Em entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira (14), autoridades da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM) relataram como funcionava o esquema de um grupo criminoso acusado de movimentar R$ 156 milhões em golpes de empréstimos a servidores públicos e aposentados do INSS.
O grupo que operava em Manaus foi alvo da Operação Fair Play, que cumpriu sete mandados de prisão temporária e 18 ordens judiciais de busca e apreensão na capital amazonense, em Boa Vista (RR), Belém (PA) e Natal (RN), na manhã de hoje. Segundo a PF-AM, a organização tem vínculos com a cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
A PF informou que já investigava o grupo desde setembro de 2021, antes da divulgação de denúncias sobre prejuízos financeiros feitas pelas vítimas. “Aproveitamos os relatos dos casos na imprensa para cumprir as medidas ostensivas”, explicou o delegado Uchôa.
O grupo atraía servidores com a oferta de empréstimo consignado, que oferece taxas de juros menores, e os convenciam a investir o dinheiro em aplicação fixa com rendimento acima da taxa do mercado. “O que mais atraía os servidores era a ideia de que eles não precisavam de capital próprio“, comentou Eduardo Zózimo, titular da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros (DELECOR).
A organização colocou em prática estratégias para dar ao negócio aparência de legalidade. Registravam os contratos em cartório, comprometendo-se a pagar os empréstimos efetuados com as instituições financeiras. A empresa de empréstimo consignado diversificou os ramos de atuação, vinculando a marca a artistas e celebridades e patrocinando eventos na capital amazonense.
Ainda segundo a PF-AM, integrantes da organização criaram, no mesmo dia, quatro empresas para cada sócio, o que confirma a prática de lavagem de dinheiro.
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Os criminosos também mobilizavam as vítimas a conquistar novos clientes para o esquema. O acordo determinava uma garantia de fidelidade de 12 meses.
“A investigação concluiu que não houve investimentos. A maior parte do dinheiro era aplicado em bens de luxo, viagens nacionais e internacionais para sócios do grupos, que ostentavam viagens e carros nas redes sociais e moravam em condomínios de classe alta”, complementou Zózimo.
Os acusados responderão por crime contra o sistema financeiro, organização criminosa e lavagem de dinheiro. “Há três anos, nenhum desses chefes ou sócios tinham empregos com salários acima de R$ 2 mil. Fica bem evidente que o esquema foi projetado apenas com fins de aumento patrimonial”, ressaltou Uchôa.