Doença renal crônica atinge recorde global e se torna a 9ª principal causa de morte no mundo

Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu formalmente a DRC em sua meta de reduzir em um terço as mortes prematuras por doenças não transmissíveis até 2030. (Foto: arte/ reprodução)
Um novo estudo aponta que o número de pessoas com função renal reduzida atingiu um recorde global: 788 milhões em 2023, quase o dobro dos 378 milhões registrados em 1990. O crescimento acompanha o envelhecimento populacional e consolidou a doença renal crônica (DRC) como a nona principal causa de morte no mundo, segundo análise liderada por pesquisadores do NYU Langone Health, da Universidade de Glasgow (Escócia) e do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME), da Universidade de Washington (EUA).
A doença ocorre quando os rins perdem, de forma progressiva, a capacidade de filtrar resíduos e excesso de líquidos do sangue. Nos estágios iniciais, pode não apresentar sintomas, mas casos graves exigem diálise, terapia de substituição renal ou transplante.
O levantamento, publicado na quinta-feira (6/11), a revista The Lancet mostra que cerca de 14% dos adultos no mundo têm DRC. Em 2023, a doença causou 1,5 milhão de mortes, um aumento de 6% em relação a 1993, mesmo considerando as diferenças etárias entre países.
“Nosso trabalho mostra que a doença renal crônica é comum, mortal e está se agravando como um importante problema de saúde pública”, afirmou Josef Coresh, diretor do Instituto de Envelhecimento Ideal da NYU Langone e coautor do estudo. “Essas descobertas apoiam os esforços para que a doença seja reconhecida, junto com o câncer, as doenças cardíacas e os transtornos mentais, como uma prioridade global.”
Em maio de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu formalmente a DRC em sua meta de reduzir em um terço as mortes prematuras por doenças não transmissíveis até 2030.
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Impacto global e riscos associados
O relatório integra o Global Burden of Disease (GBD) 2023, o maior esforço internacional de monitoramento de saúde, que analisou 2.230 artigos científicos e dados nacionais de 133 países.
Os pesquisadores destacaram que a função renal comprometida também é um importante fator de risco para doenças cardiovasculares, contribuindo para cerca de 12% das mortes cardíacas no mundo. A DRC foi ainda a 12ª principal causa de incapacidade global em 2023.
Os principais fatores de risco identificados foram:
- Hiperglicemia
- Hipertensão arterial
- Obesidade
Segundo os autores, a maioria dos diagnósticos ocorre ainda nos estágios iniciais da doença, uma vantagem que permite tratamento precoce e evita intervenções mais invasivas, como a diálise.
“A doença renal crônica é subdiagnosticada e subtratada”, destacou o nefrologista Morgan Grams, professor da Escola de Medicina Grossman, da NYU. “Nosso relatório reforça a necessidade de ampliar os exames de urina para diagnóstico precoce e garantir que os pacientes tenham acesso ao tratamento adequado.”
Grams ressaltou ainda que, em regiões de baixa renda, como a África Subsaariana, o Sudeste Asiático e partes da América Latina, o acesso à diálise e ao transplante renal ainda é limitado.
Novos tratamentos e desafios futuros
Nos últimos cinco anos, novos medicamentos vêm mostrando capacidade de retardar a progressão da DRC e reduzir o risco de infarto, AVC e insuficiência cardíaca. No entanto, os especialistas alertam que os benefícios em larga escala ainda dependem de políticas de acesso e diagnóstico precoce.
“Há avanços promissores na medicina, mas é preciso garantir que essas inovações cheguem a todos os pacientes, independentemente da renda ou localização geográfica”, conclui o estudo.






