A eleição do cardeal norte-americano Robert Francis Prevost como o novo papa, na quinta-feira (8/5), gerou uma onda de especulações nas redes sociais, muitas delas associando o pontífice ao fim dos tempos descrito no livro do Apocalipse, da Bíblia.
Prevost, que adotou o nome de Leão XIV, foi eleito o 267º papa da Igreja Católica em um conclave com 133 cardeais. Pouco após o anúncio, internautas passaram a relacionar sua origem americana, seu nome e a numeração papal a passagens do capítulo 13 do Apocalipse, que trata da ascensão de duas bestas, uma saída do mar (associada ao poder político) e outra da terra (vinculada ao poder religioso).
As teorias apontam ainda que o nome “Leão”, mencionado no versículo 11 do capítulo, somado ao número “XIV”, que sucede o número 13, seria um sinal simbólico de cumprimento da profecia. Essas interpretações, no entanto, não encontram respaldo teológico.

Para o pastor e pesquisador Kenner Terra, doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, tais especulações são “invenções perigosas” e distorcem completamente o sentido original do texto bíblico.
“Teorias da conspiração conectam elementos soltos e sem relação em uma narrativa aparentemente coerente. É assim que elas funcionam: pegam o nome Leão, o número 13, o papa, e constroem uma ideia completamente sem base”, afirmou.
O que diz os trechos da bíblia?
O capítulo 13 do livro do Apocalipse faz parte do Novo Testamento e foi escrito por João no século 1. Diz o versículo 1:”E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia.”
Leia mais
Saiba quem é Leão XIV, o novo Papa
E diz o versículo 11: ” E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a boca de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio”.
Terra, que também é professor na Faculdade Instituto Rio de Janeiro (Fiurj), explica que o capítulo 13 do Apocalipse, escrito por João no século 1, é uma crítica velada ao imperador romano Nero César. As figuras das bestas seriam, portanto, metáforas para os sistemas de opressão política e religiosa da época.
Apesar da falta de fundamento, a associação entre o papado e o “anticristo” não é nova. Ela remonta à Reforma Protestante e já surgiu em outros momentos da história. O versículo final do capítulo, que menciona o número 666, também foi usado nas postagens recentes como suposta “prova” de que o novo papa representa uma ameaça espiritual.
“O Apocalipse é um livro profundamente simbólico e contextual. Usá-lo para alimentar desinformação ou medo coletivo é não só um erro, como um desserviço à fé”, concluiu o pastor.
*Com informações do G1.