Vacinação ajuda na prevenção da perda auditiva infantil, diz pesquisa

(Foto: Divulgação)
Uma ampla revisão de estudos realizada por pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, publicada em março no periódico Communications Medicine, revela que a vacinação pode ter um papel fundamental na prevenção da perda auditiva em crianças e adolescentes.
O trabalho reforça a importância de imunizar a população jovem contra doenças que, além de suas complicações conhecidas, também podem causar surdez — muitas vezes de forma irreversível.
Diversas infecções causadas por vírus, bactérias e até parasitas estão associadas à perda auditiva infantil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 60% dos casos de surdez em crianças poderiam ser evitados com medidas de saúde pública, como o controle de doenças inflamatórias e programas de vacinação em larga escala.
Apesar disso, os pesquisadores canadenses destacam que há uma escassez de estudos que avaliem diretamente o impacto da vacinação na prevenção da perda auditiva.
“Já sabemos há muito tempo que diversas doenças infecciosas são responsáveis por déficit auditivo nas crianças, especialmente a meningite e a rubéola congênita”, afirma o infectologista Alfredo Gilio, do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Mas muitas outras doenças que são preveníveis por vacinas também podem ter esse efeito, como a caxumba.”

A vacina tríplice viral, por exemplo, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, é uma das principais aliadas na prevenção de infecções com potencial de causar surdez. O sarampo, causado pelo vírus Morbillivirus; a rubéola, provocada pelo Rubivirus; e a caxumba, cuja complicação pode incluir inflamação no ouvido interno, estão entre os agentes infecciosos apontados como prejudiciais à audição.
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Revisão analisou 40 anos de pesquisa
O estudo canadense teve como objetivo revisar artigos científicos que investigassem a relação entre vacinação e perda auditiva em crianças e adolescentes. A análise englobou pesquisas realizadas ao longo de quatro décadas, abrangendo a vacinação contra 26 tipos de microrganismos capazes de afetar a audição. Entre eles, destacam-se as bactérias Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e a causadora da meningite meningocócica, todas com vacinas já existentes ou em desenvolvimento.
A conclusão dos autores é que, embora existam evidências relevantes sobre a eficácia das vacinas na redução da surdez infantil, os dados disponíveis ainda são escassos — especialmente em países de baixa renda. A maioria dos estudos analisados foi conduzida em países ricos, como Suécia, Finlândia, Estados Unidos e Japão. Nesses locais, foi observada uma redução significativa nos casos de problemas auditivos após a introdução de vacinas, em especial a tríplice viral.

Outro ponto destacado pelos pesquisadores é o potencial de novas vacinas para ampliar a proteção auditiva infantil. Um exemplo é o imunizante contra a malária, que embora ainda esteja em fases iniciais de aplicação em escala global, pode ter um papel importante na prevenção de complicações que afetam a audição, sobretudo em regiões tropicais.
Surdez afeta 70 milhões de crianças e adolescentes
A perda auditiva é um problema de saúde pública global. Dados da OMS indicam que aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo têm algum grau de perda auditiva, o que representa cerca de 20% da população. Entre crianças e adolescentes de até 15 anos, o número chega a 70 milhões de indivíduos afetados.
Esse quadro é especialmente preocupante na infância, quando a audição desempenha um papel essencial no desenvolvimento cognitivo, na aquisição da linguagem, na socialização e na alfabetização. Segundo estatísticas, entre 1990 e 2016, a perda auditiva foi a segunda causa mais prevalente de deficiência entre menores de 5 anos.
(*) Com informações de CNN.
