Foz do Amazonas: explorar ou não o petróleo, eis a questão que divide opiniões no país

Foto: Montagem
A autorização dada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a prospecção de petróleo na chamada Margem Equatorial, muito próxima da foz do rio Amazonas, despertou esperanças e pesadelos no Brasil. No Amazonas a situação entre formadores de opinião, políticos e sindicalistas não é diferente.
Ex-assessor da presidência da Petrobras, na gestão de Jean Paul Prates, Marcelo Ramos avalia que a exploração de petróleo na região é segura porque a empresa tem um histórico de preocupações ambientais e zero problemas nessa área em mais de 50 anos de exploração em alto mar.
“A Petrobras já faz isso há muito tempo. Agora quer dizer que ela pode explorar petróleo na bacia de Campos, que está a 200 quilômetros da praia de Copacabana e não pode pesquisar, não é nem explorar ainda, a 570 quilômetros do Oiapoque?”, questiona o deputado.
O coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM), Marcus Ribeiro, afirma que a Petrobras é uma empresa comprometida com o respeito e a proteção ao meio ambiente, tanto que não há casos de desastres ambientais na exploração de petróleo em alto mar. O único episódio que pode chegar perto de problema é o afundamento da plataforma P32, em 2001, mas não foi decorrência da exploração de poços de petróleo.
Ribeiro também cita a favor da companhia que ela opera dentro da floresta amazônica, no meio do maior bioma do País, sem qualquer registro de problemas ambientais, numa referência a província petrolífera de Urucu, no município de Coari, região do Médio Solimões.
“A Petrobras tem total capacidade técnica e ambiental para operar com segurança naquela região. O maior exemplo disso é Urucu, no coração da Amazônia, onde há mais de três décadas a companhia desenvolve uma produção de petróleo e gás com extremo cuidado ambiental, sem registros de acidentes de grande porte. Urucu é uma referência mundial em operação sustentável em ambiente sensível”, afirma Ribeiro, completando que o licenciamento é uma boa notícia para toda a região.
Cientistas alertam para mudança climática
Na comunidade científica a Licença de Operação dada a Petrobras é um erro, pois os estudos não foram completados e há muitos riscos ambientais não dimensionados tanto pela Estatal quanto pelo órgão licenciador. Há também quem defenda o fim da exploração de petróleo para conter as mudanças climáticas.
Um dos cientistas integrantes do painel climático e co-presidente do Painel Científico para a Amazônia, Carlos Nobre alerta que a região amazônica está “muito próxima do ponto de não-retorno” e que novas explorações de combustíveis fósseis agravam a crise climática. Para ele, “não há nenhuma justificativa para qualquer nova exploração de petróleo”. Combustíveis fósseis liberam gás carbônico, o principal gás do efeito estufa e responsável pelo aquecimento global.

Já o ponto de não retorno é definido pelos cientistas como o momento em que o planeta elevar sua temperatura em 2% do que era no início da era industrial. Atingido este ponto, geleiras podem derreter, o mar subir e engolir cidades, além de aumentar a salinidade de águas doces.
O físico Paulo Artaxo, também pesquisador de mudança do clima, integrante do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC), afirma que abrir novas áreas de produção de petróleo “vai auxiliar a agravar ainda mais as mudanças climáticas e, certamente, isso vai contra o interesse do povo brasileiro”.
“Às vésperas da COP 30, o Brasil se veste de verde no palco internacional, mas se mancha de óleo na própria casa. Enquanto o mundo se volta para a Amazônia em busca de soluções para a crise climática, vemos o Ibama conceder licença para que a Petrobras abra um poço de petróleo em pleno coração do planeta”, criticou a coordenadora da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, Mariana Andrade.
Clima de Fla X Flu também na sociedade
O espelho dessa tensão pode ser visto em dados recentes de opinião pública: em levantamento da CNT (Confederação Nacional do Transporte) realizado em fevereiro de 2025, 49,7% dos brasileiros disseram ser contra a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, enquanto apenas 20,8% se declararam favoráveis (16,5% se disseram indiferentes). Entre os que se opõem, 43% justificaram sua posição afirmando que “a região é de grande importância ambiental e deve ser preservada a todo custo”; 25,6% apontaram “alto risco de desastres ambientais, como vazamentos de óleo”.
Já entre os que dizem apoiar a exploração, 37,2% acreditam que ela “pode gerar empregos e movimentar as economias local e nacional”; 20,4% afirmam que o petróleo é um recurso energético estratégico para o desenvolvimento do país.
Desenvolvimento econômico x riscos ambientais
A exploração de petróleo na Margem Equatorial tem capacidade de fazer o Produto Interno Bruto do Amapá disparar em até 61%, estimam os economistas do Estado, o que seria um impulso para o desenvolvimento regional em um Estado que vive da renda de funcionários públicos federais, estaduais e dos municípios.
A instalação de uma indústria sofisticada, como a de petróleo e gás, faria saltar as atividades econômicas, com benefícios se estendendo até para o Amazonas, pois a refinaria mais perto para receber o petróleo produzido nas águas do Oiapoque é a Refinaria da Amazônia (Ream), em Manaus.
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Haverá também necessidade de recursos humanos qualificados, que o Amapá não os tem neste momento, o que cria oportunidade de emprego e renda para jovens que estão se formando em instituições como as universidades federais e as estaduais.
Para se ter ideia do que é possível fazer com o volume de recursos que pode irrigar a economia amapaense, é preciso dar uma olhada no que acontece no município fluminense de Maricá (RJ), que recebe o maior volume de royalties de petróleo gerado pela exploração na bacia de Campos. O município, oferece, por exemplo, passe livre em todo o transporte público, tem a melhor rede de hospitais municipais do Rio de Janeiro.

Tome-se como exemplo o Produto Interno Bruto do Amapá em 2021, seu melhor ano, que foi de R$ 20,01 bilhões (0,2% do PIB nacional), e compare com o de Maricá no mesmo ano: R$ 85,1 bilhões.
Já na outra ponta, os ambientalistas defendem que em caso de acidente, não está claro no processo de licenciamento como o óleo será contido, pois não houve mapeamento das correntes marítimas da região; há riscos para os grandes manguezais que abrigam uma fauna e flora ainda desconhecida, além de um derramamento de óleo ter potencial para interferir na vida de diversas comunidades ribeirinhas e indígenas que vivem na margem equatorial.






