COP 30: Como IA pode ser aliada para zerar o desmatamento ilegal

(Foto: Sergio Moraes/COP30 e Gráfico: Reprodução/Ver o Fato)
A preparação para a COP30, realizada em Belém, aproxima ainda mais tecnologia e meio ambiente na Amazônia. Desde o dia 13 de outubro, o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá é a sede do workshop piloto da AI Climate Academy, iniciativa ligada à conferência que colocou a inteligência artificial no centro das discussões sobre crise climática.

O encontro, em formato de chamada aberta, reúne especialistas, pesquisadores e representantes de instituições públicas e privadas para debater como a IA pode apoiar o enfrentamento das mudanças do clima. A tecnologia foi tratada como pilar essencial tanto para reduzir impactos já em curso quanto para orientar países e regiões em direção a um futuro mais resiliente.
A proposta é usar algoritmos, grandes bases de dados e poder computacional para ir além do simples diagnóstico da destruição ambiental. A meta é prever riscos, planejar respostas e agir antes que desastres e perdas se confirmem, com a Amazônia ocupando o papel de laboratório global para essas soluções.

Amazônia como laboratório global da inovação climática
A iniciativa da COP30 busca impulsionar novas parcerias em áreas estratégicas. Entre elas, o monitoramento de florestas, com foco em biomas sensíveis como Amazônia e Pantanal, a previsão de eventos climáticos extremos e a otimização de estratégias de redução de emissões de carbono em diferentes setores da economia.
“O Ibama, ao detectar por imagem de satélite um polígono com desmatamento, aciona imediatamente um ato administrativo de responsabilização. Mas ele não precisa ir a campo com o fiscal entregar uma multa. O que ele faz é, no sistema eletrônico de monitoramento, embargar aquela área”, explicou o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do MMA, André Lima.
Inteligência artificial como aliada na redução de emissões
Relatórios internacionais, como o documento AI and climate change da Agência Internacional de Energia (AIE), apontam que a IA tem potencial para reduzir emissões anuais de dióxido de carbono em escala de gigatoneladas. Isso acontece quando a tecnologia é aplicada para tornar sistemas mais eficientes, especialmente em setores com alto consumo de energia.
No campo energético, a IA ajuda a construir redes mais limpas e resilientes. Entre os efeitos diretos estão a melhoria da previsão de geração de fontes renováveis como solar e eólica, a diminuição de perdas no sistema elétrico, a redução da dependência de combustíveis fósseis e o uso de manutenção preditiva para evitar falhas e prolongar a vida útil de usinas e equipamentos.

No transporte, algoritmos permitem otimizar rotas e frotas, antecipar problemas mecânicos e incentivar práticas de direção mais econômica. Estudos apontam também o potencial da IA para reduzir a formação de trilhas de condensação na aviação, que têm impacto relevante no aquecimento global.
Na indústria e nos edifícios, o uso de IA contribui para operações mais enxutas, gestão inteligente do consumo de energia, desenvolvimento de materiais com menor pegada de carbono e identificação rápida de vazamentos de metano. Esse gás de efeito estufa tem poder de aquecimento muito superior ao do dióxido de carbono, o que torna sua detecção precoce uma prioridade.
IA e a nova onda de empregos verdes
A transformação climática e tecnológica também altera o mercado de trabalho. O relatório Future of Jobs Report, do Fórum Econômico Mundial, indica que a IA atua em duas frentes. Ao mesmo tempo em que automatiza tarefas rotineiras e repetitivas, cria espaço para novas profissões, principalmente na economia verde.

Cresce a demanda por engenheiros de energias renováveis, especialistas em sustentabilidade e economia circular, analistas de carbono, cientistas climáticos, técnicos em eficiência energética e gestores de reciclagem e resíduos. São funções que combinam competências tecnológicas com conhecimento ambiental e regulatório.
Na prática, o avanço da IA exige requalificação permanente. Trabalhadores de diversas áreas passam a buscar formação em temas ligados à transição energética, gestão de dados, modelagem climática e inovação limpa, abrindo espaço para novos arranjos produtivos e educacionais.
Educação ambiental ganha novas ferramentas digitais
A discussão em torno da COP30 também destacou o papel da IA na educação ambiental. Um estudo acadêmico intitulado Using artificial intelligence in sustainability teaching and learning aponta que a tecnologia permite criar trilhas de aprendizagem personalizadas, ajustando conteúdos e metodologias ao perfil e ao ritmo de cada estudante.
A análise de dados educacionais também permite aperfeiçoar o desenho de programas de educação ambiental. A IA identifica padrões de aprendizagem, aponta lacunas e orienta o uso mais eficiente de recursos, maximizando o impacto de projetos que visam formar cidadãos conscientes e dispostos a atuar na defesa do clima.
Formação tecnológica e requalificação na era da IA
A conexão entre IA, clima e trabalho passa pela formação tecnológica em larga escala. Para o especialista Oded Israeli, diretor de marketing da startup israelense Wawiwa Tech, a educação impulsionada por inteligência artificial está remodelando o mercado profissional ao exigir novas habilidades e, simultaneamente, oferecer caminhos de requalificação para adultos de diferentes áreas.
Segundo ele, o objetivo é construir um cenário em que o aprendizado seja contínuo, flexível e adequado a um mundo em rápida transformação. Isso vale tanto para quem está ingressando agora no mercado quanto para quem já atua e precisa se atualizar para acompanhar a digitalização e a transição verde.
“A educação tecnológica impulsionada pela IA está rapidamente remodelando o panorama profissional e exigindo um novo conjunto de habilidades. Isso também proporciona oportunidades para a requalificação de adultos de qualquer profissão, assegurando que a força de trabalho do futuro atenda às necessidades da indústria na era da IA. Estamos construindo um futuro no qual o aprendizado é contínuo e adaptado a um mundo em constante mutação”, disse Oded Israeli, especialista em aplicação de IA no ensino tecnológico e diretor de marketing (CMO) da startup israelense Wawiwa Tech
Caso brasileiro mostra IA na linha de frente contra o desmatamento
Enquanto Belém se organiza para receber a cúpula do clima, o Brasil já coloca inteligência artificial em campo para proteger suas florestas. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais desenvolveram uma ferramenta de IA para reforçar o combate ao desmatamento ilegal.
Em operação desde 2024, o sistema aprimorou o monitoramento por satélite e aumentou a capacidade de identificar, com rapidez, áreas remotas com sinais de devastação. As informações alimentam diretamente o trabalho dos fiscais do Ibama, que podem embargar áreas e responsabilizar infratores com base em dados consolidados.

Quando as imagens de satélite indicam desmatamento em uma determinada área, o Ibama pode, pelo sistema eletrônico, registrar o embargo e iniciar procedimentos administrativos, mesmo sem a presença imediata de um fiscal em campo. A partir desse registro, bancos e empresas das cadeias agropecuárias ficam cientes de que aquela região está sob sanção e podem bloquear financiamento e compra de produtos provenientes de áreas ilegais.

A base do sistema reúne quase quatro décadas de imagens do Inpe. Com o apoio da IA, em vez de comparar apenas dois momentos específicos, os analistas conseguem observar toda a evolução daquele território ao longo do tempo, o que aumenta a precisão das avaliações e a qualidade das decisões.
O passo seguinte, segundo o ministério, é usar a IA para prever as áreas sob maior risco de desmatamento, de modo a orientar operações de campo e ações preventivas. A estratégia é vista como resposta à dificuldade de cobrir todo o território nacional com o número atual de fiscais.






