Republicanos planeja super-chapa para federal no Amazonas, mas “canibalização” é uma possibilidade

O Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, decidiu montar uma super-chapa de candidatos a deputado federal pelo Amazonas, mas poderá enfrentar uma alta taxa de “canibalização” entre eles. O partido já tem em seus quadros os deputados federais Silas Câmara e Adail Pinheiro Filho, filiou nesta semana o ex-senador Arthur Neto e tem conversas avançadas com o coronel da reserva do Exército Alfredo Menezes. O último alvo, declarado por Silas, é o deputado federal Amom Mandel (Cidadania), campeão de votos em 2022.
Amom teve 288.555 mil votos (14,49%) em 2022, mas especialistas preveem que ele não repete este número na eleição do próximo ano por dois motivos, o desempenho aquém do esperado na disputa pela Prefeitura de Manaus, no ano passado, quando ficou em terceiro lugar após liderar a corrida em boa parte do processo eleitoral, e também o histórico de outros “campeões” de votos no Amazonas, que não “bisaram” o bom desempenho nas eleições seguintes.
É o caso de José Ricardo Wendling (PT), que se elegeu em 2018 com quase 200 mil votos, mas obteve apenas 80 mil em 2022 e não conseguiu a reeleição. O mesmo aconteceu com outros campeões, como Carlos Souza, Francisco Praciano e Henrique Oliveira.
Silas Câmara foi o quarto mais votado em 2022, com 125,068 mil votos (6,28% do total dos válidos), um número que está dentro da média obtida por ele nas seis eleições de que participou, sempre conquistando um mandato federal.
Silas Câmara é um político considerado de nicho, pois obtém seus votos quase na integralidade junto aos eleitores evangélicos da igreja Assembleia de Deus, onde seus irmãos são grandes lideranças, a começar por Jonatas, que é o presidente da convenção da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas.
Adail Pinheiro Filho conquistou na primeira eleição para deputado federal 90.028 mil votos (4,52%), trazendo a força política da família em Coari e em toda a região do Médio rio Solimões, onde estão colégios eleitorais importantes, como nos municípios de Tefé, Manacapuru, e mais abaixo Itacoatiara e Silves, onde contou com dobradinhas firmadas com os prefeitos locais.
Na estréia e sem a força dada pelas emendas parlamentares impositivas, que no ano eleitoral de 2026 chegará a movimentar recursos de até R$ 85 milhões, Adail Filho bateu José Ricardo, o antigo campeão, e Marcelo Ramos, que na legislatura passada chegou a ser vice-presidente da Câmara Federal e era tido como um dos principais políticos da geração dele.
Arthur Neto é desde os anos 80 do século passado uma liderança da política nacional, apesar de ter perdido força ao sair da prefeitura de Manaus sem ter feito o sucessor e perdido o próprio partido, o PSDB, que preferiu seguir sob a liderança do senador Plínio Valério. Apesar disso, Arthur é uma força que tem muita penetração no eleitorado e isso pode ser visto nas redes sociais dele, sempre com números muito expressivos.
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Menezes confirma “quase” filiação
O coronel da reserva do Exército Alfredo Menezes, que durante muito tempo foi a face mais visível do bolsonarismo no Amazonas, teve conversas que ele considera “excelentes” com o presidente do Republicanos, o deputado federal e bispo da Universal Marcos Perreira (SP), mas não cravou ainda o ingresso no partido.
“Ainda não é o timming, mas a conversa foi muito boa e vou decidir o meu futuro mais a frente”, revelou, durante o programa Meio Dia com Jefferson Coronel, desta terça-feira.
Menezes confirmou que será candidato a deputado federal no próximo ano e para isso conta com o recall de votos obtidos na eleição de 2022, quando obteve 737.875 mil votos para o Senado Federal (38,9% dos votos válidos), mas perdeu para o senador Omar Aziz (784.007 mil votos) por uma margem considerada pequena de votos.
No ano passado foi candidato a vice-prefeito na chapa do presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, Roberto Cidade (União Brasil), mas ficaram apenas na quarta-colocação. De qualquer forma, ele continua fiel e identificado com o “bolsonarismo”, a força política mais forte entre o eleitorado de Manaus, apesar da pouca penetração nos municípios do interior.
Linha de corte indica três eleitos apenas
O especialista em pesquisas eleitorais Eric Barbosa, da Pontual Pesquisas, avalia que uma nominata deste porte pensada pelo Republicanos é capaz de, no máximo, eleger três nomes para a Câmara Federal por conta de dois fatores: a linha de corte (coeficiente eleitoral: 140 mil votos) e a divisão de votos entre capital e interior.
“Neste grupo temos políticos que são bons de votos em Manaus e outros que são bons de votos no interior. Para se garantir é preciso ter bom desempenho nos dois colégios”, analisa Eric, exemplificando com o caso de Silas Câmara, que dos 125 mil votos obtidos em 2022, 30 mil foram em Manaus.
Eric, contudo, não descarta votações expressivas em um outro colégio e diz que Amom Mandel, pelo que as pesquisas sinalizam hoje, deve ter algo entre 150 e 160 mil votos, quase todos concentrados na capital.
“Assim como ele, Arthur e Menezes são políticos com grande votação em Manaus, mas e no interior? Adail é o contrário, tem poucos votos em Manaus, mas votação gigante no interior”, analisa.
Eric estima que juntos, esse grupo é capaz de fazer 500 mil votos, número que ele considera seguro para conquistar três das dez vagas que o Amazonas terá na Câmara Federal a partir de 2027.
O analista político Helso Ribeiro também acredita que uma nominata formada por estes políticos consegue somente três vagas, favorecendo quem já está no mandato.
“Silas tem um voto nichado, em cada bairro e em cada cidade tem um núcleo da Assembleia de Deus que vota nele, além das parcerias com as prefeituras (emendas parlamentares). Adail tem a força do poder econômico exercido pelo pai (o prefeito de Coari, Adail Pinheiro)”, analisa.
Sobre a filiação de Amom, Helso Ribeiro considera algo difícil, mas garante que o camburão de votos que ele teve em 2022 não vai evaporar no próximo ano, o que lhe garante uma reeleição.
Sobre Arthur Neto, o analista lembra que o último embate eleitoral dele foi contra Menezes e Omar Aziz, na disputa pelo senado em 2022. “Fazendo uma análise fria, ele teve uma eleição minguada, estará a seis anos longe da Prefeitura de Manaus, portanto o recall não é dos melhores. Já o Menezes tem a pecha de ter saído do núcleo duro do bolsonarismo, que está no PL. Então acho praticamente impossível o Republicanos fazer estes cinco deputados, três é viável”, completa a análise, acrescentando que numa eleição o primeiro adversário de um político é o próprio correligionário, o que favorece a canibalização de votos entre este grupo em 2026.
