Moda sustentável: empresa transforma resíduos de pirarucu e outros peixes amazônicos em acessórios de luxo

(Foto: Reprodução)
A moda sustentável vem ganhando cada vez mais força, e a Rede Onda Digital foi em busca de um dos destaques do movimento na Região Norte: a startup Yara Couro da Amazônia, localizada no Amapá. A empresa transformou um problema ambiental em oportunidade de negócios ao utilizar resíduos de peixes amazônicos para produzir couro ecológico, destinado à confecção de bolsas, carteiras, cintos, chapéus, pulseiras e outros acessórios de moda de luxo.
A iniciativa nasceu da preocupação com o descarte inadequado das peles de peixes que, até então, não tinham aproveitamento comercial. Ao transformar resíduos de espécies como pirarucu, acará-açu, corvina e pescada-amarela em um material resistente e elegante, a Yara Couro não apenas reduz impactos ambientais, mas também cria produtos com alto valor agregado.

A CEO da empresa, Bruna Freitas, destacou, em entrevista exclusiva à Rede Onda Digital, que a ideia nasceu a partir da observação de um problema recorrente na Amazônia: a falta de destino adequado para os resíduos da cadeia de pesca.
“Essa realidade não é exclusiva do Amapá, mas de toda a Amazônia e de grande parte do Brasil. Entendemos que esse resíduo, visto muitas vezes como lixo, pode ser transformado em um produto de alto valor agregado. Daí vem a ideia de transformar o que seria descartado em luxo”, explicou a empresária.

Como funciona o processo de produção do couro sustentável
Segundo a CEO, a empresa não participa da pesca em si. O trabalho começa quando o peixe já foi filetado e a pele se torna um resíduo. Normalmente, os fornecedores concentram-se no beneficiamento do filé, e o que sobra é destinado à Yara Couro, que evita que esse material seja descartado.

Esse aproveitamento integral depende de critérios rigorosos. As peles precisam chegar em boas condições para que passem pelo processo industrial. Na fábrica, as etapas envolvem limpeza, estabilização e acabamento do couro, até que o material esteja pronto para se transformar em peças de moda.

Um detalhe curioso é que muitos consumidores acreditam que a textura característica do couro amazônico seja formada pelas escamas. Na verdade, durante o processo, as escamas se soltam, deixando o desenho que se torna marca registrada do material.
Comercialização e expansão para o exterior
Atualmente, os produtos são vendidos sob encomenda. No entanto, a startup já anunciou novidades. Em novembro deste ano, será lançado o e-commerce oficial da marca, permitindo a entrega em todo o Brasil. Além disso, a empresa se prepara para, já no próximo ano, iniciar exportações para o mercado internacional, levando o couro sustentável da Amazônia para o mundo.
O couro sustentável da Amazônia
A startup trabalha com espécies amplamente consumidas pela população amazônica, e cada tipo de pele apresenta textura, resistência e características únicas, valorizadas pelo mercado da moda:
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Pescada-amarela: obtida a partir da indústria pesqueira em Calçoene (Amapá), apresenta textura irregular e delicada, com escamas pequenas e acabamento flexível. O curtimento é 100% vegetal, sem metais pesados.

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Corvina: típica de águas salobras e costeiras, também proveniente da pesca artesanal em Calçoene. A pele possui escamas bem definidas, alta resistência e maleabilidade, ideal para peças sofisticadas.

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Pirarucu: conhecido como o “gigante da Amazônia”, o peixe é manejado de forma sustentável no Amazonas. Seu couro é imponente, durável e se destaca em coleções exclusivas de luxo.

Segundo a CEO, essas matérias-primas não apenas reduzem o desperdício, como também trazem um novo significado ao conceito de moda sustentável na Amazônia.
Tecnologia e inovação: GreenLeather
O grande diferencial da Yara Couro está na inovação. A empresa desenvolveu o processo chamado GreenLeather, que substitui o curtimento tradicional à base de cromo por uma técnica que utiliza taninos vegetais e corantes orgânicos.
Dessa forma, o couro produzido é totalmente livre de metais pesados, não apenas pela preservação ambiental, mas também com a saúde humana e a sustentabilidade global.
“Nosso foco é mostrar que o que muitos veem como resíduo pode se transformar em um produto de luxo com sofisticação e responsabilidade ambiental. Queremos inspirar um consumo mais consciente”, afirmou Bruna Freitas.

