Bastidores: Causa animal se fortalece como nicho para busca de votos nas eleições do próximo ano

Cachorros e gatos não votam, mas os donos têm títulos de eleitor valorizado pelos políticos com mandato e os candidatos a político que veem neste segmento um importante “curral de votos” a serem conquistados nas eleições do próximo ano.

A busca por votos em nichos específicos da sociedade não é uma novidade no Amazonas, onde tivemos políticos que apostaram em carreiras profissionais; como o Professor Gilberto Mestrinho, três vezes governador e senador, sempre com o apoio da classe dos professores.

Militares estiveram na moda nos anos 1990 e voltaram a ter essa força nos últimos anos, com uma diferença: antes a opção do nicho era por oficiais do topo da carreira, como os coronéis, mas agora soldados, sargentos e capitães é que estão em alta.

Até garotas do que hoje é conhecido como “job” já formaram um nicho para políticos do Amazonas, caso da ex-vereadora Otalina Aleixo, famosa por abrigar os filhos dela e promover mutirões de saúde sexual.

O nicho dos pets ganhou tração nos últimos anos com a eleição da hoje secretária de Estado da Proteção Animal, Joana Darc (União Brasil). Ela fundou em 2011 a ONG Pata (Proteção, adoção e tratamento animal) e cinco anos depois se elegeu vereadora em Manaus com 3.261 votos.

Joana nem aqueceu direito a cadeira de vereadora em Manaus quando nas eleições de 2018 foi eleita deputada estadual com 26.816 mil votos. Essa votação quase quadruplicou em 2022, quando ela conquistou a reeleição (87.182 votos) como a segunda mais votada no Estado, ficando atrás apenas do presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, Roberto Cidade (União Brasil), que obteve 101 mil votos.

Na Casa em que Joana começou, hoje temos dois vereadores dedicados à causa animal e poderemos ter um terceiro em breve. Eventualmente um quarto vereador pode estar ingressando nesse nicho, o que faria dessa bancada a segunda maior da casa.

Os dois vereadores oficialmente dedicados à causa animal são Aldenor Lima (União Brasil), que é veterinário e esposo de Joana Darc. Nas eleições de 2024 ele se consolidou como o quarto vereador mais votado do partido, com 9.744 votos.

Kennedy Marques (MDB) seguiu o mesmo modelo de Joana ao fundar em 2015 uma Ong, a Associação de Ativistas de Proteção Animal – Anjos de Rua, que já castrou mais de 150 mil animais em Manaus.

Eleito vereador em 2020 com a sexta maior votação entre os 41  vereadores eleitos, ele triplicou o número de votos em 2024 ao receber 14.548 votos, ocupando a 5ª posição entre todos os mais votados.

Segundo suplente do União Brasil, Amauri Gomes está em vias de voltar a assumir o mandato na Câmara Municipal de Manaus. Ele também é dedicado à causa, sendo seu nome de urna Amauri Protetor. Ele deve reassumir mandato quando a vereadora Professora Jaqueline (União Brasil) retornar para a Aleam, na vaga de Joana Darc.

Com isso, a CMM chamará o primeiro suplente, o atual secretário de Estado da Cultura, Caio André, que sinaliza novamente a opção pelo posto estadual e assim abre o espaço para a volta de Amauri.

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Mais políticos enveredam pela causa animal

Um novo grupo passou mais recentemente a investir na causa animal como forma de prestar serviços e garantir a simpatia do eleitorado. Trata-se da chamada bancada da bala, formada pelo deputado federal Capitão Alberto Neto, deputado estadual Delegado Péricles, e o quarto vereador interessado no tema, o Coronel Rosses, todos do PL.

Péricles lidera esse movimento promovendo a Vets em Ação, evento que leva atendimento médico veterinário a bairros de Manaus e que começou a ir para o interior há duas semanas, quando aconteceu uma edição no município de Urucará, município da região do baixo Amazonas.

Durante a ação foram vistos acarinhando os pets Alberto Neto, que é pré-candidato ao Senado em 2026, e Rosses, que disputará vaga na Câmara federal.

País que ama animais e o fim do “especifismo” explicam o fenômeno

O cientista político Helso do Carmo Ribeiro avalia que os políticos que atuam nesse nicho perceberam a força que ele tem para mobilizar votos em torno da causa e cita como exemplo o número de pet shops em Manaus para mostrar a evolução desse movimento.

“Se você pegar o número de pet shop que tínhamos em Manaus há 20 anos e comparar com os que temos hoje, você vai ver que houve um crescimento exponencial. Da mesma forma, o Brasil é um dos cinco países do mundo onde mais se cria cachorros para companhia”, citou.

Helso também afirma que há uma questão filosófica que fortalece o nicho dos criadores de pets e que foi muito bem captado pelos políticos dedicados a essa causa.

“É o fim do especifismo, movimento que colocava o homem como a espécie principal, mas que hoje está em baixa. Eu, por exemplo, só vou a um supermercado onde possa levar meu cachorro. Também dou preferência aos restaurante em que possa levá-lo. Os políticos captaram esse movimento”, analisa.