O homem condenado a seis anos de prisão por tentar explodir um caminhão-tanque próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília na véspera do Natal de 2022, teve 100 dias de pena abatidos após ser aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. A decisão se baseou nas regras do sistema prisional brasileiro que permitem a redução de pena por estudo.
Sobre o homem que tentou explodir o aeroporto
Wellington Macedo de Souza, que se autointitula jornalista, mas não possui curso superior completo, realizou o exame dentro do Complexo Penitenciário da Papuda, onde estava preso em regime fechado em novembro do ano passado. Ele alcançou nota superior a 450 em todas as áreas de conhecimento e acima de 500 na redação, atendendo aos critérios mínimos exigidos para que o benefício fosse concedido. Um mês após a prova, foi transferido para o regime semiaberto. Contudo, mesmo com o desempenho, não conseguiu aprovação para ingresso em curso superior.
Segundo dados obtidos pelo portal Metrópoles, as notas de Wellington no Enem 2024 foram:
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Ciências da Natureza e suas Tecnologias: 506,3
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Ciências Humanas e suas Tecnologias: 482,7
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: 573,1
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Matemática e suas Tecnologias: 521
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Redação: 560

Apesar do resultado, o Ministério Público se manifestou contra a redução da pena, alegando que Wellington já havia realizado o Enem anteriormente e, portanto, não poderia se beneficiar novamente da remição com base no exame. Ainda assim, a Justiça autorizou a diminuição do tempo de prisão, reconhecendo o direito à educação mesmo para detentos reincidentes em provas.
Além do desempenho no Enem, o blogueiro teve mais quatro dias de pena reduzidos ao apresentar uma resenha crítica do livro “O Processo”, de Franz Kafka. A obra literária, conhecida por abordar os abusos e contradições do sistema judicial, foi lida durante seu período de detenção, conforme informaram seus advogados. A resenha foi submetida à administração penitenciária, que validou o esforço intelectual como critério adicional para remição.
O atentado e a captura
Wellington Macedo foi condenado por expor a vida e o patrimônio de terceiros a perigo, ao tentar detonar explosivos colocados em um caminhão-tanque carregado com combustível, em uma ação planejada para ocorrer em 24 de dezembro de 2022, nas imediações do aeroporto da capital federal. Ele atuou em parceria com Alan Diego dos Santos Rodrigues e George Washington de Oliveira Sousa, outros dois investigados pelo ato terrorista frustrado.

Na ocasião, Wellington estava monitorado por tornozeleira eletrônica, o que não impediu a tentativa de ataque. Segundo investigações da Polícia Civil e da Polícia Federal, o objetivo era causar pânico e desestabilização política no contexto das manifestações golpistas contra o resultado das eleições presidenciais de 2022.
Após o episódio, Wellington fugiu do país, permanecendo foragido por meses. Foi capturado em 9 de setembro de 2023, pela Interpol, na Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu (PR) a Ciudad del Este, no Paraguai. Sua prisão internacional ocorreu um mês após a condenação definitiva pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).
Antes do atentado, Wellington já havia sido preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no contexto das investigações contra atos antidemocráticos. Em suas redes sociais e em manifestações públicas, costumava se referir a si mesmo como “Preso do Xandão”, numa alusão crítica ao ministro do STF, a quem responsabiliza por sua prisão anterior.