tratamento contra o câncer

Exames complementares mostraram que Junior está em metástase sem previsão de cura. Como tratamento, ele deve passar por sessões de quimioterapia, o que considera uma “sentença”. Ele, que antes trabalhava como técnico de eletrodomésticos, não tem mais condições de trabalhar.

Márcia, finalmente, disse à imprensa:

“Ele tem que fazer [quimioterapia] pro resto da vida dele, porque sempre essa doença vai ter que estar controlada. No melhor do prognóstico, que ela continue controlada enquanto ele viver.

Primeiro, a gente precisa saber onde ocorreu o erro. E se o erro aconteceu, quem o cometeu. Para depois, a partir dali, partir para um pedido de mudança com urgência acerca do processo. Hoje é o Geraldo, amanhã pode ser o Antônio, depois, o José”.

*Com informações de Metrópoles