A Câmara de São Paulo deve abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, na região central de São Paulo. A CPI deve ser instalada em fevereiro, depois do recesso parlamentar.
O autor da proposta é o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), que já conseguiu as assinaturas necessárias para a instalação da comissão. Segundo Nunes, um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), o padre Julio Lancellotti, famoso por suas ações humanitárias junto aos pobres e usuários de drogas, será um dos principais alvos da CPI das ONGs. Lancellotti é da Paróquia de São Miguel Arcanjo, que realiza trabalho filantrópico na Cracolândia.
Nunes disse que as ONGs promovem uma “máfia da miséria” que “explora os dependentes químicos do centro da capital”. Segundo ele, essas organizações recebem dinheiro público para distribuir alimentos, kit de higiene e itens para o uso de drogas, prática conhecida como política de redução de danos, à população em situação de rua, o que, argumenta ele, gera um “ciclo vicioso” no qual o usuário de crack não consegue largar o vício.
Leia mais:
Câmara de São Paulo aprova título de cidadã paulistana a Michelle Bolsonaro
VÍDEO: Motorista atropela 16 pessoas na Cracolândia, em SP, após suposta tentativa de assalto
No pedido de abertura da CPI, Nunes escreve:
“Os dependentes químicos precisam de programas de tratamento de alta qualidade para ajudar a superar o vício. Uma CPI pode avaliar a eficácia dos programas oferecidos pelas ONGs, determinando se elas estão alcançando os resultados desejados, pois em algumas situações, pode haver preocupações éticas, como a exploração de dependentes químicos”.
O vereador ainda explicou que duas entidades serão prioridade nas investigações conduzidas pela comissão: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecida como Bompar, e a Craco Resiste. Lancellotti já foi conselheiro do Bompar.
Sobre a questão, Lancellotti disse que a instalação de CPIs para investigar o uso de recursos públicos pelo terceiro setor é uma ação legítima do Poder Legislativo. Além disso, acrescentou que não faz parte de nenhuma organização conveniada à Prefeitura de São Paulo, mas, sim, da Paróquia São Miguel Arcanjo.
A notícia da CPI já provoca polêmica no meio político e nas redes sociais, com políticos de esquerda chamando a abertura da comissão de “perseguição ao padre Lancellotti”. A vereadora Luana Alves (PSOL) afirmou no X, ex-Twitter:
“A direita quer instalar uma CPI na Câmara de SP para perseguir o Padre Júlio Lancelotti, por seu trabalho em defesa da população em situação de rua. Quem será o próximo alvo da direita conservadora? Jesus Cristo? São Francisco de Assis? Irmã Dulce?”.
O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) manifestou solidariedade ao padre. Ele escreveu:
“Me coloco à disposição para prestar meu depoimento pessoal sobre o sua extraordinária luta e atuação tão significativa junto à população em situação de rua, desde que foi designado por Dom Paulo Evaristo Arns”.
Nas redes sociais, também tem sido apontado um viés eleitoral para a instalação da CPI: Em ano eleitoral, as ações da comissão poderão ter impacto nas campanhas. Lancellotti é aliado do deputado federal e pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL), enquanto Rubinho apoio o projeto de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Com informações de UOL.