Nesta segunda (10/3), foi divulgada a pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização das mulheres no Brasil“, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto Datafolha, que traz dados alarmantes sobre a violência contra a mulher no país.
Segundo o levantamento, 37,5% das mulheres brasileiras vivenciaram alguma situação de violência nos últimos 12 meses. Esse percentual corresponde a 21,4 milhões de brasileiras com 16 anos ou mais, que enfrentaram o ciclo de violência no período. Trata-se da maior prevalência registrada pelo fórum desde 2017.
Segundo a pesquisa, as vítimas relataram, em média, mais de três tipos diferentes de violência no último ano. As ofensas verbais — como insultos, humilhações e xingamentos — foram as mais comuns, atingindo 31,4% das mulheres, um aumento de oito pontos percentuais em relação ao levantamento de 2023.
Principais tipos de violência contra a mulher
- Ofensas verbais: 31,4% das mulheres relataram insultos, humilhações ou xingamentos, um aumento de 8 pontos percentuais em relação a 2023. Isso representa cerca de 17,7 milhões de brasileiras
- Agressão física: 16,9% das mulheres sofreram batidas, tapas, empurrões ou chutes, a maior prevalência registrada desde 2017. Aproximadamente 8,9 milhões de mulheres foram vítimas desse tipo de violência
- Ameaças de agressão: 16,1% das mulheres foram ameaçadas de sofrer algum tipo de agressão física, totalizando cerca de 8,5 milhões de vítimas
- Stalking: 16,1% das mulheres foram vítimas de perseguição, também representando cerca de 8,5 milhões de brasileiras
- Abuso sexual: 10,7% das mulheres sofreram abuso sexual ou foram forçadas a manter relações sexuais contra sua vontade, afetando aproximadamente 5,3 milhões de mulheres.
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Outro dado preocupante é que nove em cada dez mulheres que sofreram violência no último ano afirmaram que alguém presenciou o crime. Em 27% dos casos, os próprios filhos do casal testemunharam a agressão. Além disso, 47,3% das ocorrências foram presenciadas por amigos ou conhecidos.
Ou seja, 91,8% das brasileiras sofreram agressões que foram testemunhadas por terceiros. Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disse:
“Confesso que me surpreendeu que nove em cada dez mulheres que sofreram violência sofreram na frente de alguém, que quase sempre era conhecido. Só 7% foram na frente de desconhecido, mas quase tudo na frente de alguém, de um amigo, de um familiar, de filho. Isso nos chocou”.
Outras constatações da pesquisa:
- Embora a maior incidência de violência tenha sido registrada entre mulheres de 25 a 34 anos, os números revelam uma alta prevalência em todas as faixas etárias, especialmente dos 16 aos 59 anos. Isso indica que a violência ocorre de diferentes formas ao longo da vida.
- Em quase 70% dos casos, o autor da violência é o companheiro ou ex-companheiro da vítima.
- Os cônjuges, companheiros, namorados ou maridos foram responsáveis por 40% das agressões, enquanto ex-cônjuges, ex-companheiros ou ex-namorados responderam por 26,8%.
- A violência também ocorre dentro de outros laços familiares: Pais e mães foram responsáveis por 5,2% das agressões, padrastos e madrastas por 4,1%, e filhos ou filhas por 3%.
- Na maioria dos casos (57%), a residência da vítima foi o principal cenário. A rua aparece como o segundo local mais recorrente, com 11,6% dos relatos.
- Recorte racial: Entre as mulheres negras, 37,2% relataram ter sofrido violência no último ano. Ao desagregar os dados, verifica-se que 41,5% das mulheres pretas vivenciaram alguma forma de agressão no período, enquanto entre as pardas esse percentual foi de 35,2%. Já entre as mulheres brancas, o índice registrado foi de 35,4%.
- Considerando a situação conjugal, as divorciadas (60,9%) apresentaram prevalência superior à de solteiras (53%), casadas (44,4%) e viúvas (51,8%). Isto é, o rompimento pode ser mais um fator de vulnerabilidade
- Mais de 29 milhões de brasileiras foram vítimas de assédio no último ano, representando 49,6% das mulheres com 16 anos ou mais entrevistadas. Os tipos mais comuns de assédio são: Cantadas e comentários nas ruas, assédio no trabalho, assédio no transporte público.
Para Samira, os números reforçam a sensação de que o Brasil é cada vez um país menos seguro para as mulheres.
*Com informações de Metrópoles e G1.