Nas últimas semanas, a internet tem sido palco de uma avalanche de vídeos ultrarrealistas gerados por inteligência artificial (IA), que viralizam em redes sociais como TikTok, Instagram e WhatsApp. As criações, que vão desde programas de auditório fictícios apresentados por personagens como Marisa Maiô, até figuras bíblicas agindo como influenciadores digitais ou um suposto canguru de apoio emocional embarcando em um avião, têm confundido milhares de usuários.
A pergunta que fica é: como distinguir o que é real do que é produzido por IA?

Esses vídeos altamente realistas são produzidos, em sua maioria, com o Veo, uma ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pelo Google. O Veo é capaz de criar vídeos curtos, de até oito segundos, a partir de um simples prompt — ou seja, um comando de texto que descreve o que se quer ver.
O diferencial do Veo está na qualidade da imagem, na inserção de sons ambientes, vozes convincentes e na redução de erros comuns em produções anteriores de IA, como distorções bizarras ou movimentos pouco naturais.
Avanço tecnológico e novos desafios
De acordo com o especialista em inteligência artificial Ricardo Marsili, diferenciar vídeos reais de conteúdos gerados por IA está cada vez mais difícil. Ele alerta que a situação se agrava quando estamos relaxados, consumindo conteúdos de forma rápida nas redes sociais:
“Esses vídeos podem passar batidos, justamente porque a atenção do público está dispersa”, explicou Marsili.
Já o program manager da escola de tecnologia Alura e também especialista em IA, Fabrício Carraro, reforça que será essencial desenvolver uma postura de ceticismo crítico diante de qualquer vídeo ou áudio compartilhado online. Para ele, o futuro da informação depende da capacidade de cada pessoa — e da sociedade como um todo — de questionar, verificar e entender os limites entre realidade e criação artificial.

Dicas de especialistas para identificar vídeos feitos com IA
Apesar dos avanços, ainda existem sinais que podem ajudar a perceber se um vídeo foi gerado por IA. Os especialistas destacam alguns detalhes importantes para observar:
Microexpressões faciais: Olhe atentamente para os movimentos dos olhos e lábios. Em muitos casos, podem parecer mecânicos ou desconectados da emoção expressa.
Sincronia labial: Verifique se os lábios estão realmente sincronizados com a fala. Pequenas falhas ainda são comuns.
Sorrisos exagerados: Muitas IAs geram expressões faciais que parecem forçadas ou um pouco assustadoras.
Detalhes das mãos: Repare se as mãos têm um número correto de dedos e se os movimentos são naturais.
Textura da pele: Em vídeos de IA, a pele costuma parecer excessivamente lisa, como se houvesse um filtro permanente.
Luz e sombras: Cheque se a iluminação faz sentido e se os objetos têm sombras consistentes.
Bordas borradas: Contornos pouco definidos podem denunciar que a cena é sintética.
Leis da física: Fique atento a interações estranhas, como objetos flutuando ou desaparecendo sem explicação.
Marcas d’água
Uma estratégia usada por grandes empresas de tecnologia para combater o uso indevido desses vídeos é a inserção de marcas d’água. No caso do Veo, vídeos costumam trazer discretamente a palavra “Veo” no canto inferior direito. Além disso, o Google implementou uma marca d’água invisível chamada SynthID, que fica embutida nos metadados do arquivo. Essa assinatura digital é muito mais difícil de remover.
“Mesmo assim, sempre existirão pessoas tentando burlar essas identificações”, alerta Marsili.
“A indústria da IA sabe disso e está constantemente criando novas formas de proteger o conteúdo e permitir que usuários reconheçam o que é real.”
Desconfiar sempre
Por mais que existam técnicas para analisar vídeos, o principal conselho dos especialistas é desconfiar sempre. Carraro lembra que, à medida que a tecnologia avança, fica cada vez mais difícil perceber a diferença entre o real e o fabricado.
“Quanto mais essa tecnologia evolui, mais difícil vai ser fazer essa distinção […] Se alguma coisa parecer espetacular demais para ser verdade, vale a pena desconfiar e buscar em fontes confiáveis. O mais importante é sempre adotar uma postura de ceticismo crítico quando receber um vídeo no WhatsApp e em outras redes sociais de agora em diante.”
“A principal dica ainda é o contexto [,…] Será que faz sentido aquilo que está sendo dito, o cenário que está sendo apresentado, as roupas que estão sendo usadas?””, reforça Marsili.
*Com informações de CNN.