O Xadrez do Senado no Amazonas em 2026: entre capital e interior, quem fica com as duas vagas?

(Arte: Rede Onda Digital)
As eleições para o Senado Federal no Amazonas têm sido marcadas pela forte diferença entre como votam os eleitores de Manaus e os dos municípios do interior e muitos candidatos que partem na frente quando as urnas da capital são abertas, acabam sendo ultrapassados quando os votos do interior começam a ser contabilizados. Isso ocorreu em ao menos três das últimas quatro eleições.
Observar essas diferenças e trabalhar em cima delas pode significar a diferença entre a vitória e a derrota nas eleições do próximo ano, quando duas vagas estarão em jogo no Amazonas. Para especialistas em eleição, o eleitorado de Manaus costuma votar pela renovação, enquanto o interiorano é mais conservador.
Em termos numéricos, conforme dados do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) divulgado em outubro deste ano, Manaus concentra 1.431.595 eleitores (52,4%), que votam em 4.027 seções espalhadas pelos 63 bairros. Os demais 61 municípios têm juntos 1.297.819 eleitores, que vão às urnas. Conquistar o eleitorado da capital ou do interior é um desafio que os pré-candidatos têm nessa fase do processo eleitoral.
Braga e o dilema da capital
O senador Eduardo Braga (MDB), que deve disputar a reeleição, sentiu na pele o que é ter de contar com votos oriundos dos rincões para confirmar a reeleição dele em 2018. Naquela eleição ele tomou um vareio do ex-deputado estadual Luiz Castro (PDT) em Manaus, mas garantiu a vitória eleitoral ao ultrapassá-lo quando a apuração já chegava aos 96% dos votos. Naquela eleição, Braga ficou com a segunda vaga ao obter 606.675 mil votos (18,45%), apenas 29.223 votos a mais que Castro.
Naquela eleição o mais votado foi o senador Plínio Valério (PSDB), que também é pré-candidato à reeleição e alcançou 25,36% dos votos (834.535 mil votos). Tanto Plínio quanto Castro venceram Braga em Manaus.
Veterano da política amazonense, onde começou como vereador de Manaus em 1985, Braga sabe que precisa manter o peso eleitoral dele, tanto para dividir votos em Manaus com os demais pré-candidatos, quanto fortalecer a rede de alianças históricas que mantém como um trunfo no interior.
Nesse sentido, Braga não economiza nas emendas parlamentares de execução obrigatória que têm direito de indicar no Orçamento Geral da União de 2026. No total, os senadores do Amazonas vão ter aproximadamente R$ 76 milhões de emendas, sendo que 60% deverão ser empenhadas e pagas até junho de 2026.
Conforme dados da última pesquisa do Instituto Perspectiva, divulgados neste fim de semana, Braga está vendo Plínio Valério se aproximar dele nas intenções de votos em Manaus, com ambos ao menos dez pontos atrás do deputado federal Capitão Alberto Neto (PL), que lidera a intenção de votos na capital.
Plínio Valério e a força do segundo voto
Catapultado ao Senado numa eleição em que o eleitorado de Manaus estava cansado dos “velhos políticos”, Braga e a então senadora Vanessa Grazziottin (PCdoB), Plínio Valério buscará a reeleição tentando manter os votos do eleitorado de Manaus, que lhe garantiu a eleição em 2018, mas com forte inserção nos municípios do interior, principalmente por encampar pleitos antigos das regiões mais distantes, como licenças para mineração em Autazes, reconstrução da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho/RO) e a condenação das operações da Polícia Federal contra garimpeiros em Humaitá e Manicoré, na região do rio Madeira.
A Perspectiva também apura que Plínio deu um salto na intenção de votos em Manaus, colando em Braga, e lidera em todos os cenários de segundo voto no eleitorado total do Amazonas.
