Nesta quarta-feira (10/7), o prédio que foi palco de uma das maiores fatalidades do país começou a ser demolido. Depois de 11 anos do ocorrido, o que ficou da estrutura será removido para a instalação de um memorial em homenagem às 242 vítimas que perderam suas vidas naquele fatídico dia.
Na manhã de hoje, um ato simbólico marcou o início da construção do memorial, que ocorreu desde as 9h até às 17h da tarde. Familiares, sobreviventes, entes públicos e moradores do município estiveram presentes.
O ato foi iniciado com a leitura de uma carta escrita por Gabriel Barros, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria. Em seguida, arquitetos e engenheiros envolvidos no projeto do memorial da Kiss discursaram, assim como autoridades e membros do Ministério Público.
“A gente entende que o memorial, para além de uma construção feita de tijolo e cimento, é uma construção que se inicia na palavra e carrega muito a história consigo”, afirma o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi Barros.
O letreiro e o portão da casa noturna foram retirados e irão compor o acervo do memorial. Esses outros materiais devem formar uma exposição itinerante, que tem como proposta preservar a memória e conscientizar as pessoas sobre a tragédia.
O projeto do memorial vai ser desenvolvido pelo arquiteto paulista Felipe Zene Motta, após ser selecionado mediante um concurso realizado em 2018. Sua proposta inclui a construção de um jardim central e um edifício térreo de fácil construção e manutenção.
O memorial terá uma área de 383,65 metros quadrados, incluindo três salas: um auditório com capacidade para 142 pessoas, uma sala multiuso e uma sala que será a sede da AVTSM. Além disso, haverá um jardim circular no centro, rodeado por 242 pilares de madeira, representando cada uma das vítimas. Esses pilares exibirão os nomes das vítimas e servirão como suportes para flores.
“Hoje, a ruína da boate é um monstro que todos associam imediatamente à tragédia. O memorial busca transformar esse local em um espaço que transmita paz e algum conforto para os familiares, sem apagar a memória da tragédia”, afirma o arquiteto.
Leia mais:
VÍDEO: Incêndio atinge casa de idosos no Japiim
Policial é suspeito de vender celulares a detentos de presídio da Grande BH
Relembre o caso da Boate Kiss
O julgamento dos réus levou nove anos para acontecer e durou dez dias em dezembro de 2021. Foi o tribunal do júri mais longo da história do Rio Grande do Sul. Na ocasião, dois sócios da boate e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira foram condenados por dolo eventual — quando, mesmo sem desejar o resultado, se assume o risco de matar. As penas foram de 18 a 22 anos de prisão.
No entanto, o julgamento foi anulado em agosto de 2022, por irregularidades na condução do processo, o que levou à soltura dos réus. A defesa dos réus alegou problemas na escolha dos jurados e em uma reunião reservada entre o grupo o juiz presidente do tribunal, Orlando Faccini Neto, sem a participação da defesa e do Ministério Público.
Em maio deste ano, a PGR pediu ao STF que condenações de réus da Boate Kiss sejam restabelecidas. O documento solicita que a retomada das penas de Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos.