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ONU: educação é investimento mais importante que se pode fazer

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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu nesta segunda-feira, 19, aos governos de todo o mundo que aumentem o financiamento à educação, acrescentando que esse é o “investimento mais importante que qualquer país pode fazer”.

Guterres discursou no último dia da Cúpula sobre a Transformação da Educação, um dos principais eventos da 77ª sessão da Assembleia Geral da ONU. Ele destacou a educação como “transformadora de vidas, economias e sociedades”, e lembrou que o setor precisa de transformação, por estar em “profunda crise”.

O secretário alertou que cerca de 70% das crianças de 10 anos em países pobres são incapazes de ler um texto básico, explicando que também as nações desenvolvidas padecem de problemas, onde os “sistemas educacionais geralmente consolidam, em vez de reduzir, as desigualdades, reproduzindo-as por meio das gerações”.

“Os ricos têm acesso aos melhores recursos, escolas e universidades, levando aos melhores empregos, enquanto os pobres — especialmente as meninas — enfrentam enormes obstáculos para obter as qualificações que podem mudar a sua vida. Pessoas deslocadas e estudantes com deficiências enfrentam os maiores obstáculos de todos”, afirmou, acrescentando que a pandemia de covid-19 teve “impacto devastador na aprendizagem em todo o mundo”.

Lançando duras críticas aos sistemas educacionais que estimulam a aprendizagem mecanizada e a competição por notas, o líder da ONU observou que, frequentemente, os “currículos escolares estão desatualizados”, os “sistemas educativos dão pouca importância à aprendizagem ao longo da vida”, os “professores são mal treinados, subvalorizados e mal pagos”, a “exclusão digital penaliza os alunos pobres” e a “lacuna de financiamento da educação é maior do que nunca”.

“Não vamos acabar com essa crise simplesmente fazendo mais do mesmo, mais rápido ou melhor. Agora é a hora de transformar os sistemas educacionais”, afirmou.

Nesse sentido, e para passar “da visão à realidade”, o ex-primeiro-ministro português apresentou cinco passos, com os quais espera que os líderes presentes à cúpula se comprometam.

Em primeiro lugar, e em mensagem direta ao Afeganistão – onde os talibãs proibiram escolas secundárias para jovens -, Guterres pediu que seja protegido o direito à educação de qualidade para todos, especialmente para as meninas.

“As escolas devem ser abertas a todos, sem discriminação. A partir dessa plataforma, apelo às autoridades do Afeganistão: levantem imediatamente todas as restriçõesde acesso das meninas ao ensino secundário. A educação das meninas está entre os passos mais importantes para proporcionar paz, segurança e desenvolvimento sustentável em todos os lugares”.

O segundo passo foi dedicado aos professores, que Guterres classificou como “força vital dos sistemas educacionais”, defendendo um novo foco para as suas funções e habilitações.

“Também precisamos enfrentar a escassez global de professores e procurar aumentar a qualidade, elevando o seu estatuto e garantindo que tenham condições de trabalho decentes e oportunidades de treino e aprendizagem contínuos”, disse.

Em terceiro lugar, o líder das Nações Unidas reforçou que as escolas devem tornar-se espaços seguros e saudáveis, sem lugar para violência, estigma ou intimidação, e que os sistemas educacionais devem promover a saúde física e mental de todos os alunos — incluindo a saúde sexual e reprodutiva.

Uma revolução digital acessível a todos os alunos foi o quarto ponto indicado por Guterres, pedindo aos países que melhorem a conectividade para estudantes e instituições de ensino.

Encorajou ainda governos e professores a trabalhar com parceiros do setor privado em conteúdos de educação digital de alta qualidade.

Por último, António Guterres pediu compromisso por maior orçamento para a educação, lembrando que nenhum dos pontos anteriores será alcançado sem aumento no financiamento da educação e na solidariedade global.

“Durante esses tempos difíceis, apelo a todos os países para que protejam os orçamentos da educação e garantam que os gastos se traduzam em aumentos progressivos de recursos por aluno e melhores resultados de aprendizagem. O financiamento da educação deve ser prioridade dos governos. É o investimento mais importante que qualquer país pode fazer no seu povo e no seu futuro”, defendeu.

O secretário pediu ainda às instituições financeiras internacionais que disponibilizem recursos e espaço orçamentário para os países em desenvolvimento investirem nesse setor. Pediu que os parceiros do desenvolvimento revertam os cortes e a dediquem à educação pelo menos 15% da assistência oficial”.

Guterres incentivou as instituições financeiras internacionais a recorrer ao Fundo de Financiamento Internacional para a Educação, “uma nova ferramenta que visa mobilizar US$ 10 bilhões para ajudar 700 milhões de crianças em países pobres a ter acesso à educação de qualidade.

“Vamos garantir que os alunos de hoje e as gerações futuras possam ter acesso à educação de que precisam para criar um mundo mais sustentável, inclusivo, justo e pacífico para todos”.

A Cúpula sobre a Transformação da Educação, que teve início sexta-feira (16), reuniu em Nova York jovens, professores, sociedade civil e outras organizações, de forma a apoiar a transformação da educação em todo o mundo, assim como membros de governos, de quem se espera uma série de declarações de compromisso.

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