Como cultivo sustentável de cacau está substituindo a pecuária e ajudando a recuperar a floresta

(Foto: Pixabay)
O crescente valor do cacau nas bolsas de valores, chegando a R$ 65 por quilo da amêndoa, tem despertado o interesse de agricultores familiares amazonenses que estão deixando a pecuária extensiva para investir em sistemas agroflorestais, uma prática que alia produção, sustentabilidade e geração de renda. A mudança além de trazer benefícios econômicos também promove impactos positivos ambientais e sociais e fortalece o setor cacaueiro no estado.
Para estimular essa transição, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) tem coordenado uma série de ações, incluindo a distribuição de mais de 700 mil sementes de cacau nos últimos dois anos. As mudas, produzidas pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, possuem melhoramento genético e são distribuídas com apoio de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), garantindo maior qualidade e produtividade.
Neste ano, o órgão iniciou a entrega de 250 mil sementes a agricultores familiares de 18 municípios, fortalecendo a produção sustentável e ampliando a competitividade regional. “Destes municípios, sete foram selecionados por estarem inseridos dentro do Projeto Prioritário do Cacau. Os outros foram definidos com base em demandas repassadas pelas nossas Unidades Locais nos municípios. A distribuição destas sementes tem permitido desenvolver a produção no estado, tornando-o mais competitivo no mercado nacional”, destacou Luziane Vitor, engenheira agrônoma do Idam.
Atualmente, o Amazonas produz cerca de mil toneladas de sementes de cacau por ano, volume que se manteve estável nos últimos anos, mas que deve crescer com a expansão do plantio, resultando em aumento da renda e melhoria na qualidade de vida dos produtores. “Há três anos, o produtor recebia de R$12 a R$15 por quilo de amêndoa comercializada, e, neste ano de 2025, por essa mesma quantidade, o produtor está recebendo entre R$ 45 e R$ 65. Ou seja, nunca o produtor de cacau havia recebido um valor tão alto”, afirmou Luiz Herval, gerente de Produção Vegetal do Idam.

Modelos mais sustentáveis
O interesse crescente pelo cacau evidencia uma mudança significativa na matriz produtiva da região: a pecuária convencional, que degrada o solo e exige corte de árvores, vem sendo substituída por modelos mais sustentáveis, compatíveis com lucro e preservação ambiental. Para os agricultores familiares amazonenses, o momento representa uma oportunidade de crescimento econômico alinhado à sustentabilidade.
Agroflorestas cacaueiras na Amazônia
Projetos de agroflorestas, como o “Cacau Floresta”, têm mostrado resultados concretos na recuperação de áreas degradadas. No Pará, mais de 2.000 hectares de sistemas agroflorestais com cacau foram implantados, transformando pastagens degradadas em ambientes produtivos e sombreados, que integram árvores, cacau e biodiversidade. Essa conversão não apenas aumenta a rentabilidade, mas também contribui para a conservação do solo e redução da necessidade de expansão de áreas agrícolas.


Impactos ambientais
- Menor desmatamento: ao converter área de pastagem em agrofloresta ou restaurar pasto degradado, reduz-se a necessidade de abrir novas áreas.
- Captura de carbono e serviços ecossistêmicos: árvores no sistema melhoram o solo, aumentam retenção de água e promovem maior biodiversidade.
- Conservação da floresta: o modelo alinha produção agrícola com manutenção de cobertura florestal, o que contribui para estabilidade hídrica, clima local e global.
Benefícios econômicos para o produtor
- Melhor valorização da produção: O retorno dos produtos cultivando cacau sustentável e rastreado tende a ser maior.
- Menores custos de abertura de pastagem (que requer corte, preparo, adubação, manutenção).
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Possibilidade de melhor uso do solo degradado ou marginal, transformando-o em fonte de renda.
Desafios
- Transição exige investimento inicial em muda, assistência técnica, manejo agroflorestal.
- Pecuária ainda conta com infraestrutura de mercado e padrão histórico forte.
- Manter sustentabilidade, rastreabilidade e evitar que o modelo vire mais uma monocultura oculta requer vigilância.







