O sucesso dos filmes de terror em 2025: Por que tanta gente gosta de se assustar no cinema?

Cena do filme “Invocação do Mal 2” (Foto: Divulgação).
Em 2025, o cinema continua experimentando um declínio no número de espectadores, e esse é um fenômeno global: desde a pandemia de Covid-19, a frequência dos espectadores não voltou ao patamar de 2019 e anos anteriores. Mesmo grandes blockbusters, os filmes arrasa-quarteirão, que há uma década seriam sucessos garantidos, têm tido dificuldades para atrair espectadores. O fato é que, pós-pandemia, um número cada vez maior de espectadores tem dado preferência para os seus serviços de streaming, e optam por esperar um pouco para ver filmes em casa.
No entanto, com um gênero Hollywood pode contar: o terror. Neste ano, o gênero tem sido responsável por alguns dos maiores sucessos do ano, e apresenta constância – praticamente estreia um filme de terror por semana nas salas. Um levantamento da bilheteria nos Estados Unidos constatou que filmes de terror totalizaram entre 15% a 17% da bilheteria total dos lançamentos de cinema no país.
Mais do que isso, o gênero tem entregado obras que provocam discussão e têm mexido com o público: “Pecadores” é um dos filmes mais elogiados do ano e poderá figurar em algumas indicações ao Oscar 2026; “A Hora do Mal” dominou as bilheterias por várias semanas; “Faça Ela Voltar” virou queridinho da crítica; e sucessos como “Premonição 6: Laços de Sangue”, “Extermínio: A Evolução”, “Nosferatu” e “Acompanhante Perfeita” agradaram ao grande público.

Por causa disso, vale perguntar: Por que tanta gente gosta de se assustar ou ver imagens perturbadoras no cinema, ou no streaming, em casa?
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O terror como catarse
Filmes provocam catarses emocionais, e esse sentimento é importante para o público. É por isso que histórias nos emocionam, independente do gênero.
Há vários estudos, inclusive, que apontam o papel terapêutico de filmes de terror: Em 2020. quando o mundo entrava em isolamento, um estudo da Universidade de Chicago dizia que fãs de filmes de terror lidavam melhor com as ansiedades provocadas pela pandemia de Covid-19 do que as pessoas que fogem desse tipo de gênero cinematográfico. Posso citar também este artigo da revista norte-americana Psychology Today, no qual o autor fala do papel dos filmes de terror como redutor da ansiedade para algumas pessoas.
Basicamente, o que os pesquisadores afirmam nestes artigos é que os filmes de terror permitem a uma parcela do público experimentar emoções negativas e ansiedades de forma controlada. E a exposição a isso aos poucos nos ajuda a lidar com as ansiedades da vida real, essas sim bem mais assustadoras.
Danilo Areosa, psicólogo e crítico de cinema do site amazonense Cine Set, explicou à Onda Digital sobre o impacto dos filmes de terror e o papel terapêutico que muitos deles podem ter sobre os espectadores:
“Freud no seu artigo ‘O Estranho’ de 1919 falava um pouco sobre o medo que era um sentimento primitivo da natureza humana porque foi reprimido e retornava de forma inesperada para causar uma sensação de inquietude e horror. Ele argumenta que o que nos assusta ou é estranho é aquilo que, por ter sido negado e recalcado em nosso inconsciente, volta à consciência para incomodar.
Pode-se dizer que os filmes de terror têm uma finalidade terapêutica porque eles produzem uma espécie de ‘faxina mental’ em nossa consciência. Geralmente eles provocam sensações ameaçadoras, mas por estamos em ambientes seguros (casa ou sala de cinema), e ao lado de outras pessoas que estão na mesma situação, permitem uma sensação de controle ou segurança sobre tais sentimentos, o que de certa forma traz o alívio ao final da sessão”.
Ele continua:
“Não podemos esquecer que os filmes de terror também ajudam a aliviar os estresses e as ansiedades da vida real, porque conduzem a imaginação para um cenário tenso que rapidamente se desfaz ao se confrontar com a realidade. É como se apreciássemos vivenciar a experiência porque lidamos com emoções primárias, como medo e ansiedade, mas também o bem-estar e o prazer proporcionado quando os créditos sobem. Isso, sem dúvida, é bem terapêutico no âmbito do entretenimento”.
No fim das contas, cineastas, críticos de arte e psicólogos concordam em ao menos um aspecto: quem se expõe com frequência aos medos (ou aos dramas) da ficção está mais bem preparado para lidar com essas emoções na vida real.
