A aproximação do ex-deputado federal Marcelo Ramos (PT) com os senadores Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM), que frequentemente ajudam com emendas parlamentares a gestão do atual prefeito David Almeida (Avante), não é uma surpresa e nem recente no cenário político. Caso Ramos não tivesse se lançado pré-candidato à Prefeitura de Manaus a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), provavelmente manteria o apoio à reeleição de Almeida, a quem já teceu elogios, mas que conforme uma auto análise não superam as qualidades, experiência na vida pública e articulação com governo federal dele próprio.
Integrantes da base aliada do governo Lula, os dois senadores do Amazonas ainda não declararam publicamente a quem irão apoiar na disputa eleitoral para o Poder Executivo na capital amazonense. Como o diretório nacional do PT não cobra que partidos aliados do presidente da República optem no pleito municipal deste ano por candidatos petistas, Braga e Aziz estão livres para fazerem suas escolhas.
Marcelo Ramos tem boa relação com os dois parlamentares, mas o prefeito de Manaus, David Almeida, que lidera ao lado do deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) as pesquisas de intenções de voto, não cansa de repetir que o MDB, de Eduardo Braga, e o PSD, de Omar Aziz, integram o arco de partidos aliados à sua reeleição. Nesta conjuntura, a “amizade” prevalece sobre a conveniência política?
Em 2017, na eleição suplementar para o Governo do Amazonas, Braga e Marcelo Ramos protagonizaram uma união improvável por serem opositores um do outro. Eles formaram uma chapa para concorrer ao pleito que substituiria o então governador interino David Almeida, que na época por ser presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) assumiu o posto de chefe do Poder Executivo Estadual no lugar do cassado José Melo.
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Na ocasião, Eduardo Braga, pelo antigo PMDB [hoje sem o P], e Ramos, pelo PR que posteriormente virou o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, se lançaram, respectivamente, como candidatos a governador e vice-governador. Chegaram até o segundo turno, mas perderam para a chapa encabeçada por Amazonino Mendes.
Depois de sobreviver politicamente à aliança com Braga e chegar até a vice-presidência da Câmara dos Deputados no primeiro e único mandato até o momento como deputado federal [2019-2023], Marcelo Ramos mantém uma relação cordial com o senador do MDB. Principalmente depois que o próprio Lula, lembrado e elogiado pelo pré-candidato petista à Prefeitura de Manaus sempre que acha necessário, apoiou a campanha de Eduardo Braga ao governo do Estado, em 2022. Na referida eleição, Anne Moura (PT), desbancada neste ano por Ramos para a disputa ao Executivo Municipal pela sigla de esquerda, foi a vice de Braga, por escolha também de Lula.
A relação de Marcelo Ramos e Omar Aziz é mais sólida. Amigos e aliados políticos de longa data, Ramos aceitou o convite de Aziz e se filiou, em 2022, ao partido do senador, que é presidente estadual do PSD no Amazonas, quando saiu do PL logo depois que a filiação de Bolsonaro, desafeto político do então deputado federal, se confirmou. A troca de legenda custou a vice-presidência da Câmara para Marcelo Ramos, que no mesmo ano também não conseguiu se reeleger como parlamentar.
Longe da vida pública desde fevereiro de 2023, Ramos voltou ao jogo político neste ano com o “empurrão” de Omar Aziz. Nos bastidores, dizem que a sugestão do nome do ex–deputado federal para ser o pré-candidato do PT à Prefeitura de Manaus foi do senador do PSD, que tem bastante abertura com Lula, a quem já se referiu como “grande amigo”.
Nesta quarta-feira (19/06), Marcelo Ramos fez questão de mostrar que a relação com Omar Aziz está intacta. Ele marcou presença em Brasília (DF), ao lado de Aziz, na sabatina do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o amazonense Mauro Campbell, para assumir o cargo de Corregedor Nacional de Justiça no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para o biênio 2024-2026.
E no sábado (15/06) passado, Ramos foi até o município de Parintins, a 420 km de distância do eleitorado dele em Manaus, para apoiar, na companhia do senador Eduardo Braga e outros políticos, o lançamento da pré-candidatura de Mateus Assayag, do PSD de Omar Aziz, à Prefeitura da Ilha Tupinambarana. Braga até citou nominalmente Marcelo Ramos quando discursou. Sinal de que o ex-deputado pode receber o mesmo suporte na capital pelo alinhamento visto em Parintins? Não necessariamente, alianças no interior do Amazonas nem sempre se repetem em Manaus e vice-versa.