A Globo enfrenta uma polêmica ligada à diversidade após cortar o discurso da deputada Erika Hilton minutos antes da entrada da escola de samba Paraíso do Tuiuti na Sapucaí, durante os desfiles do Carnaval 2025. A parlamentar iniciou as homenagens a Xica Manicongo, tema do enredo da agremiação, mas sua fala foi interrompida na transmissão da emissora na terça-feira (4).
Erika Hilton entrou na avenida representando Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil. Escravizada no Congo e trazida ao Brasil no século XVI, Xica foi queimada viva, simbolizando a violência contra pessoas trans e a comunidade LGBTQIA+ ao longo da história. Em seu discurso, Erika declarou:
“O primeiro país do mundo que ainda matam mulheres como Xica Manicongo terá que olhar a sua história sendo recontada. Jogaram o corpo de Xica na fogueira na tentativa de calar os corpos trans, a diversidade e a comunidade LGBT. (…) Sociedade racista, transfóbica, lgbtfóbica, nós ainda estamos aqui”.
Confira o discurso:
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No entanto, no momento da fala, a emissora optou por exibir a repórter Mariana Gross improvisando comentários sobre os materiais utilizados nas alegorias e carros da escola. Nas redes sociais, o corte do discurso foi amplamente criticado, com internautas acusando a Globo de transfobia.
“A transfobia da Globo colocando a repórter pra falar sem parar bem na hora do discurso histórico da Erika Hilton”, comentou um usuário.

Outro destacou: “Podem cortar, silenciar, desviar o foco… Não adianta! É força, é representatividade, é história viva sendo escrita”.

Até o momento, a Globo não divulgou uma explicação oficial sobre a decisão de cortar a fala de Erika Hilton.
Erika Hilton desfila na Sapucaí
A escola de samba Paraíso do Tuiuti levou para a Marquês de Sapucaí uma homenagem histórica a Xica Manicongo, reconhecida como a primeira travesti do Brasil. O desfile, realizado na terça, além de Erika Hilton, a deputada fedederal Duda Salabert (PDT-MG), a vereadora Amanda Paschoal (Psol-SP) e a deputada estadual Dani Balbi (PCdoB-RJ) desfilaram.

Para conciliar sua agenda política com os ensaios da escola, Erika Hilton revelou ter se dedicado intensamente ao papel na comissão de frente.
“Tive que dividir a vida de deputada com a vida de comissão de frente, mas eu acho que eu dei o meu melhor, que foi lindo, que eu fiz aquilo que esperava de mim. Me entreguei de coração pela Tuiuti, por mim, pelas pessoas trans, pela comunidade LGBT e pela memória de Xica Manicongo”, disse Hilton.
A homenagem a Xica Manicongo trouxe um samba-enredo forte e representativo, abordando a história de luta e resistência das pessoas trans no Brasil.
“O Carnaval brasileiro, que é o maior espetáculo do mundo a céu aberto, leva para a avenida do Rio de Janeiro um samba em primeira pessoa dizendo ‘eu travesti’. Xica Manicongo segue viva em cada travesti que vive nesse país. A história de Xica Manicongo é uma história de luta, de garra, de resistência, de rebeldia, de perseverança, assim como é o Carnaval”, completou.