O sociólogo Leonardo Pinho, ex-diretor do Ministério dos Direitos Humanos, veio a público com denúncias de assédio moral e ameaças durante o ano de 2023, enquanto trabalhou na pasta sob o comando do agora ex-ministro Silvio Almeida. Ele foi demitido pelo presidente Lula na semana passada, após denúncias de assédio sexual contra mulheres, incluindo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Pinho falou ao jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles. Segundo o ex-diretor, os dois haviam se aproximado durante a transição de governo, quando Pinho foi convidado por Silvio Almeida para assumir a Diretoria de Promoção dos Direitos da População em Situação de Rua. Ao longo de 2023, a boa relação foi dando lugar a conversas mais tensas no gabinete do então ministro, sempre que Pinho contrariava alguma prática de Almeida.
A situação foi se escalando, a ponto de o agora ex-ministro passar a gritar, xingar e bater no próprio peito e na mesa enquanto se dirigia a seu subordinado.
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Numa reunião em outubro de 2023, Pinho levou a Almeida queixas que ouvia no Ministério da Igualdade Racial, com quem tinha reuniões de trabalho, sobre a relação ruim entre o ministro e Anielle Franco. Foi quando o ex-ministro explodiu. Pinho disse:
“O ministro ficou descontrolado, transtornado, quando mencionei a Anielle. Me falou: ‘Você está insinuando o quê? Sou ministro de Estado, você é um merda’. Fiquei sem entender e tive medo de ele me agredir”.
Cinco meses antes, em maio daquele ano, segundo relato de Anielle a outros ministros, Silvio Almeida teria passado a mão em sua perna por baixo da mesa, em uma reunião no Ministério da Igualdade Racial.
O ex-diretor também detalhou outro episódio de descontrole do então ministro:
“O ministro me chamou para o gabinete dele, me disse que eu era incompetente e uma vergonha. Deu murros na mesa, bateu no próprio peito, foi agressivo, gritou, levantou da cadeira dele e veio do meu lado, a uns 20 centímetros, para me intimidar. Pensei que ele ia me agredir, me dar um soco”.
Ele também disse ter recebido uma ligação ameaçadora pelo telefone, no último dia 5, horas após Amado ter publicado a matéria com acusações de assédio sexual contra o ex-ministro, para a qual o ex-diretor colaborou sob condição de anonimato: Pinho dirigia na Rodovia dos Bandeirantes, indo para sua casa na capital paulista, quando recebeu a ligação de um número desconhecido, de uma voz masculina, em tom de ameaça: “Não vou aceitar. O complô vai ser desmantelado. Para de falar. O Silvio é sócio de grandes escritórios de advocacia. É sócio do Walfrido Warde”. E então a ligação foi encerrada.
Walfrido Warde é um famoso advogado, principal sócio de uma grande banca de advocacia e sócio de Almeida na advocacia antes de o ministro entrar para o governo Lula.
Desde a sua exoneração, mais mulheres têm vindo a público com denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida. A Polícia Federal está apurando as denúncias.
Pinho, que atualmente é candidato a prefeito na cidade de Valinhos (SP) pelo PT, termina seu relato afirmando:
“No governo Bolsonaro, tive reuniões com a Damares Alves, então ministra de Direitos Humanos, e com o general Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde. Nunca fizeram algo parecido comigo. A relação tinha uma institucionalidade mínima. Imagina ver isso do Silvio, alguém que você ajudou a construir para o cargo, alguém por que você se dedicou, você acreditou. É doloroso, pessoalmente falando. É um baque. Eu ajudei o Silvio a chegar ao ministério, defendi o projeto. Sei que não deveria, mas estou até me sentindo corresponsável. 2023 seria o ano do sonho, de voltar a algum grau de civilidade no Brasil. E aí eu recebo a incivilidade. Apenas estou relatando o que passei, o que eu vi. Sinceramente, estou com medo”.
Com informações de Metrópoles.