O vice-presidente da Braskem, Marcelo Arantes, admitiu nesta quarta-feira (10/4), pela primeira vez publicamente, que a empresa petroquímica “é responsável” pelo desastre ambiental e social gerado em Maceió. Em dezembro do ano passado, cinco bairros na zona litorânea da cidade tiveram de ser evacuados, e a cidade declarou estado de emergência, após o afundamento do solo nesses bairros em virtude do colapso de uma mina de sal-gema.
Marcelo Arantes é vice-presidente Global de Pessoas, Comunicação, Marketing e Relações com a Imprensa da Braskem. Ele foi destacado pela empresa para atuar em Maceió na comunicação da empresa junto a comunidades locais. Ele depôs hoje na CPI da Braskem, que investiga no Senado as responsabilidades do afundamento do solo e dos danos gerados por ele.
Durante o seu depoimento, ele disse:
“A Braskem tem, sim, contribuição e é responsável pelo evento ocorrido em Maceió, isso já ficou claro. Não é à toa que todos os esforços da companhia têm sido colocados para reparar, mitigar, compensar todo dano causado da subsidência na região”.
Depois disso, Arantes fez questão de relembrar que foi negociado o plano de pagamento de compensação financeira, iniciado em 2019, a moradores e proprietários de terrenos e imóveis na região afetada.
Leia mais:
Cratera em Maceió aumenta e defesa civil pede providências da Braskem
VÍDEOS: Mina da Braskem rompe sob lago em Maceió
Antes do seu depoimento, Arantes conseguiu um habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que pudesse ficar em silêncio frente a perguntas que possam incriminá-lo. Durante o depoimento, ele não respondeu várias perguntas técnicas sobre a operação da empresa, o que gerou irritação no relator Rogério Carvalho (PT-SE) e no presidente Omar Aziz (MDB-AM).
Aziz chegou a afirmar:
“O senhor dirige a área de pessoas, e a gente está perguntando se sete pessoas estavam trabalhando nas minas, e isso não é do seu conhecimento? Se tecnicamente não pode responder absolutamente nada, estamos perdendo muito tempo aqui, Rogério. São muitas questões que precisamos saber”.
Em seu depoimento, Arantes também afirmou desconhecer temas como: o faturamento e a margem de lucro da operação da Braskem em Maceió e em Camaçari (BA); as razões de ausência de um geólogo no acompanhamento das ações da empresa; supostos cortes de investimentos entre 2015 e 2017; a suposta prática de “lavra ambiciosa” (que não seguiu o plano preestabelecido, de acordo com resolução da Agência Nacional de Mineração); e eventos de instabilidade geológica em anos anteriores.
Carvalho, o relator, chegou a afirmar:
“Diante do que aconteceu em 2018 e diante da maior mobilização de retirada de pessoas de uma cidade, qualquer diretor deveria estar por dentro do que está acontecendo e o que aconteceu com essa mina. Me perdoem, mas aqui há uma clara tentativa de não responder aos questionamentos que essa CPI está fazendo”.
Em dezembro de 2019, a Braskem criou o Programa de Compensação Financeira (PCF) para atender às vítimas do afundamento. Mesmo sem reconhecer oficialmente a culpa pelo desastre até hoje, a empresa aceitou pagar indenização a todos os proprietários de imóveis de áreas de risco. Até fevereiro, 14,4 mil imóveis foram desocupados por moradores ou comerciantes de Maceió, que receberam um total de R$ 3,95 bilhões em indenizações — valor que inclui também os auxílios mudança e aluguel.
Além de receber pelo dano material, cada família teve direito a uma indenização de R$ 40 mil de indenização por dano moral. Porém, ex-proprietários reclamam dos baixos valores pagos e da explosão de preços dos imóveis após o colapso dos bairros.
Com informações de UOL e Agência Senado.