O governo dos Estados Unidos informou nesta terça-feira (15/4) que o presidente Donald Trump quer que a Universidade de Harvard peça desculpas por manifestações consideradas antissemitas ocorridas em seu campus. A cobrança está ligada a protestos realizados por estudantes em apoio à Palestina e contrários à ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, que marcaram o ambiente universitário ao longo de 2024.
Na segunda-feira (14/4), a Casa Branca anunciou a suspensão de mais de US$ 2,2 bilhões em recursos federais destinados à universidade, além do congelamento de um contrato anual de US$ 60 milhões. A decisão veio após Harvard rejeitar uma série de exigências do governo, entre elas o encerramento de programas voltados à diversidade, equidade e inclusão.
Durante uma entrevista, a porta-voz da presidência, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente considera a postura da universidade inaceitável e defende que Harvard “assuma responsabilidade e se desculpe” pelos casos de antissemitismo registrados entre seus alunos. Ela também questionou o uso de recursos públicos pela instituição, que possui um fundo patrimonial estimado em mais de US$ 50 bilhões.
Segundo Leavitt, o governo está reavaliando a isenção fiscal concedida à universidade, com a possibilidade de classificá-la como uma entidade política, o que poderia levar à taxação de seus recursos. “Harvard tem bilhões no banco e, ainda assim, continua recebendo verba pública. Isso preocupa muitos contribuintes”, declarou.
Na sexta-feira anterior (11/4), o governo enviou à universidade uma carta com diversas exigências. Entre elas, estão a adoção de critérios baseados apenas em mérito para contratações e admissões, a realização de auditorias com participação da comunidade acadêmica e a proibição do uso de máscaras durante protestos — medida vista como uma resposta direta às manifestações pró-Palestina.
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As exigências fazem parte de uma iniciativa mais ampla do governo Trump para pressionar instituições de ensino superior a adotar uma linha política mais alinhada à sua administração. Harvard não é a única afetada: universidades como Columbia, Pensilvânia, Brown e Princeton também enfrentam cortes ou ameaças semelhantes.
O reitor interino de Harvard, Alan M. Garber, criticou a intervenção do governo e afirmou que a universidade não aceitará as condições impostas. Para ele, as medidas violam direitos garantidos pela Constituição dos EUA, especialmente a liberdade acadêmica e de expressão. “Não cabe a nenhum governo ditar o conteúdo dos cursos, os critérios de admissão ou as áreas de pesquisa de uma universidade privada”, declarou.
O Departamento de Educação confirmou o bloqueio de repasses após a recusa de Harvard. Em nota, afirmou que a postura da universidade demonstra uma cultura institucional que estaria em desacordo com as leis federais de direitos civis.
A reação à decisão foi imediata. Ex-alunos da universidade divulgaram uma carta aberta pedindo que Harvard resista judicialmente às pressões do governo. “A universidade reafirmou valores fundamentais ao recusar interferências ideológicas em sua gestão”, afirmou a ex-aluna Anurima Bhargava, uma das signatárias do documento.