Uma pesquisa do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL), da Universidade de São Paulo (USP), descobriu que o gene IFIT3 [sigla em inglês para proteína induzida por interferon com repetições de tetratricoptídeo 3] é capaz de proteger o organismo do vírus da Covid-19. O resultado deste estudo foi publicado na revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology e divulgado pela Agência Fapesp, nesta segunda-feira (2/12).
Os pesquisadores analisaram o material genético de 86 casais ao longo da pandemia e identificaram em seis mulheres uma expressão (ativação) aumentada do IFIT3 em comparação aos respectivos maridos. Nenhuma delas apresentou sintomas da doença mesmo em contato direto com o parceiro infectado pelo SARS-CoV-2.
A profissional de saúde Maria Tereza Malheiros Sapienza foi uma dessas mulheres imunes à Covid-19, enquanto seu cônjuge, o médico Marcelo Sapienza, foi infectado duas vezes pelo vírus. Uma em abril de 2020 e outra em janeiro de 2022.
O estudo da USP que descobriu a eficiência do gene IFIT3 diante da Covid-19 era sobre “pares sorodiscordantes”, como foram chamados os casos em que apenas um dos cônjuges foi infectado e o outro permaneceu assintomático. Isso mesmo com os casais compartilhando a cama sem o uso de proteção especial.
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A partir da análise de células do sangue desses casais em experimentos in vitro, os pesquisadores descobriram que as mulheres resistentes ao vírus tinham expressão aumentada do gene IFIT3. Já a expressão desse mesmo gene entre mulheres que adquiriram infecções sintomáticas foi baixa, semelhante à do grupo dos maridos.
“Trata-se de um gene que faz parte da resposta antiviral. Ele já foi descrito em estudos anteriores como sendo relacionado à proteção contra outras doenças virais, entre elas dengue, hepatite B e adenovírus. Só que, em nosso trabalho, conseguimos pela primeira vez provar esse efeito protetor para além da teoria, pois é muito improvável que as seis mulheres não tenham sido expostas ao SARS-CoV-2 numa condição em que dividiram ambientes e cuidaram dos maridos infectados”, comentou Mateus Vidigal, primeiro autor do artigo, fruto de seu projeto de pós-doutorado apoiado pela Fapesp.
O gene IFIT3 codifica uma proteína de mesmo nome que se liga ao RNA do vírus, impossibilitando sua replicação e impedindo que o patógeno invada novas células e a doença progrida.
“O vírus invade a célula, porém, todo aquele processo de se replicar para romper a membrana celular e invadir o maior número possível de outras células é interrompido logo no começo. A proteína IFIT3 se ‘gruda’ no RNA viral, impossibilitando sua replicação. Ou seja, não é que essas mulheres não tenham sido infectadas, elas foram. Mas o vírus mal se multiplicou dentro de suas células e, por isso, elas não tiveram a doença”, explicou Vidigal.
*Com informações do G1 e Veja