Dia Nacional do Livro: iniciativas incentivam leitura e valorizam autores brasileiros

Foto: Reprodução/internet)
Em meio a notificações, vídeos curtos e feeds que não param de girar, abrir um livro ainda é um convite para desacelerar, imaginar e se conectar com o mundo de um jeito único. Em tempos de conteúdo rápido e telas que piscam a cada segundo, a leitura segue como um gesto de resistência e também de afeto.
O Dia Nacional do Livro, comemorado em 29 de outubro, reforça justamente essa importância. A data foi instituída pela Lei nº 10.402, de 14 de janeiro de 2002, e escolhida em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, em 29 de outubro de 1810, lembrando o papel do livro e da leitura na formação cultural e educacional da população brasileira.
Quem entende bem essa força é o professor e autor Jean Suwa, que dedicou boa parte da sua trajetória a incentivar a leitura e valorizar a cultura amazônica. Ele é autor do livro “O Auto do Carão: folguedo das cirandas amazônicas”, uma obra inspirada nas tradições populares da região e nas memórias que atravessam gerações.

Jean acredita que o livro continua sendo um dos pilares mais sólidos da formação cultural.
“Por muitos séculos, os livros foram utilizados como um dos mais importantes meios de transmissão e aquisição do conhecimento culturalmente construído e principal ferramenta de produção científica. Costumamos afirmar que pessoas que têm hábitos da leitura de livros são ‘pessoas cultas’, pela relação do livro com a cultura, ou com o ser culto. Quando se trata da atualidade e a realidade do mundo digital, há pesquisas que apontam um crescimento de vendas de livros físicos, e de abertura de bibliotecas, e isso também está impulsionado por estratégias de marketing e até por questões que só a prática da leitura física é capaz de solucionar, como por exemplo, os problemas de distrações que o mundo digital provoca ao leitor, totalmente o oposto que lemos livros físicos.”
Para o professor, a leitura também é uma porta para a empatia.
“Através da prática da leitura, da literatura, por exemplo, conseguimos ativar partes cerebrais que nos levam a imaginar outros lugares, nos colocar em situações fictícias, buscar soluções, criar expectativas, e em alguns casos, encontrar soluções reais em tais leituras. Diante da leitura, o leitor não é um ser passivo; ele também é capaz de julgar, e quando encontra afeto à ideia de um autor, aprofunda seus estudos a determinados temas ou gênero textual. Portanto, vejo grande potencial de construção crítica de uma pessoa que lê, e que após uma leitura, se posiciona, faz escolhas.”
Desafios da leitura entre crianças e jovens
Mas ele reconhece os desafios de despertar o interesse pela leitura nas novas gerações.
“Estamos diante de uma geração que não lê, que vê a vida de maneira acelerada, estimulada pelas configurações virtuais, que não silencia, não pára, sempre com a sensação de que, se se der um tempo, estará perdendo uma notícia, uma novidade. Isso parece estar na contramão da educação, que requer concentração, silêncio e reflexão. É uma geração ansiosa, imediatista. Estou falando de uma geração de adultos que se depararam com o meio virtual. Óbvio que crianças e jovens sofreriam com tudo isso, por não ver seus adultos lendo, nem que seja um jornal, que agora também é virtual. Por tempos, a leitura era um ato coletivo. O bom é que as editoras diversificam bastante seus gêneros literários e estão atentas ao público infantil e juvenil, o que pode ser uma alternativa para sanar tais problemas.”
Ele também destaca o papel essencial das escolas como espaços de encantamento pelos livros.
“Para algumas crianças e jovens, principalmente em áreas periféricas das cidades, o único acesso à literatura são as escolas. Professores têm um papel fundamental no estímulo, promovendo práticas de leitura, tornando obras literárias cada dia mais vivas com peças teatrais, saraus, rodas de debate e eventos culturais. Agora, o que eu noto é que um espaço pouco reaproveitado dentro das escolas são as bibliotecas e a falta de um profissional da biblioteconomia.”
Preservando a memória cultural
Ao falar sobre sua obra, Jean mostra como o livro também é uma forma de preservar a memória coletiva.
“Costumo falar que, se eu não escrevesse a obra, outra pessoa escreveria, dada a importância cultural do folguedo Auto do Carão para as cirandas amazônicas, a história dos povos ribeirinhos e principalmente para a memória dos sujeitos das cidades, que lembram de todos os personagens e da tradição dos festivais folclóricos. Eu escuto muito de meus clientes que, quando falo do Carão, lembram de quando corriam com medo do personagem cômico que representava a ave nas apresentações de ciranda.”
O maior desafio que encontrou foi justamente a escassez de literatura que descrevesse a dança da ciranda, o que o aproximou ainda mais de sua história e o levou a desenvolver pesquisa acadêmica e projetos culturais como o Ciranda Viva e o Espetáculo Auto do Carão, incentivando oficinas, palestras e apresentações artísticas em escolas públicas do Amazonas.
“A aceitação do público é muito empolgante: cada leitor se identifica com a obra e encontra parte de sua própria história nos personagens, sendo inspirado a contar e registrar novas narrativas.”
No fim das contas, é importante lembrar que o livro é uma herança cultural viva. Ele nos faz pensar, sentir e nos conecta àquilo que somos. Celebrar o Dia Nacional do Livro é celebrar o poder da palavra em transformar vidas.






