A deputada federal Erika Hilton (PSOL) voltou a falar sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que busca o fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho no país. Em entrevista ao Alt Tabet, do Canal UOL, Erika revelou que foi inicialmente tratada como “louca” por colegas e críticos ao propor mudanças tão profundas na rotina de milhões de trabalhadores brasileiros.
A deputada preside uma subcomissão criada especificamente para debater a redução da jornada de trabalho com diferentes setores da sociedade.
Apesar da reação inicial, a proposta de Erika Hilton ganhou força a partir do engajamento popular nas redes sociais. Segundo ela, a mobilização virtual foi determinante para que o debate ultrapassasse o campo das ideias e se tornasse uma pauta concreta dentro do Congresso Nacional.
“Há, sim, um clima possível de ser aprovado. Quando essa pauta começou, eu fui tratada como louca por todos. Falaram: ‘lá vem mais uma invenção de Erika Hilton’. As pessoas não davam muita credibilidade, mas eu tenho uma boa comunicação nas redes sociais e, de repente, aquilo que era tratado como loucura de uma deputada de esquerda, o jogo virou”, disse.

Erika revelou ainda que, para conquistar apoio político, foi pessoalmente ao Palácio do Planalto, onde conversou com ministros e com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Depois disso, entenderam a importância dessa movimentação e o governo aderiu ao movimento”, explicou.
Inspiração para a PEC
A proposta não surgiu do nada. Erika Hilton contou que foi procurada por um movimento já consolidado, o Vida Além do Trabalho, que apresentou a ideia de reduzir a carga horária semanal no Brasil. A partir desse contato, a deputada mobilizou sua equipe técnica para avaliar o melhor instrumento legislativo. Concluíram que seria necessário alterar a Constituição Federal e, consequentemente, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Assim, nasceu a PEC da jornada de trabalho.
“Tudo é fruto de articulação política. Foi preciso muita conversa, bater na porta, insistir, falar com ministros… Eu não parei e não vou parar enquanto o Brasil não aprovar uma redução da jornada de trabalho. Essa é uma pauta do Brasil”, garantiu Erika Hilton.
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Deputada rebate argumentos contrários
Críticos da proposta afirmam que a redução da jornada de trabalho pode prejudicar a economia nacional. Para Erika, esse discurso é repetição de velhas práticas de resistência a direitos básicos.
“Os mesmos argumentos usados agora, argumentos falaciosos e aterrorizantes, foram usados igualmente para combater a abolição da escravatura, a criação da licença-maternidade, as férias remuneradas, o décimo terceiro. Todas as vezes em que se olhou para a classe trabalhadora e se discutiu políticas de emancipação e dignidade, o discurso daqueles que sempre mandaram é o mesmo: de que vai destruir o país e a economia”, criticou.
A fama de “barraqueira” e o estereótipo político
A deputada federal também comentou sobre sua fama de “barraqueira”, imagem propagada por opositores, sobretudo nas redes sociais. Erika Hilton rebate o rótulo e explica que costuma adotar posturas mais incisivas quando é alvo de ataques ou quando seus representados são desrespeitados.
“Não sou uma deputada raivosa o tempo todo. Em alguns momentos eu tenho brigas mais enérgicas porque a temperatura subiu. Na maioria das vezes só respondo, devolvo as violências praticadas contra mim, contra meu povo, contra os grupos que eu defendo. Eu não começo um discurso brigando. Eu sou diplomata, republicana, acredito no diálogo, na importância de visões de mundos diferentes e que elas possam conversar para encontrar um denominador comum”, destacou.

Erika resumiu o comportamento que adota no Congresso:
“Barraqueira é um estereótipo que esperam de mim, mas eu já quebrei esse estereótipo. Já mostrei que gosto de diálogo, que sei me comportar e respeitar o cargo que ocupo, mas também sei me comportar como uma selvagem quando eles se comportam como selvagens. Eu sou uma camaleoa”.
Ataques à comunidade trans e uso político da transfobia
Além dos desafios enfrentados no campo trabalhista, Erika Hilton segue sendo uma das vozes mais ativas na defesa dos direitos das pessoas trans no Brasil, tema frequentemente explorado por setores conservadores para mobilizar suas bases.

Ela denuncia que pessoas trans são transformadas em “bode expiatório” por políticos de extrema-direita, que usam a transfobia como instrumento para espalhar medo e ódio na sociedade.
“Nós, pessoas trans, viramos o bode expiatório da direita no mundo, não só no Brasil. Somos [taxadas] como o terror social, familiar, moral. Um pânico construído pela boca dessa gente para amedrontar a sociedade, para nos combater, porque estão preocupados com os movimentos que somos capazes de fazer mesmo diante de tanta desigualdade, precariedade”, afirmou.