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Cacique Raoni encerra Cúpula dos Povos com chamado para seguir na luta

Liderança indígena encerra encontro em Belém defendendo união dos povos
16/11/25 às 15:59h
Cacique Raoni encerra Cúpula dos Povos com chamado para seguir na luta

(Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil)

A Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), encerrou-se neste domingo (16/11), com uma mensagem de incentivo do cacique Raoni Metuktire. Em seu pronunciamento, a liderança indígena voltou a lembrar que alerta o mundo, há décadas, para a devastação ambiental, a destruição das florestas e as ameaças aos modos de vida de povos originários.

“Há muito tempo, eu vinha alertando sobre o problema que, hoje, nós estamos passando, de mudanças climáticas, de guerras”, afirmou.

“Mais uma vez, peço a todos que possamos dar continuidade a essa missão de poder defender a vida da Terra, do planeta. Eu quero que tenhamos essa continuidade de luta, para que possamos lutar contra aqueles que querem o mal, que querem destruir a nossa terra”, completou.

Ele também condenou as guerras em curso e apelou por mais respeito e convivência pacífica: “Há muito tempo, eu venho falando para que possamos ter respeito um com o outro e possamos viver em paz nessa terra”.

Carta final e críticas às “falsas soluções”

Durante o ato de encerramento, foi lida a carta política da Cúpula dos Povos, na qual os participantes rejeitam aquilo que classificam como “falsas soluções” para enfrentar a urgência climática.

“Nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de conhecimentos e saberes, que constroem laços de solidariedade, lutas e de cooperação entre nossos povos”.

“As verdadeiras soluções são fortalecidas por esta troca de experiências, desenvolvidas em nossos territórios e por muitas mãos. Temos o compromisso de estimular, convocar e fortalecer essas construções”, afirma o texto.


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O documento foi entregue ao presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, que se comprometeu a levar as reivindicações para as reuniões ministeriais que começam nesta segunda-feira (17).

A carta também reforça o papel central das mulheres e do cuidado na defesa da vida:

“Não há vida sem natureza. Não há vida sem a ética e o trabalho de cuidado. Por isso, o feminismo é parte central do nosso projeto político. Colocamos o trabalho de reprodução da vida no centro, é isso que nos diferencia radicalmente dos que querem preservar a lógica e a dinâmica de um sistema econômico que prioriza o lucro e a acumulação privada de riquezas”.

Capitalismo e crise climática

O texto aponta o modelo capitalista como motor da crise climática e afirma que as populações periféricas são as que mais sofrem com eventos extremos e com o racismo ambiental. Também responsabiliza grandes corporações transnacionais, de mineração, energia, armamentos, agronegócio e Big Techs, pelos impactos climáticos globais.

Entre as reivindicações, estão a demarcação de terras indígenas e de territórios de outros povos tradicionais; uma reforma agrária voltada à agroecologia; eliminação progressiva dos combustíveis fósseis; financiamento público para uma transição justa, com taxação sobre grandes empresas, agronegócio e os mais ricos; além do fim dos conflitos armados. O texto também reforça a necessidade de protagonismo comunitário na formulação de alternativas climáticas:

“Cobramos que haja participação e protagonismo dos povos na construção de soluções climáticas, reconhecendo os saberes ancestrais. A multidiversidade de culturas e de cosmovisões, carrega sabedoria e conhecimentos ancestrais que os Estados devem reconhecer como referências para soluções às múltiplas crises que assolam a humanidade e a Mãe Natureza”.

Guerras 

A carta ainda denuncia o avanço da extrema direita e critica guerras em diferentes regiões. Os participantes reiteram a defesa da Palestina, mencionando ataques promovidos pelo Estado “sionista” de Israel e o sofrimento imposto a milhões de pessoas deslocadas.

“Nosso repúdio total ao genocídio praticado contra a Palestina. Nosso apoio e abraço solidário ao povo que bravamente resiste, e ao movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS)”, registra o documento.

Os autores também condenam ações militares dos Estados Unidos no mar do Caribe, classificando-as como iniciativas de caráter imperialista. Segundo o texto, elas ameaçam países da região e do continente africano:

“O imperialismo segue ameaçando a soberania dos povos, criminalizando movimentos sociais e legitimando intervenções que historicamente serviram aos interesses privados na região. Nos solidarizamos à resistência da Venezuela, Cuba, Haiti, Equador, Panamá, Colômbia, El Salvador, República Democrática do Congo, Moçambique, Nigéria, Sudão, e com os projetos de emancipação dos povos do Sahel, Nepal e de todo o mundo”.

Mobilização popular

A Cúpula dos Povos reuniu dezenas de milhares de pessoas de diversos movimentos sociais, locais, nacionais e internacionais, além de povos originários, quilombolas, pescadores, marisqueiras, extrativistas, moradores de periferias, trabalhadores urbanos, jovens, idosos, comunidades LGBTQIAPN+ e tantos outros grupos que compõem a diversidade amazônica.

Iniciado na quarta-feira (12), o evento foi considerado o maior espaço de participação social ligado à COP30 e trouxe críticas à limitada inclusão da sociedade civil nos processos oficiais da conferência. As cerca de 1,3 mil organizações presentes reforçaram que países, especialmente os mais ricos, têm falhado em adotar medidas compatíveis com a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.

A abertura ocorreu com uma “barqueata” na orla de Belém, quando centenas de embarcações navegaram pela Baía do Guajará em defesa da Amazônia.

“Iniciamos nossa Cúpula dos Povos navegando pelos rios da Amazônia que, com suas águas, nutrem todo o corpo. Como o sangue, sustentam a vida e alimentam um mar de encontros e esperanças. Reconhecemos também a presença dos encantados e de outros seres fundamentais na cosmovisão dos povos originários e tradicionais, cuja força espiritual orienta caminhos, protege territórios e inspira as lutas pela vida, pela memória e por um mundo de bem viver”, afirma a carta.

No sábado (15), cerca de 70 mil pessoas participaram da Marcha Mundial pelo Clima, que ocupou as ruas de Belém em uma grande celebração da diversidade social e cultural da região.

*Com informações da Agência Brasil.