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Do álbum ao feed: até onde é saudável a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais?

Do álbum ao feed: até onde é saudável a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais?

Foto: Arquivo Pessoal/Carla Castello Branco

O modo como os pais registram a infância dos filhos mudou nas últimas décadas. Antes os momentos especiais eram guardados em álbuns com fotos reveladas e hoje esses registros ganharam espaço nas redes sociais e, muitas vezes, se tornando conteúdo para o público.

O nascimento, as primeiras palavras, apresentações na escola e até a birra no supermercado pode virar post. Até os anos 1990, era comum que as famílias tivessem álbuns físicos, cheios de fotografias e elas se reuniam na sala de casa para relembrar com carinho esses momentos.

No entanto, com o avanço da tecnologia e da internet, as plataformas digitais passaram a ocupar esse lugar. Agora, esses momentos são compartilhados não apenas com parentes e amigos próximos, mas com qualquer pessoa que esteja on-line.

Do porta-retrato ao feed

A jornalista e apresentadora do Conexão Onda, da Rede Onda Digital, Carla Castello Branco, reviveu a memória afetiva de folhear álbuns de fotografias com a família, que era um costume que marcava o modo como registrávamos e compartilhávamos momentos especiais no passado.

“O álbum de fotografia remete à saudade, remete a amor, remete à nossa base. A fotografia é isso, é uma mistura de sentimentos, lembrar de momentos tão importantes, de várias fases, de ciclos, de momentos deliciosos e que por muitas vezes é por meio da fotografia que a gente recorda e recordar também é viver”, destaca.

Veja o vídeo;

Do outro lado, o advogado Alexandre Torres escolheu um caminho diferente para registrar os momentos com a sua filha, Ágata, de apenas 6 meses, fruto do relacionamento com a jornalista Karol Maia. A iniciativa é chamada de sharenting, a prática em que os pais compartilham detalhes da vida dos filhos nas redes sociais.

“A ideia inicial era da gente fazer uma espécie de álbum de fotos e surgiu ainda na gravidez e a gente acompanhar toda essa fase de gravidez, do nascimento, e poder entregar para ela [Ágata] no futuro, quando ela tiver maturidade e ela mesma poder tocar o Instagram dela, mantendo ou não as fotos que a gente tirou dessa fase dela”, disse o advogado.

Veja o vídeo;

Alexandre Torres afirmou que pode deletar o perfil no Instagram, caso seja o desejo da filha. Ele destacou que as fotos publicadas são selecionadas pelo casal, sem expor a intimidade da criança, para conseguir construir boas memórias, respeitando a privacidade dela.

Do álbum ao feed: até onde é saudável a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais?
Foto: Arquivo Pessoal/ Alexandre Torres

Com brilho nos olhos, o advogado deixou um recado carinhoso e fez um pedido especial para a filha. “Em primeiro lugar, não me oculte dos seus stories, filha [risos]. Se você estiver vendo isso daqui a alguns anos, não me oculte, viu?! Espero que esse Instagram seja um perfil que você possa ter como um álbum digital, porque hoje as coisas são mais modernas, e que você possa fazer uso dele”, finalizou.


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Perigo da exposição

Mas será que estamos cientes dos riscos e entendemos os impactos causados por essa superexposição? O diretor da Polícia Civil do Interior (DPI), delegado Paulo Mavignier fez um alerta sobre os riscos enfrentados por crianças e adolescentes nas redes sociais.

A inocência, a brincadeira, toda essa etapa está sendo pulada em prol de uma necessidade sem razão dos pais de expor seus filhos a terceiros, que muito pouco têm a contribuir com a vida daquela criança. Pelo contrário, só têm a agregar valores negativos, pulando etapas, prejudicando a formação da criança, causando depressão, causando conflito de idade, afirma.

Veja o vídeo:

Outro ponto de atenção é o acesso irrestrito à internet e alguns pais acabam entregando celulares aos filhos sem supervisão.  Você, por exemplo, hoje protege o seu filho da rua, você protege de pessoas estranhas, mas você não protege o Wi-Fi da sua casa. Então você protege, você não permite que o pedófilo ou estranho aborde o seu filho na rua, mas dentro de casa você permite que ele chegue”, afirmou.

A situação preocupa, especialmente em regiões remotas do Amazonas. Segundo o delegado, o trabalho da Polícia Civil tem conduzido investigações sobre redes de pedofilia e extorsão digital em municípios do interior, como na região do Rio Purus, onde casos já foram identificados, mas ele não deu detalhes sobre os casos.

Mavignier afirmou que os pais não estão suficientemente conscientes sobre o perigo do acesso das crianças e dos adolescentes à internet. Ele alertou sobre os jogos on-line com sala de bate-papo que muitos pais não conhecem e são portas de entrada para criminosos.

Não pense que o abusador não sai do mundo virtual, não. Ele vai extorquir seu filho, vai manipular para que mande uma foto para ele, uma foto íntima. Depois que ele mandar a primeira foto, vai ameaçar jogar a foto da criança na internet e vai conseguir com isso muito mais fotos.”

Veja o vídeo:

Contramão social

A pediatra Kamilla Fernandes, que atua em São Paulo, decidiu viver na contramão da sociedade e decidiu não expor o filho, de 2 meses, nas redes sociais. Ela contou que não seria coerente recomendar algo aos pais e não seguir os próprios conselhos.

“Eu sou Pediatra e fiz especialização em Psiquiatria Infantil, portanto seria como eu recomendar algo e não fazer o que eu mesma recomendo. A decisão foi pensada desde a gravidez, e inclusive comecei a me trabalhar para reduzir meu tempo de tela também, (principalmente redes sociais)”, conta.

Fernandes revelou que se sente pressionada para publicar fotos do filho e que pretende dar celular para ele quando tiver 14 ou depois dos 16 anos, mesmo que isso contrarie uma vontade dele.

“Sinto um pouco de pressão para postar foto dele, já que optei por não o expor. Então, posto dicas e momentos com ele, mas sem expor o rosto. Não quero imaginar comentários negativos, nem imagem dele sendo usada por IA, ou por outros fins muito piores, e aqui entra o receio de predadores na internet. Eu não quero cuspir pra cima, mas escolha ele terá para muitas coisas, menos para o que eu considere nocivo para ele. Celular pretendo dar depois dos 14 anos, talvez até depois dos 16. Se antes, com certeza será com horário regrado, monitorizado e com aplicativos bloqueados”, finalizou.