Mounjaro: Médica alerta para riscos do uso de medicação emagrecedora sem acompanhamento

(Foto: Shutterstock)
O Mounjaro é um medicamento originalmente indicado para o tratamento de diabetes tipo 2. No entanto, um dos seus efeitos é o de atuar no controle crônico do peso.
O principal princípio ativo do medicamento é a tirzepatida, que combina as ações de dois hormônios naturalmente produzidos pelo corpo e que desempenham um papel fundamental no controle da glicemia: O GLP-1 estimula a liberação de insulina quando os níveis de açúcar estão altos e retarda o esvaziamento do estômago, promovendo uma sensação de saciedade.
Já o hormônio GIP ajuda a regular o metabolismo da glicose e também contribui para a redução do apetite. Essa ação combinada faz com que o Mounjaro não apenas controle a glicemia, mas também auxilie no controle do peso, um benefício importante para quem sofre de diabetes tipo 2.
Segundo o estudo Surpass-2, os pacientes que usaram a tirzepatida perderam 12,4 quilos, em média. Os pesquisadores calculam que isso é o dobro do observado com a semaglutida, princípio ativo do medicamento concorrente do Mounjaro, o Ozempic.
No entanto, o medicamento não deve ser usado sem acompanhamento ou receita médica. Nos últimos meses, têm aparecido pelo Brasil notícias de clínicas e pessoas fazendo aplicações clandestinas de Mounjaro, inclusive no Amazonas. A Anvisa também se pronunciou sobre fake news circulando nas redes, sobre uma falsa distribuição de Mounjaro no SUS.
Além disso, apreensões de lotes ilegais do medicamento têm ocorrido em estados brasileiros, indicando o comércio ilegal da droga no país.
A Onda Digital conversou com a médica Maria Fernanda Cabral, especialista em Endocrinologia e Metabologia e Nutrologia, sobre os riscos do uso do Mounjaro sem acompanhamento especializado.
Uso com responsabilidade
Antes de comentar sobre o uso de medicamentos para emagrecimento, a especialista destaca que, apesar dos avanços científicos, essas substâncias exigem cautela.
“O Mounjaro é realmente uma das medicações mais revolucionárias que temos hoje para tratar principalmente obesidade e diabetes tipo 2. Os estudos mostram perdas de peso que nunca vimos antes com medicamentos, podendo superar o emagrecimento esperado até em relação a cirurgias bariátricas. Mas, existe um detalhe crítico que precisa ficar claro: qualquer medicação exige uso com responsabilidade. Medicação potente exige responsabilidade claro equivalente, ainda maior!”, pontua.
Maria Fernanda Cabral explica, ainda, que exames prévios são indispensáveis para evitar complicações sérias e garantir que o tratamento seja seguro para cada paciente.
“Começar Mounjaro sem fazer exames é como entrar num carro sem freio, ou sem revisão, melhor dizendo: o paciente acelera sem saber se o sistema de segurança funciona. Antes de qualquer aplicação, precisamos saber”, diz.
Para deixar mais claro sobre os riscos, a médica orienta:
- Se você tem história de câncer de tireoide na família: essa medicação tem uma contraindicação séria relacionada a um tipo específico de tumor;
- Se você já teve pancreatite: uma inflamação grave no pâncreas pode voltar com o uso do medicamento;
- Como está seu estômago e se ele sempre funcionou adequadamente: a gastroparesia (quando o estômago demora muito para esvaziar) pode virar um pesadelo com essa medicação, pois esse é um dos seus mecanismos de ação, que causa saciedade por mais tempo e consequentemente leva o paciente a comer menos;
- Se você usa insulina ou outros remédios para diabetes: a combinação errada pode causar queda perigosa de açúcar no sangue;
- Como estão seus rins, fígado, tireoide e níveis de vitaminas?
“Enfim, não dá para “achar” que está tudo bem. Temos que AVALIAR e saber de fato”, pondera.

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Riscos do Mounjaro sem supervisão

A seguir, a especialista descreve de forma didática como o Mounjaro atua simultaneamente em várias partes do corpo. Ela também alerta que, sem orientação médica, esses mesmos efeitos que ajudam no tratamento podem se tornar prejudiciais.
“Explicando de maneira “simples”, o Mounjaro controla várias funções do nosso corpo ao mesmo tempo: no cérebro, diminui a fome; no estômago, faz a comida demorar mais para descer. No pâncreas, melhora a produção de insulina, no corpo todo, ajuda a queimar gordura. Parece perfeito, né? E é muito eficaz. Mas quando não há supervisão, cada uma dessas ações pode sair do controle e passa do “terapêutico” para o “excessivo”. O esvaziamento gástrico pode ficar lento demais e causar náuseas importantes; a insulina pode subir mais do que deveria em pessoas sensíveis, levando a episódios de hipoglicemia; a redução intensa do apetite pode levar à perda de músculo e desnutrição proteica; e a queima de gordura sem reposição adequada de micronutrientes e eletrólitos pode gerar fraqueza, queda de cabelo e piora da performance”, detalha.
A endocrinologista ressalta que um dos maiores riscos é a perda de massa muscular. Sem acompanhamento nutricional, o corpo tende a queimar aquilo que é mais fácil (inclusive músculo), o que representa até 25% do peso perdido. Comendo menos proteína e treinando menos devido à baixa energia, o organismo pode utilizar a musculatura como fonte de energia, o que deixa o paciente mais fraco, flácido e com metabolismo reduzido.
“O corpo emagrece, mas fica mais flácido, fraco e com o metabolismo lento. E existe um risco ainda maior: ao suspender a medicação, o peso volta rápido em forma de gordura, mas o músculo perdido não retorna sozinho, o que leva ao temido “efeito sanfona” com piora da composição corporal. Por isso, o objetivo nunca é “perder peso a qualquer custo”, e sim preservar massa magra enquanto reduz gordura, com alimentação estruturada, proteína suficiente, treino de força e acompanhamento médico”.
Outros possíveis problemas podem surgir, como:
- Tonturas e desmaios;
- Maiores chances de desenvolver pedra na vesícula e alterações estomacais;
- Queda de cabelo;
- Reganho do peso perdido, o chamado “efeito sanfona”.
Estética não pode vir antes da saúde

Para a médica, o principal recado é que a estética não deve se sobrepor à saúde. Ela reforça que os estudos mostram resultados sustentáveis apenas após cerca de 12 meses de uso, como ocorre em qualquer intervenção metabólica profunda.
O Mounjaro, é uma ferramenta poderosa, mas que exige acompanhamento contínuo, como avaliação prévia do paciente, ajuste de doses, monitoramento de efeitos, apoio nutricional, preservação da massa muscular e criação de hábitos saudáveis são etapas essenciais para que o tratamento seja seguro e eficaz.
“Mounjaro é, sim, uma das melhores ferramentas que temos na endocrinologia moderna. Mas ferramenta poderosa exige mão que entende do seu manejo. Não é simplesmente prescrever, é ACOMPANHAR para um que o processo do emagrecimento seja sustentável e saudável. A diferença entre um tratamento bem-sucedido e um desastre não está na medicação, está em avaliar se você pode usar, escalonar nas doses corretas e fazer ajustes se necessários ao longo do tempo, monitorar os efeitos, ajustar a nutrição, preservar músculos, prevenir complicações e criar hábitos sustentáveis”, conclui.
*Com informações de Terra






