O consumo de álcool em quantidades superiores a oito por semana está ligado a uma maior susceptibilidade do cérebro a danos neuropatológicos, incluindo os sinais típicos da “Doença de Alzheimer”. A pesquisa foi realizada pela Universidade de São Paulo (USP), e divulgada nesta quarta-feira (10/04) na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia.
Segundo o estudo, 1.781 pessoas com idade média de 75 anos, passaram por necropsia após óbito não traumática. Nos últimos três meses de vida, os seus padrões de consumo de álcool foram estabelecidos através de entrevistas com parentes e categorizados em quatro categorias: abstêmio, consumo moderado (até sete doses por semana), consumo alto (oito ou mais doses por semana) e consumo anterior alto (com pelo menos três meses sem consumo antes do falecimento).
Os resultados indicam que indivíduos com um histórico de alto consumo acumularam mais placas neurofibrilares – estruturas cerebrais relacionadas à Doença de Alzheimer. Entretanto, aqueles que bebiam moderadamente apresentaram mais danos vasculares do que os que não consumiam álcool, particularmente aqueles associados à arterioloesclerose hialina – uma condição que se caracteriza pelo espessamento e rigidez das pequenas artérias cerebrais. No estudo, considerou-se que uma porção de álcool equivale a 14 gramas de etanol: 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado.
A conexão entre o consumo de álcool e a saúde cerebral tem sido tema de discussões na literatura acadêmica. Pesquisas passadas já apontavam que o consumo moderado poderia proporcionar alguma proteção cardiovascular – uma relação com formato estatístico conhecido como “curva J”. Nesta situação, tanto a abstinência quanto o consumo excessivo estão ligados a um risco elevado, enquanto o consumo moderado é considerado, teoricamente, uma área de menor risco.
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Apesar disso, os resultados da USP corroboram a ideia de que, sob a perspectiva neuropatológica, até mesmo o consumo moderado de álcool pode estar ligado a consequências prejudiciais no cérebro. Esta interpretação está em conformidade com estudos recentes, como um estudo de 2022 divulgado na Nature Communications, que relacionou o consumo moderado à diminuição do volume cerebral com o passar do tempo.
Os pesquisadores destacam que a suposta proteção do consumo leve a moderado pode ser justificada por elementos enganosos, como um estilo de vida mais saudável, maior interação social e melhores condições socioeconômicas entre aqueles que consomem quantidades reduzidas de álcool.