Apesar dos tumultos e trocas de insultos típicos de uma investigação parlamentar de inquérito, o governo Lula conseguiu vencer o primeiro round da CPMI de 8 de janeiro ao emplacar Arthur Maia (União-BA) na presidência do colegiado; Cid Gomes (PDT-CE), na vice e a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) na relatoria.
Entre todos os integrantes da CPMI, o governo Lula não poderia ter um nome melhor. Eliziane é lulista de carteirinha e aliada de primeira hora do ministro da Justiça, Flávio Dino. Ao longo da CPI da Covid, a parlamentar ganhou projeção nacional e foi sondada para ser candidata à Vice-Presidência da República na chapa de Simone Tebet (MDB), hoje ministra do Planejamento.
Mais: Eliziane trabalhou intensamente pelo apoio de Dino para disputar o cargo de governadora do Maranhão. Foi preterida por Dino, que indicou seu vice, Carlos Brandão, para a disputa. Brandão, diga-se, era tucano histórico e naqueles arranjos de ocasião se transferiu para o PSB de Dino.
Mesmo escanteada, Eliziane evitou críticas públicas ao hoje ministro da Justiça e manteve uma fidelidade canina ao grupo político dinista. Após ter sido preterida, evitou o vitimismo e se tornou uma das principais vozes da oposição ao governo Bolsonaro no Congresso. Aguerrida e crítica de setores mais extremos da Direita, Eliziane tende a fazer um relatório absolutamente pró-governo – isentando o Planalto de qualquer responsabilidade sobre os atos de 8 de janeiro. O que garante um alívio momentâneo do governo federal, sem eventuais pedidos de indiciamentos de integrantes do Poder Executivo.
Arthur Maia é o clássico homem político: avesso a polêmicas, terá como desafio manter algum fio de serenidade à investigação. Cid Gomes, quando assumir o cargo de Maia em determinados momentos, tende a garantir o show ao público com seu estilo estourado. Felizmente, tratores não são permitidos nas dependências do Senado.
Magno Malta como segundo vice-presidente da CPMI é o prêmio de consolação da base bolsonarista no colegiado. A manobra, curiosamente, quase não saiu do papel por conta de uma reclamação do senador Esperidião Amim (PP-SC), um neobolsonarista pouco convicto.
Sem poder de decisão no colegiado, caberão aos bolsonaristas os berros e a disputa de narrativas para abastecer as redes sociais e a apresentação de um “relatório paralelo”, que, por óbvio, não será aprovado. Essa CPMI pode ser o colegiado da “lacração”. Agora, a base bolsonarista no Congresso terá que entender algo importante: o governo possui a caneta, a presidência e a relatoria do colegiado. E o excesso de lacração pode ser punido com indiciamentos, convocações e quebras de sigilos de aliados ou do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.