Bastidores: Coerência em jogo explica por que Omar não é unanimidade e nem tenta ser

Foto: Antonio Pereira/Semcom
Em um cenário político cada vez mais marcado por discursos moldáveis e alianças descartáveis, a pré-candidatura de Omar Aziz (PSD) ao Governo do Amazonas em 2026 expõe uma contradição incômoda para parte da classe política: coerência também tem custo pessoal e eleitoral.
Nos bastidores, o que se comenta não é apenas quem está ao lado de Omar, mas principalmente quem ficou pelo caminho. E isso não aconteceu por acaso.
A política que não muda conforme a plateia
Omar construiu a trajetória dele sustentando uma regra simples e cada vez mais rara: o discurso público precisa ser compatível com o que é dito em privado. Goste-se ou não dele, o senador é visto como um homem que honra a palavra empenhada, custe o que custar!
Essa postura faz com que ele dialogue com direita, esquerda e centro sem constrangimento, mas também sem submissão. Não há mudança de tom conforme o interlocutor, nem reposicionamento estratégico para agradar grupos específicos. O resultado é direto: nem todo apoio sobrevive a esse modelo.
Apoios que não resistem à falta de conveniência
Nos últimos meses, nomes que chegaram a sinalizar apoio à pré-candidatura de Omar recuaram. A leitura, porém, vai além da simples matemática eleitoral.
O que se perdeu não foram alianças ideológicas sólidas, mas apoios condicionados. Aqueles que esperavam ajustes futuros, concessões silenciosas ou flexibilidade excessiva perceberam que esse não é o terreno de Omar Aziz. Na prática, o senador prefere perder aliados a perder coerência.
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Por que, mesmo assim, ele continua sendo ouvido
Curiosamente, a mesma postura que afasta alguns aproxima outros. Empresários, lideranças políticas e figuras institucionais seguem procurando Omar não para ouvir promessas, mas para receber avaliações francas. Franqueza que, segundo o governador Wilson Lima (União Brasil) é a característica principal de Omar, que ao perceber, por exemplo, ter errado, passado do ponto, sempre tem a grandeza e a capacidade de dar um telefonema para reatar os pontos e religar pontes.
Nos bastidores, Omar é descrito como alguém que não entrega conforto, mas entrega clareza. E, em um ambiente de incertezas, isso se transforma em ativo político.
Liderança que não depende de palanque
Omar não construiu a relevância dele em redes sociais nem em discursos inflamados. A liderança do senador é mais silenciosa, baseada em decisões passadas, relações consolidadas e capacidade de diálogo real. Mas também existem erros no caminho, como a decisão de fazer, no governo dele (2010-2014), a Cidade Universitária da UEA, uma obra inacabada que se tornou um calcanhar de Aquiles para o senador.
Essas capacidades, os erros eventuais e as feridas curadas com aliados e adversários faz com que a presença de Omar Aziz no debate de 2026 seja menos ruidosa, porém constante. Ele não domina o noticiário diário, mas influencia o tabuleiro, não apenas em benefício da própria pré-candidatura ao Governo do Estado, mas também na formação de alianças para a disputa proporcional e, principalmente, na recandidatura do presidente Lula, de quem é aliado fiel.
O paradoxo eleitoral
A grande questão que se impõe é simples: o eleitor está disposto a premiar a coerência em um ambiente acostumado à conveniência?
Omar Aziz entra nesse debate como uma figura que não tenta agradar a todos. E talvez, justamente, por isso, provoque reações tão intensas, positivas e negativas, em igual medida. Nos bastidores está claro o favoritismo e o poder de articulação dele, mas no eleitorado há certas dúvidas e obstáculos a serem transpostos, sobretudo em Manaus, cidade que concentra aproximadamente 55% do eleitorado do Amazonas.
Na política amazonense, onde alianças frequentemente mudam antes do próximo ciclo eleitoral, Omar representa algo que incomoda e atrai ao mesmo tempo: previsibilidade.
E, goste-se ou não do estilo, é inegável que a previsibilidade se tornou um artigo raro.
Até pouco tempo, havia um alinhamento explícito entre o prefeito David Almeida (Avante) e os senadores Omar e Eduardo Braga (MDB), perceptível tanto nos gestos públicos quanto no discurso. Nos últimos dias, porém, esse alinhamento aparenta ter sofrido desgastes. Comentários e declarações públicas de ambos os lados indicam ruídos na comunicação e uma relação que já não se apresenta com a mesma sintonia de antes.






