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IA ganha papel de “ouvinte” entre jovens em busca de acolhimento

Apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, segundo o Instituto Cactus, o que explica a busca de jovens por apoio via IA
02/11/25 às 14:00h
IA ganha papel de “ouvinte” entre jovens em busca de acolhimento

Foto: Shutterstock

Jovens recorrem cada vez mais a conversas com inteligências artificiais como uma forma de aliviar angústias e organizar pensamentos — sobretudo quando falta tempo, dinheiro ou coragem para buscar um consultório. O recurso pode parecer prático, mas a linha entre apoio digital e tratamento clínico é tênue e não deve ser ultrapassada.

Por trás da busca por uma “terapia” via IA está uma realidade ainda cercada de tabus no Brasil.

Um estudo do Instituto Cactus, de 2023, mostra que apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, o que ajuda a explicar por que tantos jovens tentam algum tipo de desabafo inicial com ferramentas de IA generativa. A Organização Mundial da Saúde (OMS) lembra que a saúde mental não se limita ao cuidado psicológico — envolve corpo, relações e condições materiais. Na rotina acelerada, a percepção de que o tempo corre e as obrigações se acumulam amplia os níveis de estresse e ansiedade.

A presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Alessandra Santos de Almeida, é categórica ao apontar os limites dessa tendência:

“Não existem evidências de que possa haver psicoterapia realizada por IA. Porque a IA não foi programada para isso.” 

Tabus

(Foto: Reprodução/Freepik)

A disposição para pedir ajuda ainda esbarra em uma cultura que desvaloriza o conhecimento psicológico, como observa a professora do Instituto de Psicologia da UERJ, Edna Ponciano.

Segundo ela, muitas pessoas ainda associam a busca por terapia a situações de “loucura” ou a transtornos já instalados, quando o acompanhamento psicológico também deve ocorrer como forma de prevenção, cuidado contínuo e educação emocional.


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A orientação é clara: desenvolver um filtro crítico, checar quem fala, qual é a formação, desconfiar de soluções milagrosas e de promessas de resultados imediatos. É preciso pausar e refletir antes de aderir a modismos que prometem “cura em pílulas”.

Terapia no consultório

(Foto: Reprodução /Freepik)

No consultório, o trabalho clínico permite identificar sinais que pedem atenção e ajustar intervenções com segurança e responsabilidade ética.

A psicóloga Carla Tavares descreve pistas comuns de esgotamento que pedem avaliação profissional:

“O cansaço constante; falta de motivação, coisas que antes te davam prazer e começam a não te dar mais; alteração de humor; palpitação no peito; tensão muscular; problemas digestivos; isolamento social; uma sensação de sobrecarga e impotência”.

Segundo ela, a IA pode apoiar na organização de ideias, oferecer psicoeducação básica e sugerir rotas de busca por ajuda, mas não realiza psicoterapia, não cria vínculo terapêutico, não assume responsabilidade técnica e não responde com a mesma segurança em crises.

“A conversa com um algoritmo pode aliviar o momento e até incentivar o próximo passo. Quando nada mais parece fazer sentido, o caminho é humano e está disponível na rede pública”, explica a especialista.

Atendimentos

O SUS oferece atendimento psicossocial gratuito por meio da Rede de Atenção Psicossocial, que pode ser acessada a partir de qualquer Unidade Básica de Saúde. E em situações de crise, o telefone 188 do Centro de Valorização da Vida funciona todos os dias, de forma gratuita e sigilosa.

* Com informações de Agência Brasil e Fantástico