Pouco conhecida do grande público, a Síndrome de Pica, também chamada de alotriofagia, é um transtorno alimentar caracterizado pelo consumo compulsivo de substâncias sem valor nutritivo, como giz, sabão, cabelo, papel, tecido, unhas, cinza de cigarro e até alimentos crus ou mal preparados.
O nome “pica” faz referência ao pássaro pega-rabuda — conhecido por engolir quase qualquer objeto — e descreve com precisão o comportamento central do transtorno: a ingestão repetitiva e incomum de itens não destinados à alimentação humana.
Sintomas e causas
A síndrome pode afetar pessoas de qualquer idade, embora seja mais comum entre crianças pequenas, grávidas e pessoas com deficiência intelectual ou transtornos mentais. Estudos indicam que entre 20% e 30% das crianças de 1 a 6 anos já apresentaram comportamentos semelhantes em algum momento do desenvolvimento.

Segundo especialistas, a alotriofagia está frequentemente relacionada a deficiências nutricionais, especialmente de ferro (anemia) e cálcio, além de estar associada a quadros de estresse, ansiedade e tédio. Gestantes, por exemplo, podem apresentar episódios de geofagia (ingestão de terra) ou consumo excessivo de gelo, com riscos à saúde.
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No entanto, a simples curiosidade por experimentar algo inusitado, de forma pontual, não é suficiente para configurar o diagnóstico da síndrome. É necessário que os comportamentos sejam repetitivos, compulsivos e persistam por pelo menos um mês.
Diagnóstico e complicações
O diagnóstico da síndrome de Pica pode surgir diante de sinais de intoxicação, obstrução intestinal ou em investigações clínicas. Exames laboratoriais (como urina e fezes), de imagem (raio-X, tomografia, ressonância) e até eletrocardiogramas podem ser utilizados, especialmente quando há suspeita de desequilíbrios eletrolíticos ou infecções parasitárias.
De acordo especialistas, não há um tratamento único e estabelecido para o transtorno. As abordagens mais eficazes costumam combinar terapia comportamental com estratégias de reforço positivo e restrição dos comportamentos de risco.

As consequências da síndrome variam conforme o tipo de substância ingerida. Casos graves podem evoluir para sangramentos, obstruções gastrointestinais que, em algumas situações, exigem cirurgia, além de desnutrição e intoxicações. “A ingestão inadequada de substâncias pode até levar a desfechos fatais”, alerta a especialista. Ela ressalta ainda que o estigma social é um dos prejuízos menos discutidos, mas bastante significativo.
A síndrome de Pica, embora rara, demanda atenção médica e acompanhamento psicológico adequado para garantir qualidade de vida e evitar complicações mais sérias.