A biomédica nordestina Jaqueline Goes de Jesus ganhou notoriedade, em 2020, depois de participar do sequenciamento genético do vírus da Covid-19. Ela recebeu homenagem de escola de samba, virou personagem de Mauricio de Sousa, criador do universo da Turma da Mônica, e ganhou uma versão própria da boneca Barbie.
Com doutorado em patologia humana pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e pós-doutorado pela USP (Universidade de São Paulo), a pesquisadora baiana também integrou o projeto Zibra, percorrendo o Nordeste para sequenciar o genoma do vírus da zika. O interesse pela pesquisa com arboviroses surgiu, principalmente, por causa do caráter social das doenças.
Na equipe que sequenciou o vírus da Covid no Brasil, Jaqueline dividiu bancada no Instituto Adolf Lutz com a também cientista Ester Sabino que, inclusive, diz que o mérito do feito em tempo recorde é todo da colega soteropolitana e, cada vez mais, é necessário incentivar que mulheres trabalhem em grupo.
“É uma característica da mulher saber trabalhar em grupo, ser sistemática, não desistir. Então, é importante que elas procurem outras mulheres para ajudá-las em momentos de dificuldade para que tenhamos mais alunos como a Jaqueline”, afirma Ester.
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Para o futuro, a biomédica baiana diz querer, inclusive, trabalhar apoiando outras mulheres que também querem fazer parte da ciência, em especial, aquelas que vieram de uma realidade semelhante à sua.
“Assim como tive oportunidade, incentivo e uma rede de apoio que me permitiu chegar nesse lugar, acredito que ser essa plataforma de oportunidade para outras meninas com realidades parecidas com a minha seria o ideal”, diz a profissional.
Em 2021, durante a pandemia, Jaqueline Goes de Jesus migrou temporariamente para o Reino Unido para aperfeiçoar suas técnicas de sequenciamento. “Fui para lá me especializar nisso, mas voltei para o Brasil para trazer as técnicas para cá”, afirma. “Acredito que a gente precisa investir bastante aqui”, completou.
Falar de ciência, especialmente no Brasil, sempre envolve questões políticas para Jaqueline. Os últimos anos foram difíceis e intensificaram a fuga de cérebros – fenômeno em que cientistas preferem trabalhar em países com mais recursos.
Ela diz ver melhora no cenário, com um esforço para trazer de volta incentivos para a ciência. No entanto, a pesquisadora afirma que ainda não é o suficiente.
“Sinto que caminhamos para tentar recuperar esse retrocesso que a gente teve aí em quatro anos. A gente retrocedeu 20, 25 anos de pesquisa científica”, diz Jaqueline.
*Com informações da Folha de S.Paulo