‘Desestimulante’: Professora Jacqueline chama reforma da Previdência de retrocesso

Reproducao/Youtube
A vereadora Professora Jacqueline (União Brasil) classificou como “retrocesso” a reforma da Previdência aprovada pela Câmara Municipal de Manaus (CMM) na última segunda-feira (17/11). A declaração aconteceu durante entrevista ao Agente Político, transmitido pelo Diário da Capital, enquanto a parlamentar ainda estava como deputada estadual na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).
Em longa avaliação, ela afirmou que as mudanças atingem especialmente as mulheres e representam um duro golpe para quem dedicou a vida ao serviço público e à educação.
Segundo Jacqueline, a reforma impõe aumento no tempo de contribuição, ampliando em sete anos o período exigido das professoras. Para ela, esse impacto recai justamente sobre a categoria que, historicamente, é composta majoritariamente por mulheres.
“Nós mulheres aumentamos nossa carga de contribuição. Estamos sendo penalizadas porque nos cuidamos, cuidamos da família, dos alunos e de todos. E, ao final, pegamos essa carga”, afirmou.
A vereadora também criticou o argumento de que o sistema previdenciário poderia entrar em colapso no futuro. Para ela, trata-se de um discurso repetido há décadas, usado para justificar mudanças que penalizam servidores.
“Se os recursos forem bem aplicados, não precisa aumentar a contribuição. Esse discurso de que a Previdência vai acabar não nos convence mais”, declarou.
Ainda na entrevista, Professora Jacqueline chegou a afirmar que articulou com o então vereador Amauri Gomes, do mesmo partido, o qual esteve em sua bancada na Câmara Municipal de Manaus (CMM), para assegurar o voto contrário ao tema. Amauri esteve entre os 10 vereadores que se manifestaram contrários a reforma.
“O meu, que me substituiu, eu conversei com ele ‘você tem que votar com a categoria”’, frisou.
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Impacto direto na carreira docente
Mesmo assegurando que não está sendo afetada pela mudança, Jacqueline disse estar revoltada com os efeitos sobre colegas próximos da aposentadoria. Ela cita casos de profissionais que estavam a um ano de se aposentar e agora terão de cumprir mais dois anos de pedágio.
“O professor passa 25 anos em sala de aula, muitas vezes enfrentando violência, lidando com crianças com necessidades especiais, trabalhando em áreas de risco. Não é pouco. E receber um ‘presente’ desses desestimula totalmente”, disse.
A parlamentar reforçou que a medida pode agravar a escassez de professores em áreas como matemática, biologia e língua portuguesa, problema já enfrentado por diversas escolas.
“Muitas unidades não conseguem fechar a carga horária anual porque simplesmente não há professor”, alertou.
Desvalorização e risco de evasão da carreira pública
Para Jacqueline, a reforma cria um cenário ainda mais desanimador para quem pensa em ingressar na educação pública. Ela argumenta que, com salários defasados e carga de trabalho pesada, a aposentadoria alongada se torna mais um fator de desmotivação.
“Vai ser uma carreira escolhida por último. Se não der certo em outras profissões, aí a pessoa pensa em ser professor. Isso é um prejuízo enorme para a educação”, disse.
“Servidor público não é gasto, é investimento”
Jacqueline concluiu afirmando que a reforma se apoia em uma visão distorcida do serviço público. Ela rebateu narrativas de que servidores oneram as contas municipais.
“O bombeiro é servidor público, a enfermeira da UBS é servidora pública, o médico do hospital é servidor. São essas pessoas que procuramos quando precisamos. Educação não é gasto, é investimento”, afirmou.
Para a vereadora, a saúde financeira do município não pode ser construída em cima da categoria docente, que já enfrenta sobrecarga e desvalorização.
“O professor está sendo penalizado de todos os lados”, finalizou.
Assista à fala, via Diário da Capital:






