Maior produtor de alimentos do mundo, Brasil também está entre os que mais desperdiçam comida

Programa Estadual de Combate ao Desperdício de Alimentos atua em feiras de Manaus
Nesta segunda-feira (29) acontece o Dia Internacional da Conscientização sobre Perdas e Desperdício Alimentar, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) que chama atenção para os impactos negativos do problema, que também afeta os que vivem em insegurança alimentar e tem potencial de impactar o meio ambiente
Maior produtor de alimentos do mundo, o Brasil é, ao mesmo tempo, um dos países que mais desperdiçam comida e só recentemente saiu do Mapa da Fome elaborado pela ONU.
São, conforme estimativa da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária (Embrapa) 27 milhões de toneladas de alimentos desperdiçadas anualmente. Isso significa que quase 30% de toda a comida produzida no país vai parar no lixo, aumentando o impacto ambiental, ao mesmo tempo, em que 33 milhões de brasileiros enfrentam algum grau de insegurança alimentar grave.
O desperdício ocorre em toda a cadeia produtiva: desde a colheita e transporte até o varejo e consumo doméstico. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos no planeta, um dado ainda mais chocante diante dos impactos sociais e ambientais dessa prática.
Nas residências, estima-se que cerca de 60% dos alimentos descartados poderiam ser aproveitados com técnicas simples, como o uso integral dos ingredientes e o planejamento de refeições. Já na etapa do comércio, problemas como má armazenagem, prazos curtos de validade e padrões estéticos exigentes fazem com que toneladas de frutas, legumes e verduras em perfeito estado sejam descartadas antes mesmo de chegarem às prateleiras.
Além da questão ética e social, o desperdício de alimentos tem um custo ambiental altíssimo. A produção de comida que não será consumida consome água, energia, solo e insumos agrícolas, e ainda contribui significativamente para a emissão de gases de efeito estufa. Só o desperdício global de alimentos é responsável por cerca de 10% das emissões totais de gases causadores do aquecimento global, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
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Programa de combate é lei no Amazonas
O combate ao desperdício de alimento no Amazonas se transformou em lei em 3 de novembro de 2020, a de número 5.297/2020. Essa norma criou o Programa Estadual de Combate e Prevenção ao Desperdício e à Perda de Alimentos que tem por objetivo e compromisso de reduzir as perdas e desperdícios de alimentos e contribuir com a segurança alimentar e nutricional através da coleta de alimentos que não foram comercializados, mas que ainda estão em boas condições para o consumo, e os entrega às instituições socioassistenciais cadastradas de modo a complementar seus cardápios e alimentar o público atendido.
O operador deste programa é a Secretaria de Estado a Produção Rural (Sepror), que em 2020 recolhia nas 45 feiras ativas de Manaus um total de 90 toneladas de alimentos. No último ano, com dados oficiais, em 2022, o programa recolheu ao final do ano 491,9 mil toneladas de alimentos, que foram distribuídas para 838 entidades assistenciais e viraram alimentos para 317,9 mil amazonenses em situação de vulnerabilidade alimentar.
Transformando resíduos em adubo
Combater o desperdício, portanto, é uma urgência que passa por ações individuais, políticas públicas e iniciativas do setor produtivo. Se nas residências o desperdício afeta o bolso do cidadão comum, o problema ganha escala inimaginável em restaurantes e mais ainda em cozinhas industriais, mas sempre há oportunidades.
Atuando no Amazonas com cozinhas industriais há 15 anos, a VV refeições produz 260 mil refeições diárias em fábricas do Polo Industrial de Manaus, hospitais e escolas públicas e em eventos corporativos. A nutricionista Taína Albuquerque, coordenadora-geral de Operações da VV Refeições, disse que operar um volume tão grande de alimentos gera um grande volume de desperdício, que eles hoje estão diminuindo com projetos onde o que sobra da mesa do trabalhador vira alimentos para criação de animais e adubos orgânicos para produtores rurais.
“A iniciativa de produzir ecoadubo a partir de cascas de ovo e borra de café está dando excelentes resultados na Moto Honda e agora queremos espalhar essa iniciativa para outras empresas que atendemos em Manaus”, afirmou a nutricionista.
A Condomínio de Restaurante, uma cooperativa de empresas que mantém cozinhas industriais no PIM, também se preocupa com a destinação dos resíduos, mantendo parcerias estratégicas com a rede de fornecedores e entidades assistenciais.
“O que sobra dos nossos buffets são retrabalhados e, com nossos parceiros, viram comidas pra serem distribuídos à população em situação de rua. O importante é usarmos a criatividade, isso serve para qualquer casa também, para sabermos retrabalhar o alimento que não foi consumido hoje e que não pode ser jogador fora”, ensina o executivo de uma das cozinhas do condomínio, Roberto de Sá Alves, citando que sobra de arroz vira bolinho, sobra de feijão, caldinho.
Veja algumas dicas para evitar desperdício de alimentos:
1. Planeje suas refeições
Antes de ir às compras, monte um cardápio semanal e faça uma lista com os ingredientes exatos. Isso evita compras por impulso e garante que você só leve o necessário.
2. Armazene corretamente os alimentos
Cada alimento tem uma forma ideal de conservação. Frutas, legumes, grãos e carnes devem ser armazenados em temperaturas e embalagens adequadas para durar mais e manter os nutrientes.
3. Aproveite integralmente os alimentos
Use talos, cascas, sementes e folhas em receitas criativas como bolos, caldos, sopas e sucos. Eles são ricos em fibras, vitaminas e minerais, e ainda reduzem o lixo orgânico.
4. Respeite a ordem de validade (FIFO)
Organize a despensa e geladeira com o método “primeiro que entra, primeiro que sai” (FIFO – First In, First Out). Assim, os produtos mais antigos são consumidos antes de vencerem.
5. Cozinhe porções adequadas
Evite preparar comida em excesso. Calcule a quantidade ideal por pessoa, especialmente em eventos ou no dia a dia. Sobras são boas, mas em excesso podem acabar indo pro lixo.
6. Congele sobras e alimentos perecíveis
Se sobrar comida ou perceber que não vai consumir algo a tempo, congele em porções. Isso preserva o alimento e facilita a próxima refeição.
7. Fique atento aos rótulos: validade x consumo
“Validade” é diferente de “consumir preferencialmente até”. O primeiro indica risco à saúde, o segundo apenas perda de qualidade. Muitos alimentos ainda estão bons após a data de preferência.
