O líder do União Brasil na câmara, Elmar Nascimento (BA), desde antes do governo Lula anunciar os ministros que fariam parte do seu governo, em dezembro, já indicava que a sigla não seria base fiel do presidente na casa
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Passados quase sete meses, a independência do União Brasil tem se confirmado com o resultado em votações contrárias ao governo. A sigla, que tem 59 deputados na câmara, foi fundada em 2021 a partir de uma fusão entre os antigos PSL e Democratas – o primeiro, inchado nos últimos anos após eleger o presidente Jair Bolsonaro, e o segundo, historicamente ligado à centro-direita no país.
Nos bastidores, deputados de partidos do Centrão apelidaram a sigla de “Desunião Brasil”, pela forma como muitas vezes a bancada se divide. Isso se deve também ao fato de o partido ter origem em duas siglas de identidades diferentes.
Os três ministros
Ainda nas negociações anteriores à posse, Lula anunciou três ministros para a cota do União Brasil: Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), Juscelino Filho (Comunicações) e Daniela Carneiro (Turismo). As escolhas, no entanto, não tiveram boa recepção na Câmara. Para a bancada do partido na Casa, duas dessas pastas não deveriam ser consideradas como parte da cota da sigla:
- O Ministério do Turismo, chefiado pela deputada Daniela Carneiro (União-RJ). A ministra é vista como “cota pessoal” de Lula, já que seu marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho Carneiro, foi fundamental na campanha do presidente no estado. Além disso, Daniela já pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a desfiliação do partido;
- e o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, comandado por Waldez Góes, licenciado do PDT. Ex-governador do Amapá, o ministro é indicação do senador Davi Alcolumbre (União-AP) e não é filiado ao partido.
- O outro membro do partido na Esplanada, o ministro das Comunicações, o deputado licenciado Juscelino Filho (União-MA), foi mantido no cargo mesmo diante de acusações de uso indevido de recursos públicos. Isso, no entanto, não foi suficiente para garantir os votos do União ao governo.
Em uma tentativa de fidelizar os apoios na Câmara, governistas já defendem uma reforma ministerial. Mas o desgaste na formação das pastas se junta a outras insatisfações do União Brasil com o governo, como a demora na liberação de emendas e falta de diálogo com ministros do Planalto.
Votações contra o Governo
PL das Fake News
A maioria dos deputados (28) da sigla, porém, votou contra. Outros 12 sequer votaram.
Em linhas gerais, o texto responsabilizava as plataformas digitais por negligência no combate à desinformação e punia a divulgação de conteúdos falsos por meio de contas automatizadas.
Como ainda não há apoio suficiente para a votação do mérito, o texto ainda não foi analisado — somente o requerimento de urgência.
Derrubada do decreto do saneamento
O União Brasil não deu nenhum voto a favor do governo Lula na análise do projeto que derrubou trechos de dois decretos do presidente que atualizavam o marco legal do saneamento básico.
Na votação, 48 deputados votaram a favor da derrubada e 11 não votaram.
Marco temporal
A bancada do União Brasil na Câmara deu ampla maioria de votos a favor do texto que limita a demarcação de terras e fragiliza uma série de direitos dos indígenas, aprovado na última semana na Casa. O resultado contraria orientação do governo Lula.
Dos 50 votantes do partido, 48 foram pela aprovação do texto (81,4%). Dois foram contrários ao projeto. Nove deputados não votaram.
Mudança no arcabouço fiscal
Após ter votado de forma ampla a favor do texto-base do arcabouço fiscal, proposta elaborada pelo governo para substituir o teto de gastos, quase todos os deputados do União Brasil votaram pela aprovação de um destaque que retiraria R$ 26 bilhões do Executivo em 2024.
Na ocasião, 54 deputados do União foram a favor do destaque do PL
CPI do MST
A CPI que investiga a atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), planejada pela oposição com objetivo de desgastar o governo, contou com o apoio de 28 deputados do partido. Para ser criada, uma CPI precisa da assinatura de 171 parlamentares.
A título de comparação, partidos que não integram a base aliada a Lula e não têm ministérios foram mais fiéis ao governo nessa votação:
PP: 35 deputados votaram a favor do governo e nove contrários;
e Republicanos: 37 a favor do governo e quatro votos contra.