A secretária de Políticas Afirmativas do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Márcia Lima, oficializou sua saída da pasta nesta terça-feira (08/04), apontando a perda de autonomia em sua atuação e falhas graves nas estratégias de comunicação do governo federal. O ministério é comandado por Anielle Franco.
Em entrevista ao jornal O Globo, Márcia Lima foi categórica ao afirmar que sua saída está diretamente relacionada à interferência da alta gestão do ministério na formação da equipe técnica da secretaria.
“Eu sempre tive muita autonomia na gestão da Secretaria. Mas, recentemente, as decisões de composição da equipe passaram a ser tomadas pela alta gestão do ministério. Eu senti, então, que era o momento de pedir minha demissão. Definir o perfil da equipe não era mais uma atribuição minha”, declarou.
Além da questão interna, a ex-secretária criticou a forma como as ações e políticas raciais desenvolvidas por sua pasta vêm sendo comunicadas — ou ignoradas — pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre os avanços citados por Márcia estão a revisão da lei de cotas no ensino superior, a renovação da lei de cotas no serviço público, que elevou de 20% para 30% a reserva de vagas, e o Plano Juventude Negra Viva, que busca enfrentar a vulnerabilidade de jovens negros à violência e à mortalidade precoce.

Segundo Lima, o Plano Juventude Negra Viva é “sólido”, com instrumentos de monitoramento e participação ministerial, mas enfrenta resistência dentro da própria estrutura do Executivo.
“Esse compromisso tem que estar na voz de todos os ministros, na voz do presidente Lula. Quando eu falo de comunicar, é um desafio para esse governo. Primeiro pelo número de ministérios que tem. E porque a pauta racial ainda enfrenta muita resistência, tanto dentro do governo quanto no Legislativo”, ressaltou.
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Outro ponto levantado por Márcia Lima foi a ausência de divulgação de um plano de comunicação antifascista, desenvolvido em parceria com a Secretaria de Comunicação Social (Secom). O projeto, lançado em dezembro de 2024, tem como objetivo orientar os ministérios na abordagem sobre temas ligados à democracia, inclusão e combate ao fascismo. No entanto, mesmo com sua importância estratégica, o plano foi ignorado pela estrutura oficial de comunicação.
“Lançamos em dezembro do ano passado. Nunca vi uma linha sobre isso. É um enorme avanço e não ganhou visibilidade”, lamentou.

As críticas de Lima coincidem com a recente troca no comando da Secom. O presidente Lula nomeou Sidônio Portela, seu ex-coordenador de comunicação de campanha, como novo ministro da pasta. A missão de Sidônio é clara: recuperar a imagem do governo e impulsionar a divulgação de ações, sobretudo em meio à queda de popularidade do presidente no terceiro mandato. Em evento recente, Portela chegou a afirmar que a responsabilidade pela “impopularidade” de Lula era compartilhada por “todos os ministros”.
*Com informações de O Globo