Bala de mangarataia cura tudo? Conheça produtos amazônicos que aliviam a garganta inflamada

(Foto: montagem)
Com a chegada do período chuvoso na Amazônia, aumentam os casos de irritação e inflamação na garganta. Nessa época, produtos naturais da região, como andiroba, copaíba, mel e mangarataia (gengibre), voltam a ser procurados por quem busca alívio rápido e acessível. De xaropes artesanais a balas vendidas em ônibus, esses remédios tradicionais fazem parte do cotidiano dos amazonenses.
Mas afinal, até que ponto essas substâncias funcionam de verdade? Para responder a essa pergunta, a Rede Onda Digital conversou com o otorrinolaringologista Rafael Carvalho, que explicou os benefícios e cuidados necessários ao usar os produtos da medicina tradicional amazônica no tratamento de dores de garganta.
O que a ciência já comprovou
Segundo o especialista, muitos dos produtos naturais usados na Amazônia têm efeitos comprovados cientificamente. O mel, por exemplo, é o mais estudado e apresenta resultados expressivos em revisões científicas.
“O mel funciona de duas maneiras: primeiro, como um “band-aid”, criando uma camada que acalma a garganta (efeito demulcente). Segundo, ele combate micróbios”, explicou Carvalho.

Segundo o especialista, uma grande revisão de 14 estudos (BMJ Evidence-Based Medicine, 2021) mostrou que o mel foi superior aos remédios comuns (anti-histamínicos, etc.) para aliviar tosse e dor de garganta.
“Os números são claros: o mel reduziu a frequência da tosse em 36% e a gravidade da tosse em 44% em comparação com o placebo”, completou Carvalho.
A mangarataia, conhecida nacionalmente como gengibre, também mostrou eficácia real. Os compostos ativos presentes na planta, chamados gingeróis, têm ação semelhante à de medicamentos anti-inflamatórios.
“ A bala de mangarataia (gengibre) ajuda porque o gengibre tem compostos (como os gingeróis) que agem de forma parecida com o ibuprofeno: eles “desligam” quimicamente a produção de inflamação no corpo (inibindo as vias COX e LOX). Portanto, é uma ação anti-inflamatória e analgésica real, não só paliativa.

Leia mais:
- Linguiça de açaí e hambúrguer de tucumã: startup cria proteína vegetal com ingredientes da Amazônia
- Em Barcelos, empresa transforma o ar da floresta Amazônica em ‘água de luxo’; conheça
No caso da copaíba e da andiroba, os resultados também são promissores. A copaíba contém β-cariofileno, uma substância com forte potencial anti-inflamatório. Estudos com animais mostram redução de até 50% no inchaço. Já a andiroba vem sendo testada em pacientes com inflamações severas causadas por quimioterapia.
“Um estudo clínico mostrou uma redução estatisticamente significativa na dor e no grau da inflamação em quem usou o óleo”, relatou Carvalho.

Integração entre saberes populares e medicina moderna
O otorrinolaringologista defende que o uso dos produtos naturais amazônicos pode complementar os tratamentos médicos convencionais, desde que feito com orientação profissional.
“O maior risco não é o produto em si, mas o atraso no diagnóstico.
Se a dor de garganta for causada por uma bactéria (e não um vírus), usar só produtos naturais pode “mascarar” o problema. A infecção bacteriana pode piorar e causar complicações sérias, como febre reumática ou abscessos”, alertou.
Carvalho lembra ainda que o mel não deve ser oferecido a crianças menores de um ano, por causa do risco de botulismo. Apesar dos cuidados, ele acredita que a integração entre a medicina tradicional e a científica é o melhor caminho.
“A integração é o melhor caminho. A OMS incentiva. O paciente deve procurar os médicos para o diagnóstico correto. Se for um quadro viral simples, podemos, sim, recomendar o mel para aliviar os sintomas”, completou.






