‘Mandiocotone’: Panetone de mandioca vira sensação em Goiás

Marcilene conta que a receita exigiu muito estudo para adaptar a mandioca ao ponto necessário da receita de panetone tradicional — Foto: Divulgação/Cintia Ferreira
Um panetone fora do comum tem conquistado espaço na mesa de Natal dos goianos e despertado curiosidade pelo sabor e pela originalidade. Feito à base de mandioca cultivada no Cerrado, o chamado “mandiocotone” virou sucesso em Goiás ao unir um ingrediente típico da região a uma das maiores tradições natalinas.
O produto é artesanal e foi criado pela produtora rural Marcilene Mariano, que vive na zona rural de Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. Em vez da tradicional farinha de trigo, ela utiliza a mandioca in natura como base da massa. O resultado é fruto de um processo que exigiu estudo, testes e adaptações da técnica clássica do panetone.
“A ideia do mandiocotone já surgiu ali no início do ano com o objetivo de ter valor agregado em produtos em todas as épocas do ano, inclusive no final do ano”, explica Marcilene.
Segundo ela, transformar a raiz em um chocotone artesanal foi um desafio.
“A mandioca pesa muito na massa, muda a estrutura. Foram muitos testes até conseguir chegar nesse ponto em que a massa fica macia, fofinha, soltando aquelas lascas, com sabor suave da mandioca”, comenta a empreendedora.
O recheio escolhido foi um brigadeiro cremoso feito com chocolate 50% cacau, pensado para agradar adultos e crianças. O preparo envolve abrir cuidadosamente o topo do panetone para inserir o recheio, preservando o formato original. A finalização leva uma ganache firme do mesmo chocolate, além de confeitos nobres e bolinhas crocantes.
Inspiração no campo e na história de vida
A inspiração para criar o produto vem tanto da formação quanto da trajetória pessoal da produtora. Criada na roça, Marcilene conta que cresceu em meio à produção de doces caseiros feitos pela mãe e pela avó. Apesar disso, seguiu carreira no direito e atuou na área por 16 anos, até decidir mudar de rumo.
“Quando descobri a minha segunda gestação, decidi que queria voltar para o campo, seguir o meu coração e voltar para as minhas raízes”, relata.
A transição não foi simples. A propriedade da família era uma terra sem estrutura, e os primeiros recursos vieram da produção de doces e confeitarias. Aos poucos, o faturamento permitiu investir no sítio e ampliar a produção.
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Com o tempo, a mandioca se tornou o foco principal. O primeiro plantio teve cerca de 10 mil pés. Hoje, a produção chega a quase 60 mil, o equivalente a aproximadamente 300 toneladas por ano. Parte da colheita é vendida in natura, enquanto o restante é transformado em produtos processados, como chips, bombons, palha italiana, mandiococada, sorvete e agora o mandiocotone.

A matéria-prima usada no panetone vem exclusivamente da propriedade, onde são cultivadas diferentes variedades de mandioca, incluindo cultivares desenvolvidas por instituições de pesquisa.
Segundo Marcilene, o cuidado com os ingredientes é determinante para o resultado final.
“A essência de panetone não é artificial, é extraída de frutas cítricas cultivadas na propriedade. Também utilizamos açúcar mascavo, mel da região e especiarias do campo. Mas o ingrediente principal é uma mandioca fresquinha, de qualidade, com mais amido, ideal para desenvolver uma massa bem aerada”, ressalta.
Para a produtora, ver o mandiocotone chegar à mesa dos consumidores no Natal vai além do retorno financeiro.
“É um produto genuíno, autoral, que reúne a família e traz memórias. Isso realmente me preenche muito”, disse.
Com criatividade, técnica e valorização do ingrediente regional, o mandiocotone transforma a mandioca em protagonista da ceia.

Marcilene já se prepara para inovar em outras datas festivas, mantendo a identidade goiana nas receitas, e planeja desenvolver ovos de Páscoa à base de mandioca.
*Com informações do G1 Goiás.






