À primeira vista, a direita no Amazonas parece preparada para uma reconquista estratégica nas eleições de 2026. Mas, ao olhar de perto, o cenário é bem mais fragmentado: de um lado, um bloco coeso e em ascensão; do outro, nomes dispersos, sem protagonismo ou direção.
No primeiro grupo, a movimentação é clara e articulada. Há presença constante nas redes sociais, alinhamento com a base bolsonarista e ações coordenadas que deixam evidente o objetivo de ocupar espaços mais altos no próximo pleito.
Capitão Carpê e Delegado Péricles, por exemplo, são cotados para disputar vagas na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). Já Rosses e Salazar ganham força rumo à Câmara Federal. Todos têm algo em comum: conteúdo contínuo, imagem forte, inserção estratégica nas redes e proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Além disso, os quatro aparecem constantemente juntos com Alberto Neto, seja em fiscalizações ou no lazer do final de semana, demonstrando uma coalizão em pró da direita. Estão em sintonia com o discurso conservador e sabem como entregá-lo ao eleitorado de forma direta e eficaz.
Esse grupo mostra uma narrativa bem construída: estrutura partidária, comunicação ativa e posicionamento político claro.
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E do lado de lá?
No grupo que segue sem direção, há parlamentares eleitos sob a onda bolsonarista de 2022 que ainda não entenderam que a retórica sozinha não sustenta um projeto político. E pior: parecem não ter clareza de onde estão nem para onde querem ir.
Débora Menezes (PL), deputada estadual eleita com pouco mais de 32 mil votos, chegou com apelo conservador feminino — mas sua comunicação é morna e desconexa. Aborda temas relevantes como infância, segurança e família, mas sem consistência narrativa. Há presença digital, mas não há propósito político claro. Débora parece mais uma parlamentar técnica do que uma liderança em construção. Tem base, tem estrutura — falta rumo.
Cabo Maciel (PL), por sua vez, segue no cargo por inércia. Com apoio fixo de corporações e bases no interior, mantém a cadeira na Aleam, mas está completamente fora da engrenagem estratégica da nova direita. Não articula blocos, não se movimenta como liderança e não é citado como nome viável para nenhum salto em 2026. É um quadro da velha guarda, funcional, mas sem força de mobilização.
Raiff Matos (PL), vereador em Manaus, também se apresenta como conservador, cristão e defensor da família — mas suas redes revelam uma atuação genérica, com foco exclusivo em valores religiosos e poucas ações de impacto real. Falta presença política e falta, principalmente, conexão com a militância da direita. Sem articulação com a base e sem se posicionar como liderança municipal, Raiff corre o risco de seguir sem muita relevância no tabuleiro de 2026.
Na política moderna, ter mandato não é suficiente. É preciso ter mensagem, narrativa, posicionamento e mobilização. O grupo que compreender isso primeiro — e agir com planejamento — vai largar na frente na corrida eleitoral mais acirrada da direita amazonense dos últimos tempos.
Débora, Maciel e Raiff ainda não compreenderam esse jogo. Seguem presos ao discurso institucional e a uma presença digital apagada. Publicar foto em gabinete e repetir que “vai lutar pela população” não é estratégia — é tentativa de sobreviver politicamente.
A eleição de 2026 já começou. E o bloco que souber se comunicar com o eleitor — de forma autêntica, estratégica e conectada — será o que vai ditar as regras no campo da direita.