Liderança, estratégia e Bolsonaro
O nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para disputar o Senado, o deputado federal Alberto Neto (PL) conta com um bom recall da votação dele para a Prefeitura de Manaus em 2024, quando foi ao segundo turno contra o prefeito David Almeida (Avante). Ele entra na disputa sabendo que precisa levar essa força da capital também para os municípios do interior, evitando repetir o erro de concentrar a força eleitoral apenas em Manaus, como fez o ex-aliado dele, Coronel Menezes (PP), que em 2022 perdeu a eleição para o senador Omar Aziz (PSD) exatamente na reta final quando começaram a entrar na apuração os votos dos municípios do interior.
A Perspectiva apura que, no atual momento, Alberto Neto está com uma liderança folgada de 10% das intenções de votos sobre todos os demais pré-candidatos em Manaus, o que lhe daria, se a eleição fosse hoje, um mínimo de 120 mil votos de vantagem. Já sabendo dessa vantagem, Alberto Neto enviou poucos recursos de emendas parlamentares de execução obrigatória para Manaus, como reclama David Almeida, e direcionou quase tudo para prefeituras do interior. O resultado que a Perspectiva apurou, é que nos principais colégios eleitorais do interior ele é o segundo voto preferido dos eleitores.
Wilson Lima: Visibilidade e a Decisão de Renúncia
Se o governador Wilson Lima (UB) decidir concorrer, terá que renunciar ao cargo de governador até 4 de abril de 2026. A visibilidade dele como mandatário do Estado é uma vantagem, mas precisará equilibrar o apoio na capital e no interior para garantir uma vaga.
Nas duas únicas eleições que disputou Wilson Lima conseguiu equilibrar a votação diante destes dois eleitorados. Em 2018 recebeu mais votos em Manaus do que no interior, lógica que se inverteu quatro anos depois. Para quem olha as pesquisas e vê Wilson fora do jogo, é bom saber que tanto em 2018 quanto em 2022, ele era o “azarão” que acabou com o mandato nas mãos. E olha que a disputa era contra políticos do peso como Amazonino Mendes e Braga, ambos já com vários mandatos de governador e senador pelo Amazonas.
Pelos números da Perspectiva, Wilson Lima está atrás de Alberto, Braga e Plínio em Manaus, mas praticamente divide o eleitorado do interior com Eduardo Braga.
Marcelo Ramos: Reposicionamento à Esquerda
Marcelo Ramos, que não ocupa cargo no momento e se realinhou ao PT, traz um perfil voltado à esquerda e é um aliado do presidente Lula. Ele precisa reconstruir sua base de apoio tanto em Manaus quanto no interior, aproveitando o espaço que o PT tem em algumas regiões do estado.
Com 21%% das intenções de votos na pesquisa da Perspectiva, Marcelo Ramos conta com a rede de apoio e a força de Lula no Amazonas, mas principalmente com uma ação de grande impacto do governo federal ao longo da campanha, como, por exemplo, o licenciamento e início da obra de repavimentação da BR-319, uma obra que é desejo do amazonense há trinta anos.
Marcos Rotta: Dos Bastidores à Busca por Relevância
Marcos Rotta, que já foi vice-prefeito e hoje atua mais nos bastidores, também precisa encontrar espaço para reconectar com o eleitorado. Ele precisará mostrar que ainda tem relevância tanto na capital quanto no interior, já que hoje está mais ligado a cargos no Executivo municipal.
Na última pesquisa, ele aparece com 17% das intenções de votos, mas isso é insuficiente para iniciar um trabalho vitorioso nos diferentes colégios eleitorais da capital e do interior.
Para o diretor-presidente da Perspectiva, Durango Duarte, a pesquisa divulgada neste fim de semana mostra alguns pontos que merecem atenção: “o quadro de estabilidade seguirá até 4 de abril, quando o governador Wilson Lima anunciará se sai candidato ao Senado ou fica para completar o mandato. Outra, é que Plínio Valério entrou no jogo definitivamente. Por fim, se Wilson decidir ficar, os votos dele que são majoritariamente de direita, tendem a migrar para Plínio e assim complicam a reeleição de Braga”.
“Todo este quadro, contudo, depende da decisão do governador”, analisa Duarte.






