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Setembro Amarelo: Entenda sobre ‘burnout’, ‘quiet quitting’ e como podem afetar a saúde mental nas empresas

Em tempos pós pandemia de Covid-19, saúde mental nas empresas passou a ser pauta cada vez mais discutida.
Setembro Amarelo: Entenda sobre ‘burnout’, ‘quiet quitting’ e como podem afetar a saúde mental nas empresas

Foto: Reprodução.

No mês do Setembro Amarelo, cada vez mais se torna importante discutir o tema da saúde mental dentro das empresas e no mercado de trabalho. Dados da Organização Mundial da Saúde de 2022, logo no contexto pós-pandemia, apontavam que 15% dos trabalhadores adultos em todo o mundo sofriam de algum tipo de transtorno mental. A OMS também registrou um aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo após a pandemia, segundo este resumo científico.

O principal e mais comum desses transtornos é o chamado burnout, ou síndrome do esgotamento profissional. É um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão e estresse crônicos provocados por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho e costuma atingir profissionais que atuam diariamente sob pressão e com grandes responsabilidades.

Os sintomas do burnout incluem nervosismo, sofrimentos psicológicos excessivos e problemas físicos, como dor de barriga, cansaço demasiado e tonturas.

Além disso, o profissional deve ficar atento aos seguintes sinais:

  • Sentimentos de fracasso e insegurança
  • Mudanças bruscas de humor
  • Irritabilidade
  • Dificuldade de concentração
  • Fadiga
  • Lapsos de memória
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Pessimismo
  • Baixa autoestima
  • Agressividade.

Além disso, tem se observado nas empresas e organizações a recente tendência do “quiet quitting”, ou demissão silenciosa, numa tradução para o português. É um fenômeno do contexto pós-pandemia e observado principalmente entre os trabalhadores jovens, da geração Z.

Nesse contexto, o funcionário que se sente desvalorizado dentro da empresa passa a fazer apenas o necessário para sua função, e ao invés de pedir demissão, limita-se às suas tarefas dentro da descrição do cargo, eliminando a ideia de fazer qualquer coisa além do que se espera dele.

Ainda mais, no contexto pós-Covid 19, o trabalhador passa a dar mais prioridade para outros aspectos da vida, estabelecendo de forma clara os limites entre o trabalho e a vida pessoal para evitar sobrecarga e problemas provenientes dos excessos. Segundo os adeptos da tendência, não existe a ideia de “viver para trabalhar”, mas sim trabalhar o que é preciso para conseguir viver a vida.


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E no Amazonas?

A psicóloga amazonense e Doutora em Psicologia Social pela PUC-SP, Priscila Moreira Santana, comentou sobre a questão para a Onda Digital. A tese de Doutorado dela é intitulada “A saúde do trabalhador e o sentido do trabalho: Pesquisa com motoristas de ônibus afastados do trabalho na cidade de Manaus-AM”.

Segundo a doutora, já existem vários estudos sobre saúde mental e burnout com trabalhadores amazonenses. Sua pesquisa foi focada nos trabalhadores do transporte coletivo, mas os problemas são observados em outras empresas e esferas do trabalho também.

Priscila afirma:

“O ‘quiet quitting’ é um movimento novo que quer estabelecer os limites entre o que é trabalho e o que é vida pessoal. A questão é a seguinte: Na lógica capitalista, qual o limite que eu posso dar enquanto trabalhador, para a minha saúde mental? Em muitos casos, a pessoa só tem um caminho, que é pedir demissão. Muitos acabam indo na direção do empreendedorismo, ou da fantasia de ser empreendedor.

O trabalho é como um mundo paralelo dentro do meio social. Porque no momento em que adentro os espaços do mundo do trabalho, preciso me adaptar a ele e às suas regras. Dependendo de como é esse ambiente e das suas relações, a pessoa pode adoecer ou não. E a sobrecarga do trabalho não é só física, mas também mental”.

Ela continua:

“Se você diz assim, ‘vou tirar 30 dias de férias’, muitas vezes já te olham estranho. ‘Como assim, você vai parar 30 dias?’. Porque a lógica é trabalho de manhã, tarde e noite, e lazer para quê? Aqui em Manaus temos o Laboratório de Psicologia de Trabalho e Saúde (LAPSIC), que vem desde 2009 pesquisando a saúde do trabalhador no Amazonas, e já temos muitas dissertações de mestrado sobre o tema.

Minha tese foi um trabalho feito entre parceria da Ufam com a PUC-SP e abordou trabalhadores adoecidos do transporte coletivo. Cada vez mais chegam ao INSS trabalhadores adoecidos que não conseguem mais retornar ao trabalho, seja por problemas físicos ou mentais. Eles ficam até incapazes de gerir suas próprias vidas, passam a depender de outros ou da previdência social, e isso tem grande impacto no meio social. Essa realidade não se nota apenas no Amazonas, mas no Brasil como um todo. É preciso uma intervenção severa enquanto política pública. Até onde nós vamos chegar?”.

Ela também fala sobre medidas práticas para prevenir esses problemas de saúde:

“São 2 desafios: É preciso que o RH das empresas trabalhe para o trabalhador, e que não pense só no benefício da empresa; e trabalhar junto às pessoas e ao universo do pequeno empreendedor. Ainda precisamos de mais pesquisas para compreender isso, mas hoje em dia é fato: Muita gente está fugindo das condições de trabalho dentro das organizações, para constituir seu próprio trabalho. Hoje as pessoas estão preferindo ser motoboy, ou vendedor de cachorro-quente, do que ser trabalhador dentro das organizações”.

*Com informações de CNN Brasil