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Julgamento de Bolsonaro no STF é capa de revista britânica

Julgamento de Bolsonaro no STF é capa de revista britânica

A capa traz uma montagem de Bolsonaro caracterizado como o “Viking do Capitólio”

A revista britânica The Economist dedicou, nesta quinta-feira (28/8), sua capa semanal à ação que será julgada no Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da próxima terça-feira (2), envolvendo a suposta participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

A capa traz uma montagem de Bolsonaro caracterizado como o “Viking do Capitólio” (Jacob Anthony Chansley), figura conhecida pela invasão ao Congresso dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021. O título escolhido pela publicação foi “O que o Brasil pode ensinar à América”, estabelecendo um paralelo entre os dois países no cenário político recente.

Julgamento de Bolsonaro no STF é destaque em capa de revista britânica
(Foto: montagem)

Comparação entre Brasil e Estados Unidos

Na reportagem principal, a revista aponta que o julgamento de Bolsonaro simboliza um processo de “recuperação democrática” do Brasil após a fase de fortalecimento do populismo. Em contraste, cita o avanço de lideranças populistas em países como Polônia e Reino Unido, além da situação política dos Estados Unidos.

Segundo o texto, “a comparação mais marcante do Brasil é com os Estados Unidos. Os dois países parecem estar trocando de lugar. Os EUA estão se tornando mais corruptos, protecionistas e autoritários – com Donald Trump esta semana mexendo com o Federal Reserve e ameaçando cidades controladas pelos democratas. Em contraste, mesmo com o governo Trump punindo o Brasil por processar Bolsonaro, o próprio país está determinado a salvaguardar e fortalecer sua democracia”.

A publicação ressalta ainda que a experiência brasileira com a ditadura militar (1964-1985) e a percepção popular de que Bolsonaro tentou articular um golpe explicam por que o país adota uma postura diferente de outras nações em casos semelhantes.


Saiba mais:


O papel do STF e os desafios institucionais

O The Economist analisa de forma detalhada o papel do Supremo Tribunal Federal na democracia brasileira. Para a revista, controlar a atuação da Corte é uma “tarefa-chave”, já que o STF acumula funções que vão de política tributária a decisões em áreas como cultura e esporte.

Como árbitro de uma constituição com 65.000 palavras, o Tribunal supervisiona uma gama estonteante de regras, direitos e obrigações, desde política tributária até cultura e esportes. Grupos que vão de sindicatos a partidos políticos podem apresentar casos diretamente. Às vezes, os próprios juízes iniciam os casos, incluindo um inquérito sobre ameaças online, alguns deles contra o próprio tribunal – tornando-o vítima, promotor e juiz, descreve a publicação.

Em 2024, o STF proferiu 114.000 decisões, a maioria delas assinada por ministros individualmente. Para o Economist, essa concentração de poder em juízes não eleitos gera debates sobre a legitimidade das decisões e os riscos de desgaste político, ao mesmo tempo em que protege o sistema democrático contra rupturas.

Desafios para reformas e divisões internas

A revista britânica também ressalta que qualquer proposta de reforma enfrenta obstáculos. “Mesmo que as elites queiram mudanças, o Brasil ainda é um país profundamente dividido”, afirma.

O texto alerta para a resistência de grupos ligados a Bolsonaro e destaca que os apoiadores mais fiéis do ex-presidente poderão gerar conflitos caso o tribunal imponha uma pena considerada severa. Além disso, aponta que reformar o STF e a Constituição exigiria concessões políticas e a abertura de mão de privilégios, algo difícil em um cenário marcado por desconfiança mútua entre adversários.

“Todos querem crescimento, mas, para obter mais crescimento, algumas pessoas terão que abrir mão de alguns privilégios”, avalia a publicação.

Conclusão da análise

Na parte final, a reportagem sublinha que, ao contrário dos Estados Unidos, os políticos brasileiros, de diferentes espectros ideológicos, parecem inclinados a “jogar conforme as regras e avançar por meio de reformas”.

Estão são as características da maturidade política. Ao menos temporariamente, o papel de adulto democrático do hemisfério ocidental mudou-se para o sul [do continente americano]., conclui o Economist, referindo-se ao Brasil.