A Polícia Civil de São Paulo instaurou nesta quarta (9/4) um inquérito por injúria para investigar a conduta de duas estudantes de Medicina que expuseram e zombaram de uma paciente do Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em um vídeo publicado em 17 de fevereiro no TikTok.
A paciente, uma jovem de 26 anos chamada Vitória Chaves da Silva, foi submetida a três transplantes de coração e um de rim ao longo da vida, e morreu em 28 de fevereiro, dias depois da postagem.
As estudantes de Medicina foram identificadas como Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano. O vídeo foi tirado do ar na terça (8/4). Nele, elas mencionam os três transplantes cardíacos e indicam quando os procedimentos foram feitos — na infância, na adolescência e no início da maioridade, o que coincide com o caso de Vitória.
Elas comentam o caso raro de uma pessoa ter recebido três transplantes de coração e afirmam que a paciente não tomou medicação apropriada após o segundo transplante, o que seria a razão da sua condição.
Uma das estudantes diz com ironia:
“Essa menina está achando que tem sete vidas”.
Veja abaixo:
Polícia investiga alunas de medicina que zombaram de paciente transplantada pic.twitter.com/Yj3fCscsdE
— Rede Onda Digital (@redeondadigital) April 9, 2025
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A repercussão do vídeo
O vídeo das estudantes de medicina viralizou e chegou à mãe de Vitória, Cláudia Aparecida da Rocha Chaves. Na gravação, apesar de não falarem o nome da paciente, Gabrielli e Thaís mencionam os três transplantes cardíacos e indicam quando os procedimentos foram feitos — na infância, na adolescência e no início da maioridade, o que coincide com o caso de Vitória.
A família de Vitória contesta a informação da falta de medicamento após o segundo transplante. Giovana, a irmã dela, afirma:
“Um amigo dela [da Vitória] que mora na Holanda reconheceu a história e nos enviou. Ficamos em choque quando descobrimos. As duas estudantes fizeram estágio de 30 dias na instituição [Incor]. Nem chegaram a conhecer a minha irmã. Nunca foram vê-la. Por conta dessa desinformação, as pessoas passaram a criticar minha irmã”.
Cláudia, a mãe de Vitória, disse à imprensa:
“A gente sempre acompanhou a Vitória. A gente sabia o quanto ela lutava para viver, né? Tanto é que tem um monte de ofício na promotoria de a gente pedindo ajuda com medicação, com passagem para vir no tratamento. Ela nunca faltou a uma consulta sequer, né? E minha filha tinha sede de vida. Tudo o que ela queria era viver. Aí vem uma pessoa e diminui a história dela, eu não aceito, quero Justiça”.
A mãe da paciente registrou Boletim de Ocorrência sobre o caso e acionou o Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o caso é investigado como injúria por meio de inquérito policial instaurado pelo 14° Distrito Policial (Pinheiros).
Até o momento de postagem desta matéria, representantes das estudantes ainda não se pronunciaram.
Em nota encaminhada à reportagem, o Incor afirmou não divulgar dados de pacientes. A instituição afirmou, ainda, repudiar “veementemente” atitudes que violem os princípios da ética e confidencialidade. O instituto acrescentou que apura “rigorosamente o caso mencionado”, ressaltando que “adotará todas as medidas cabíveis”.
Já a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) disse que as alunas atualmente não têm qualquer vínculo acadêmico com a universidade ou com o Incor. As estudantes estavam no hospital em função de um curso de extensão de curta duração (um mês). “Assim que foi tomado conhecimento do fato, as universidades de origem das estudantes foram notificadas para que possam tomar as providências cabíveis”, diz nota.
*Com informações de Metrópoles e G1.