Entre os anos de 2008 a 2012, Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva cometeram um dos crimes mais sinistros já investigados pela polícia brasileira. Conhecidos nacionalmente como os “Canibais de Garanhuns”, o trio foi condenado pelos crimes de assassinato, esquartejamento, canibalismo e o uso de carne humana na produção de salgados vendidos à população de Pernambuco.
Por trás dos crimes, havia uma seita de nome obscuro: Cartel, uma doutrina bizarra que pregava a “purificação do mundo” por meio da morte de mulheres consideradas “impuras”. A ingestão da carne das vítimas era, segundo o grupo, um rito de passagem espiritual; um sacrifício necessário para equilibrar os elementos da Terra e abrir um suposto “portal para o paraíso”.
Crimes cometidos com frieza ritualística
O primeiro assassinato registrado foi o de Jéssica Camila da Silva Pereira, em 26 de maio de 2008. Aos 17 anos, a jovem foi atraída com a promessa de abrigo e assassinada friamente dentro da casa do trio, em Olinda. Após ser imobilizada, Jéssica teve a jugular cortada, o sangue drenado com o uso de um garrote e o corpo esquartejado.
A carne foi fatiada, temperada com sal e cominho, e servida grelhada no dia seguinte. O restante do corpo foi enterrado em cruz no quintal da residência. Jéssica tinha uma filha, na época de um ano, e segundo relatos, a criança teria consumido a carne da mãe

Quatro anos depois, já morando em Garanhuns, o grupo voltou a agir. As vítimas dessa vez foram Giselly Helena da Silva, de 31 anos, e Alexandra da Silva Falcão, de 20 anos.

Ambas desapareceram no início de 2012. As carnes das jovens, especialmente das nádegas e coxas, foram utilizadas como recheio de salgados que os criminosos vendiam pelas ruas da cidade.
Moradores relataram ter consumido os produtos, sem imaginar a origem macabra da carne. Alguns apontaram gosto estranho: “muito salgado” ou “pastoso demais”.

A descoberta do horror
A investigação começou após o desaparecimento de Giselly e Alexandra. Pistas surgiram a partir de compras feitas com o cartão de crédito de uma das vítimas, cujos registros levaram a polícia até o trio. Em 11 de abril de 2012, mandados de busca e apreensão revelaram o que havia por trás das paredes de uma casa comum em Garanhuns: os corpos das mulheres estavam enterrados no quintal.
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O depoimento da filha de Jéssica, então com 5 anos, foi crucial. Ela se aproximou da polícia durante as buscas e relatou que o “pai” havia matado duas mulheres. Uma das criminosas confessou, e o local dos restos mortais foi indicado. As vítimas estavam esquartejadas. O rosto de uma delas foi desfigurado.
Após a prisão, a casa foi invadida e incendiada por moradores revoltados, mas o crime já havia se tornado um dos mais chocantes do país. Na residência, também foi encontrada a certidão de nascimento da criança, que vivia com o trio e era usada para sustentar a farsa de uma falsa maternidade.
Fanatismo e esquizofrenia
Jorge Beltrão alegava ouvir vozes e enxergar sinais desde a infância. Em 2008, registrou em cartório um livro com o título “Revelações de um Esquizofrênico”, onde detalhava suas alucinações, o consumo de carne humana e o processo de preparação dos salgados. O texto, marcado por delírios e justificativas esotéricas, revelava a profundidade do distúrbio mental que, segundo a defesa, teria influenciado os crimes.

A seita, segundo o próprio Jorge, planejava cometer uma quarta morte. Cada assassinato correspondia a um dos quatro elementos: terra, água, fogo e ar. O último sacrifício abriria um “portal místico”, encerrando o ciclo ritualístico. O grupo foi preso antes que o plano se concretizasse.
Condenações e penas agravadas
Em 2014, os três foram condenados pelo assassinato de Jéssica. Jorge recebeu 21 anos e seis meses de reclusão, mais um ano e meio de detenção. Isabel e Bruna foram sentenciadas a 19 anos de prisão e um ano de detenção cada.
Em 2018, veio a segunda condenação, desta vez pelos crimes contra Giselly e Alexandra. Jorge foi sentenciado a 71 anos de prisão, Bruna a 71 anos e 10 meses, e Isabel a 68 anos.
As penas foram agravadas em 2019. Jorge passou a cumprir 27 anos e um ano e meio de detenção pela morte de Jéssica, enquanto Isabel e Bruna tiveram as penas aumentadas para 24 anos de reclusão, mais um ano de detenção.